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sábado, 28 de novembro de 2020

Lido: O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago

A 16 de novembro, assinalou-se a data de nascimento de José Saramago. E a Ana Lopes do canal  O Sabor dos Meus Livros decidiu arrancar com o projeto Voltar a Saramago (#voltaraSaramago), como forma de homenagem ao nosso único Nobel da Literatura. 

Neste mês, o desafio era ler um (ou mais) livro(s) de Saramago. Tinha dois cá em casa ainda por ler: O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim. Optei pelo primeiro. Esta leitura serviu também para a maratona Estações Literárias (categoria "livros com mais de 400 páginas") e para os projetos "Luz de Outono" (letra O) e "Português é Bom" (letra O). E voltar a Saramago é voltar a um local que me deixa feliz - o tema do Clube de Leitura a que pertenço tinha como tema de novembro: livro que nos deixa confortável. Na mouche!

Que livro, senhores... que... livro!!! Spoiler alert: Jesus morre no fim. Caso não tenham conhecimento disso. 

O Evangelho segundo Jesus Cristo é um "retelling" da história que conhecemos, mas com umas "ligeiras" diferenças. Por exemplo: Maria, a mãe de Jesus, já não era tão virgem quanto nos diziam, Maria Magdala e Jesus viviam como casal, Lázaro não foi ressuscitado, foi Jesus quem pediu a Judas para dizer aos romanos onde o encontrar, um Diabo que não era assim tão diabólico quanto isso... entre outras pequenas liberdades a que Saramago se permitiu, naquele seu estilo tão próprio.

Escrito em 1991, foi, obviamente, uma escandaleira neste nosso Portugal cristão e conservador. Mas a verdade é que o livro, ficciona - e sublinho o "ficciona"!!! - uma parte desconhecida de Jesus: a adolescência e a sua vida enquanto jovem adulto. Daquilo que é conhecido, Jesus foi criança e depois, surge, na casa dos 30 anos, sem sabermos o que se passou nesse intervalo de tempo. E o que Saramago faz é dar corpo a um rapazinho que se fez homem. E é nessa humanidade que o autor insiste. 

Como ateu que era, Saramago foi então o alvo da Igreja Católica, por ter ousado escrever sobre Jesus. Mas, a verdade, é que o livro em nada difere, por exemplo, de O Código Da Vinci. Dan Brown também especulou, também fez um exercício de imaginação para preencher espaços em branco... 

Gostei muito desta leitura. Saramago tinha um sentido de humor extraordinário e uma forma de escrita muito inteligente. As conversas que envolvem o Diabo são muito interessantes, na medida em que, no nosso imaginário, ele seria mau, perverso e corrupto; no entanto, aqui, é ele quem tenta "meter água na fervura" nas intenções de Deus. No fundo, é só um tipo que não se chateia com grande coisa, e só quer que não o macem, e o deixem sossegado com as suas ovelhas. 

Não sei se iria ser capaz de destacar um momento-chave deste livro, porque, no fundo, gostei de tudo. O próprio tom com que a história é narrada, como se Saramago estivesse ao nosso lado. Não é simples de ler, como quase todos os livros dele. É um livro que não vai ser lido num dia ou dois - levei precisamente 11 dias, e é um livro que precisa de ficar em repouso depois de ser lido para maturar e o absorvermos. 

O Evangelho segundo Jesus Cristo só confirmou José Saramago como o meu autor nacional preferido. Não há nenhum escritor português de quem tantos livros já tenha lido. 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Lido: A Teoria de Tudo, de Jane Hawking

Aviso à navegação: tenho sentimentos (muito!!!) contraditórios acerca deste livro. Nele, vamos seguir a história de Jane e Stephen Hawking, sob a perspetiva dela. Como se conheceram e começaram a namorar, até ao casamento e aos filhos, as dificuldades, a fama e as dificuldades depois da fama... e, se por um lado, gostei imenso de saber mais sobre a vida daquele que viria ser considerado um dos maiores génios da Humanidade, por outro lado, fiquei com os nervos em frangalhos por causa da falta de reconhecimento pela dedicação dela. 

Jane já conhecia Stephen, de vista, da escola. Só quando estavam nos seus 20's é que foram, oficialmente, apresentados. Jane, a personalização da timidez, desenvolveu uma paixão pelo jovem Stephen, quando a doença já havia começado a manifestar-se. 

Apesar de lhe ter sido comunicado que a esperança de vida de Stephen seria curta, Jane aceitou casar-se com ele, ciente que poderia vir a ficar viúva. Contrariando todas as expetativas, tiveram 25 anos de vida em comum e três filhos. 

Nessas mais de duas décadas, Jane foi tudo para Stephen: esposa, companheira, secretária, contabilista, gestora, enfermeira, cuidadora... sem nunca se queixar. Dela, naquele tempo, esperava-se que fosse a esposa modelo. Os desabafos eram relevados para segundo e terceiro planos. Foi acusada, pela família dele, de ser egoísta e de traidora. E, mesmo assim, manteve-se firme, até ao dia em que ele a deixou por uma enfermeira. 

Quanto ao conteúdo: houve partes que passei à frente. Momentos em que Jane descrevia, exaustivamente, teorias e estudos de Stephen, ou explicações que recebia de outros físicos... se eu quisesse saber das teorias dele, lia os livros dele.

As partes das memórias, gostei, sim senhora. As partes teóricas, não gostei. Gostei do início da relação de ambos e da forma como Jane falava da admiração que sentia pelas conquistas de Stephen. Não gostei da forma como a família dele a tratava. Gostei da coragem de se manter firme. Não gostei da forma quase subalterna com que se deixava tratar, mesmo por ele. É todo um conjunto de coisinhas que me encanitam. Era a vida deles, são as memórias dela... e sei, claro, que cada moeda tem dois lados, mas esta foi a que ficou perpetuada em livro (e filme). 

Esta leitura foi feita para a maratona Estações Literárias (categoria "livro que se passe na Universidade") e projeto "Luz de Outono" (letra T). 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Lido: O Gato Preto, de Edgar Allan Poe

 No mês de outubro, o tema da leitura do Clube a que pertenço era "terror / horror", e uma das categorias da maratona Estações Literárias era semelhante. Dado isso, peguei num dos poucos títulos que tenho nas prateleiras desses géneros - O Gato Preto, de Poe, em BD. 

O livro é constituído por 8 contos / short stories: 

- O gato preto;

- Manuscrito encontrado numa garrafa;

- O barril de Amontillado;

- O enterro prematuro;

- O retrato oval;

- A verdade no caso do sr. Valdemar;

- Hop-Frog; 

e

- O coração revelador. 

E devo dizer que o senhor tinha uma valente fixação por colocar pessoas a morrer da pior forma possível: emparedados ou enterrados vivos. Por se tratar de um livro "aos quadradinhos" retirou, em parte, a componente terrífica do livro, mas tornou-a visual, o que é bom dado que assim não perdi sono com o cérebro a tentar colocar em imagens aquilo que iria ler. 

Gostei bastante, devo confessar. Não estava à espera de apreciar tanto quanto gostei, porque, normalmente, o horror / terror é, para mim, terreno inexplorado e pantanoso, mas talvez o facto de ser acompanhado pela imagem me tivesse ajudado. 

Esta edição é antiquíssima. Comprei-a há imenso tempo, penso que, numa Feira do Livro em Leiria, e tendo em conta que já não vivo lá há mais de 10 anos... é só fazer as contas! 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Lido: Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira

 Podia contar aqui uma história elaboradíssima sobre como cheguei a este livro, mas estaria a mentir. A verdade é que procurei, propositadamente, um livro que se passasse no Outono, uma das categorias da maratona Estações Literárias, e que, ao mesmo tempo, servisse para o projeto Luz de Outono. E enfiei na cabeça que tinha de ser um autor português - saberá lá Deus explicar porquê esta minha teimosia!!! 

Parecia a Penelope do Criminal Minds a cruzar categorias no computador. E a verdade é que na lotaria calhou Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira. Sabia rigorosamente ZERO desta obra. E foi uma agradabilíssima surpresa. 

Álvaro Silvestre é um homem de posses e encontra-se casado com Maria dos Prazeres, filha de um fidalgo. O casamento havia sido combinado, dado que a família de Maria dos Prazeres estava na ruína. Não era portanto em feliz enlace. Mas isto haveremos de saber umas páginas adiante, já que o livro abre com Álvaro Silvestre a entrar na redação do jornal da terra, insistindo em publicar uma nota de culpa, sua culpa, sobre todos os erros cometidos na sua vida, instigado pela esposa. Maria dos Prazeres surge, de repente, e alega que o marido estará perturbado e voltam para casa. 

Maria dos Prazeres deita o olho ao cocheiro e isso não lhe passa despercebido. Numa noite de bebedeira, Álvaro sai de casa, e ouve o mesmo cocheiro e Clara, a filha do oleiro, deitados no palheiro. Ouve então o cocheiro a gabar-se dos olhares da patroa, e os dois amantes a falar na gravidez que a rapariga tem vindo a esconder de todos. 

No dia seguinte, conta tudo ao pai de Clara, como forma de vingança. E é, nesse instante, que a bola de neve dos acontecimentos começa a rolar, e a crescer até ao desastre final. 

Não conhecia o autor, nem a obra, como disse anteriormente. A vida de aldeiazinha de interior, as vivências de aparências, as regras sociais, a pobreza, os rigores da terra, as desigualdades, a iliteracia... isto era o Portugal no regime salazarista (e ainda fico surpresa quando oiço "No tempo de Salazar é que era..."). E é esse o Portugal aqui descrito. 

Gostei imenso desta leitura. Não é fácil - trata-se de um livro bastante complexo, e é necessário ter alguma paciência para conseguir lê-lo. Às vezes, o autor usa de uma linguagem mais intrincada, e conversas entre as personagens que podem ser complicadas de seguir. Houve alturas que tive de voltar atrás e reler passagens inteiras para conseguir prosseguir, mas valeu cada instante. 

***

Um pouco de contexto retirado de https://ensina.rtp.pt/

"Nascido na cidade brasileira de Belém do Pará, em 1921, Carlos de Oliveira vem com dois anos viver para Nossa Senhora Das Febres, no norte de Portugal e, mais tarde, vai estudar para Coimbra, onde se destaca “entre aqueles que não aceitam que a literatura viva debaixo de um regime ditatorial de um país oprimido”. Dentro de si tem os camponeses pobres da sua aldeia, as histórias de desigualdades, os números impensáveis da mortalidade infantil e a crescente onda de imigração. São estes anos em Febres que, como diz um dia, tatuaram nele uma consciência social.

Quer na prosa como na poesia, o autor inscreve essa marca que faz dele um dos pioneiros do neorrealismo em Portugal ao lado de Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e Mário Dionísio. Como poeta e ficcionista, Carlos de Oliveira publica dezenas de livros; obras marcantes como “Descida aos infernos”, “Micropaisagem”, “Finisterra: paisagem e povoamento” e este “Uma abelha da Chuva”, de que trata o documentário que aqui trazemos, ilustrado com imagens da sua adaptação cinematográfica por Fernando Lopes."

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Lido: A Última Noite em Lisboa, de Sérgio Luís de Carvalho

 No início da pandemia, lá para Março/Abril, a editora Clube do Autor ofereceu um ebook a quem o solicitasse, via mail, de um conjunto de títulos. Euzinha, como estou interessada em explorar a escrita de Sérgio Luís de Carvalho, optei por este A Última Noite em Lisboa - comprovando-se assim que é um dos meus autores favoritos no género ficção histórica.

Tal como disse no post anterior, o nosso protagonista é Henrique, um jovem jornalista que trabalha numa revista portuguesa, simpatizante nazi. Estamos em Lisboa, e a cidade fervilha com as notícias vindas da guerra. Henrique conhece então a sua vizinha, Charlotte, uma refugiada austríaca, com um passado (e presente) muito misterioso(s). 

Charlotte torna-se amiga de Henrique e de Maria Carolina, namorada do rapaz, e abre-lhes os horizontes que a sociedade portuguesa de então teima em esconder-lhes. Mas, não podemos esquecer que o ambiente em que Henrique trabalha e as pressões constantes para se afirmar fiel aos valores defendidos pela sua entidade patronal. Existe, portanto, um enorme conflito. 

Este é o ponto de partida de um livro bem escrito, muito interessante e que nos dá uma perspetiva de uma fatia da sociedade portuguesa que ansiava pela vitória nazi naquela que foi a II.ª Guerra Mundial.

O tema, só de si, já me fascina. E, durante todo o livro, imaginava as cenas que ia lendo, a preto-e-branco como no Casablanca (filme que, por acaso, o nosso trio vai assistir na estreia em Portugal). Ou talvez fosse o facto de Henrique ser um ávido leitor de policiais noir e fã de Sam Spade - daí a ligação ao livro O Homem Sombra de Dashiell Hammett. Mas, ao mesmo tempo, imagino os locais frequentados pelo refugiados ricos e pelos espiões como sendo locais de música e cor. A ostentação do dinheiro estrangeiro vs. o provincianismo de um Portugal dos anos 40, que ainda assim teve a sorte de ser um espectador de um dos conflitos mais letais da História. 

Sérgio Luís de Carvalho é - ou pelo menos, suponho que seja - um investigador fantástico, porque tanto escreve um livro destes que alude à II.ª Guerra Mundial, como escreve um livro cuja ação se passa no século XVI, e ambos com uma riqueza de pormenores que quase diríamos que eles esteve lá para ver... vou continuar, portanto, a explorar este autor. A Última Noite em Lisboa é o 4.º livro que leio dele, e esta leitura foi incluída na lista da maratona Estações Literárias, na categoria "género favorito" e no projeto "Luz de Outono" (letra "U"). 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Lido: O Homem Sombra, de Dashiell Hammett

Nota prévia: este post tem estado nos rascunhos há precisamente um mês! Nada como uma boa pandemia para nos deixar desmotivados!

***

Ahhh, os bons e velhos policiais noir. Que saudades! Não há nada melhor do que um bom detetive que se está nas tintas (ex-detetive, para ser justa). 

Nick Charles aposentou-se da vida de detetive. Casou e assumiu a administração da empresa da família da (inteligentíssima) esposa, Nora. Antes do Natal, o casal vai a Nova Iorque e lá encontra uma jovem, filha de um antigo cliente de Nick, que está desaparecido. Pouco depois, é encontrado o corpo da secretária do desaparecido, e todas as pistas apontam para ele.

Mulheres bonitas, hotéis elegantes, mentiras, glamour... é disto (e muito mais) que é feito este livro. E foi um prazer enorme.

O escritor Dashiell Hammett era considerado o pai do romance policial americano, e foi um dos pioneiros da literatura noir. Sobre este livro, foi publicado nos anos 30 (do século XX, claro!) em forma de folhetins. E é engraçado que, sem o saber, fiz uma ligação com o livro que li a seguir - Dashiell foi também autor de "O Falcão de Malta" (reeditado na coleção Vampiro e que mora nas minhas estantes), um dos livros que o protagonista de "A Última Noite em Lisboa" lê avidamente, na Lisboa dos anos 40; Henrique é, aliás, fã de Sam Spade, o detetive desta obra. Mas isto será tema para outro post... 

Para já, fica apenas a dica - se não estão com vontade de ler aqueles thrillers pesadões, macabros e doentios, mas se lhes apetece algo "by the book", basta experimentar quem inventou a receita. O Homem Sombra dá-nos aquele requinte dos anos 30, com a esperteza dos detetives "noir". Este livro foi comprado na Feira do Livro de Lisboa há três anos, e é uma publicação da Porto Editora. 

Encaixei esta leitura na maratona Estações Literárias, na categoria "Policial ou Thriller". 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Lido: Os Blumthal, de José Milhazes

Este não será um post simples de escrever, porque também não foi um livro simples de ler. O autor, José Milhazes, é jornalista, historiador e tradutor. Em finais dos anos 70, foi para a Rússia e por lá ficou uns anos. Constituiu família, e por volta dos anos 90 torna-se correspondente, primeiro, do jornal Público, e depois de outros meios de comunicação portugueses. Apenas em 2015 regressa definitivamente a Portugal. 

Fiz esta introdução porquê? Para demonstrar que a sua ligação à Rússia e à História estão mais do que patentes nas obras que escreveu. E este livro, por ser ligeiramente diferente dos demais da sua autoria, chamou-me a atenção. 

José Milhazes pretendeu contar a história da família da sua esposa, Siiri, que está intimamente ligada à construção da Rússia como a conhecemos hoje. Não é tanto um livro meramente político, nem meramente histórico, nem apenas só de memórias, nem uma biografia só por si mesma - é um bocadinho disto tudo. 

Desde passagens por campos de concentração alemães, enquanto comunistas, passando por campos de trabalho na Sibéria, sob acusações de traição, passando por execuções sumárias... foram vários os membros da família que foram vítimas de dois dos piores sistemas políticos do século XX.

Através de entrevistas e investigação documental, foi possível reconstituir os passos de Erich Sõerd e Leida Holm, os avós de Siiri, que lutaram por uma sociedade melhor na sua Estónia natal (que passava pela introdução do comunismo soviético ativo), quando este território fazia parte da União Soviética. 

Apesar de dar uma "achega" a vários familiares, Erich e Leida são o ponto central desta viagem, sendo que Leida que sobreviveu ao marido (ele faleceu durante a 2.ª Guerra Mundial, durante o cerco militar das forças nazis à cidade de Leninegrado e ela faleceu no início dos anos 80) é a protagonista trágica da história desta família. 

A maior dificuldade que encontrei tem origem no meu desconhecimento sobre a História russa. Quero dizer, não sou burrinha e conheço os "mínimos olímpicos", mas foram tantas as datas, locais e nomes, que acabava por me sentir, às vezes, meio perdida. O trabalho de investigação está brilhante - o que não é de estranhar, como é óbvio, tendo sido este livro escrito por quem foi. 

Gostei mesmo muito desta leitura. Sinto que aprendi um pouco mais sobre a União Soviética, sobre os gulags e sobre o tratamento que Estaline e os seus davam a quem não seguisse cegamente os seus intentos. Quem questionasse, quem duvidasse... era-lhe colado o selo de "contra-revolucionário" e as dificuldades estavam apenas aí a começar.

Li Os Blumthal para a maratona Estações Literárias (categoria autor nacional) e para o Português é Bom (letra B). 

Os Blumthal foi editado pela Oficina do Livro (grupo Leya), em 2019. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Lido: A Novela de Xadrez de Stefan Zweig

Sabem o quão difícil é encontrar um autor ou um livro cuja inicial comece com "Z"? Brincadeirinha à parte, há imenso tempo que tinha vontade de experimentar Stefan Zweig. E há umas semanas, numa visita à FNAC, trouxe "A Novela de Xadrez" que já me andava a cutucar... 

Temos então um navio em direção a Buenos Aires. Acaba-se por saber que um dos passageiros embarcados é campeão de xadrez, um homem arrogante e de poucas palavras. Logo, subtilmente, entre os restantes passageiros, é formado um grupo que se entretém a jogar xadrez, até que chama a atenção ao campeão. 

Porém, de entre os passageiros, surge alguém que os aconselha no jogo, capaz de rivalizar com o campeão. A história e as capacidades deste homem estão envoltas numa aura de mistério. E à medida que se desvenda a sua história, assistimos a uma profunda reflexão sobre o nazismo, e os horrores daquela época.

O autor, Stefan Zweig - descendente de judeus - nasceu em Viena de Áustria. Deixou o seu país natal em meados de 1934. Os seus livros foram banidos na Alemanha, ainda nos anos 30 do século XX. Em 1942, exilado no Brasil, suicida-se, profundamente desesperado pelo alastramento da guerra na Europa, e pela situação política do continente europeu. Esta foi a sua última obra...

Como disse anteriormente, foi uma estreia com este autor austríaco, e fiquei tremendamente impressionada com a sua história. Quão desesperançado em dias melhores para a Europa precisava de estar para terminar assim? Como seria a sua vida se não tivesse optado pelo suicídio, e tivesse conseguido voltar a casa, no pós-guerra?

Quanto ao livro, li-o em pouquíssimo tempo - 3 dias, creio - não pela dimensão do livro que tem pouco mais de 100 páginas - mas porque existe vida lá fora. A história está fabulosa. Através do xadrez, é-nos apresentado uma obra que nos obriga a refletir sobre uma enormidade de temas: a loucura, a resignação, a tragédia, a dinâmica humana... 

Esta foi a última obra de Zweig. Aliás, na semana do seu suicídio, enviou o manuscrito para os seus editores. E, nas entrelinhas da história, conseguimos sentir o "xeque mate" final. Um livro para jogadores e não jogadores de xadrez.

Inseri esta leitura (a 82.ª do ano) na maratona Estações Literárias (livro com menos de 200 páginas) e no projeto "Luz de Outono" (letra Z). 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Lido: O Pregador Atormentado, de Thomas Hardy

 Uma das meninas do clube de leitura a que pertenço (Regaleira de Livros) esteve a destralhar livros, e eu aproveitei e solicitei dois livros: O Pregador Atormentado, do inglês Thomas Hardy, e um policial de Maigret. Comecei pelo clássico que "caiu" mesmo bem para o mês de outubro em que se assinala o #victober - Outubro Vitoriano. 

Trata-se de um pequeno conto sobre um ministro metodista que é colocado, temporariamente, numa paróquia/congregação. Quando chega, quase ao cair da noite, e sem que ninguém o esperasse, Stockdale, assim se chama, encontra e fica hospedado em casa de uma viúva, Mrs. Newberry, por quem acaba por se apaixonar. 

Inicialmente, ela não se apercebe dessa afeição, até que ele se declara. Mas as atividades "extracurriculares" da jovem viúva conduzem a uma série de mal-entendidos, e a um Stockdale desesperado de frustração, porque dessa forma não poderão casar. 

É um conto muito engraçado que acaba por nos mostrar as várias facetas das personagens, em busca de um final feliz. O livro é pequeníssimo (90 páginas) e lê-se numa penada. 

Foi a minha estreia com Thomas Hardy. Acredito que esta seja apenas uma pequena amostra da qualidade de escrita deste autor. Não vou tecer grandes considerações sobre o livro; apenas que vale a pena. É uma história, como já disse, muito engraçada, mas sem ser patética. Quase como o enredo de uma comédia de domingo à tarde. 

Além de ter inserido esta leitura no #victober, também o inseri na lista para a maratona Estações Literárias (capa com tons amarelos e/ou castanhos). 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Lido: Amália - O romance da sua vida, de Sónia Louro

(ups, I did it again... este post estava, em teoria, agendado para 7 de outubro)

Amália. Vejamos. Isto dava pano para mangas, mas ao mesmo tempo, aquilo que conheço sobre a senhora dava meia página A4, com espaçamentos de tamanho 2, e tamanho de letra 14. Do your math...

Lembro-me de ser pequenita e ouvir o fado "Casa da Mariquinhas" da Amália e adorar a música. Era uma das faixas dum vinil dos meus pais. Uma qualquer coletânea de grandes sucessos. A letra passou-me totalmente ao lado. Mas o som da guitarrada e a voz dela, divertiam-me. 
Anos mais tarde, ouvi o "Povo que lavas no rio". Sabia que era um fado da Amália, mas foi numa outra voz que o ouvi. Logo a primeira frase "Povo que lavas no rio / E talhas com o teu machado / As tábuas de meu caixão" deixou-me intrigada. 

Aquela figura que via na televisão. Aquela figura que cantava vestida de negro e de olhos fechados, e agradecia sempre com um "obrigada" arrastado e nasalado. Era mais aquilo que me afastava do que o que me atraía em Amália. Depois ela morre. E os milhares de pessoas que foram ao funeral deixaram-me a pensar que - talvez - talvez! - houvesse ali qualquer que me tinha escapado. 

Hoje entendo. A Casa da Mariquinhas, por exemplo, é muito mais que uma música que, ainda hoje, me faz balançar o corpo. É a memória. É a nostalgia pelo que se perdeu no tempo... um tempo que vinha a ser cantado desde Alfredo Marceneiro. A letra é de Alberto Janes, autor de outros grandes temas cantados por Amália. 

Pra terem feito da casa o que fizeram 
Melhor fora que a mandassem prás alminhas 
Pois ser casa de penhor 
O que foi viveiro de amor 
É ideia que não cabe cá nas minhas

Mas, a pessoa que Amália era, não conheço. E foi precisamente para a conhecer melhor que li o livro Amália - O romance da sua vida de Sónia Louro (editado em 2012, pela Saída de Emergência). Atenção que não se trata de uma biografia. Li, em janeiro do ano passado, O Cônsul Desobediente (sobre Aristides de Sousa Mendes), e percebi que o que a autora faz é pegar em factos, em dados conhecidos, pegar na biografia da personalidade A ou B, e romanceá-los. 

É um livro interessante, mas não será por ali que irei alcançar aquilo que pretendo. O livro segue Amália desde o seu início, no Retiro da Severa, até à sua morte. Os capítulos são curtos, e fáceis de ler. A própria escrita da autora é muito simples e foca o essencial. É claro que sabendo de antemão que é um romance, não poderemos saber o que pensava Amália em determinados momentos, mas chateou-me um bocadinho que a autora fosse "bater sempre na mesma porta". Invariavelmente, começávamos a ler passagens em que Amália falasse na imensa tristeza que sentia, na ausência de felicidade plena, nos medos que tinha... tornava-se repetitivo e desnecessário.

Não desgostei do livro, entenda-se, mas acaba por ser apenas a superfície de um vasto lago; é, sem dúvida, um bom ponto de partida para quem tem pretensões de explorar mais sobre Amália.  

Li este livro para os projetos Maratona Literária (autora nacional), Português é Bom (letra S) e Luz de Outono (letra L). 

domingo, 4 de outubro de 2020

Lido: Eliete, de Dulce Maria Cardoso

Estou quase quase a terminar de pôr em dia os textos em atraso das minhas leituras realizadas, nas semanas de agosto e setembro. 

No dia 21 de setembro começaram a maratona Estações Literárias e o projeto Luz de Outono. E, no dia seguinte, iniciei - quase em simultâneo - duas leituras, de duas autoras portuguesas que encaixam lindamente. 

Começo pelo Eliete, e deixarei o outro livro para amanhã. Eliete, de Dulce Maria Cardoso, foi a primeira leitura para a categoria "livro recomendado" das Estações Literárias. Há uns meses, houve todo um sururu acerca deste livro, que adquiri (muito antes da pandemia), já com intenção de o ler num futuro breve. Incluí-o na TBR (lista "to be read") de Verão, mas acabei por não chegar a ele, e transitou para o Outono. 

Eliete tem uma vida comum. É agente imobiliária, casada, com duas filhas... a relação com a mãe não é das melhores, mas tem um carinho profundo pela avó. O casamento, ao longo dos anos, conheceu vários altos e baixos, e foi esfriando. Com a filha mais nova, a relação também é morna. 

A avó sofre de demência, e após um episódio que a leva ao hospital, a senhora muda-se, temporariamente, para casa da neta. 

Mas, Eliete, cansada da sua vidinha média, decide espevitar e regista-se numa aplicação de... dígamos... engates. Inicialmente, a ideia era só trocar mensagens com outros homens, mas as coisas evoluem. Até que começa um caso com o dono do lar onde acaba por colocar a avó, como consequência do evoluir do estado de saúde. Num dia em que se ia encontrar com ele, e seguindo uma dica da avó, num momento de lucidez, encontra uma carta que vai dar a volta gigantesca na sua vida. 

Dei 4 estrelas a este livro, porque partes no meio da história foram muito aborrecidas, e algo repetitivas. A ideia é muito interessante e a conclusão do livro, deixa-nos a querer ler o resto, mas este livro é a primeira parte de uma obra. A segunda parte estava prevista para o ano passado, mas não se concretizou. Fiz uma breve busca, mas não encontrei vestígios da segunda metade desta história. Se alguém souber de algumas novidades sobre Eliete, deixem na caixa de comentários, que aqui a menina agradece. 

sábado, 3 de outubro de 2020

Lido: A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne

Em março do ano passado, estreei-me nos audibooks com A Volta ao Mundo em 80 Dias. Porém, eu sou uma moça que se distrai com frequência, e funciono muito com base na visão, logo os audiobooks não são uma opção para mim. 

Mas, recentemente a RTP e a Levoir lançaram, em conjunto, uma coleção de livros em BD de alguns dos maiores clássicos da literatura. E A Volta ao Mundo em 80 Dias foi lançado ao mesmo tempo que Alice no País da Maravilhas. Apesar de já conhecer ambos, decidi começar a coleção, porque existem outros títulos que me parecem interessantes, e não se deixam coleções a meio... toda a gente sabe disso!

Ao mesmo tempo, o tema de Setembro do Clube de Leitura a que pertenço - Regaleira de Livros - era "Viagens" e decidi reler Júlio Verne e o seu Phileas Fogg, numa incrível jornada à volta do mundo, em pleno século XIX, dependendo de entrar e sair de barcos, comboios e carruagens à hora certa, para completar a aposta do seu clube de cavalheiros. 

Obviamente, esta versão é mais sucinta que o original, senão perderia o objetivo final de ser uma BD que entusiasme miúdos e graúdos e passava a ser mais do mesmo. Mas as partes importantes, o sumo da trama estão lá. 

Este livro não é simplesmente um livro. É um fantástico retrato de época, um elogio às tecnologias que ninguém sabe onde irão parar... no fim de o ler, pus-me a imaginar: como iria Verne fazer a atualização desta sua obra, nos dias de hoje, com tantos meios de transporte, mais rápidos e mais diferenciados? Fica aí o desafio: em quanto tempo, Fogg demoraria, hoje, a fazer a volta ao Mundo?

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Lido: O Heróis das Eras - parte I, de Brandon Sanderson

Um aparte: este é um dos livros que a Saída de Emergência dividiu em dois, portanto, enquanto que, no original, a saga Mistborn é uma trilogia, em Portugal, são quatro livros. A segunda parte está ali, na estante, a olhar para mim. 

Vejamos. Muito resumidamente: no 1.º livro, tínhamos Kelsier, um afamado ladrão, a reunir um grupo, com o objetivo de derrubar o Senhor Soberano, o líder do Império Final, há mais de 1000 anos, num misto de reino de terror e fé cega (sim, enquanto nós temos várias religiões, ali, clamava-se pelo Senhor Soberano). Nesse grupo, estava Vin, pouco mais que uma adolescente, cujos poderes foram despertados e treinados por Kelsier. 

No 2.º livro, e depois de derrubado o Senhor Soberano, Vin tenta descobir mais sobre a fonte do poder do Senhor Soberano. Luthadel, a cidade-capital do Império, é governada por Elend, o namorado de Vin. Mas este território (e o poder) é demasiado "apetitoso", e são vários aqueles que o tentam conquistar. 

Elend e Vin tentam descobrir segredos que o Senhor Soberano deixou espalhados, um pouco por todo o Império, para o caso de algo lhe suceder. Um poder maior do que Vin conseguiria supor foi libertado, e é necessário contê-lo e derrotá-lo a todo o custo. Mas como? Ainda temos personagens a curar as suas feridas dos eventos do 2.º livro, outras a encontrar o seu rumo... 

Sanderson criou um mundo incrível e tremendamente bem escrito. E quem ainda não experimentou, pelo menos, a saga Mistborn não faz ideia do que está a perder. Enquanto que no The Witcher já tive momentos menos prazeirosos a ler, com este, isso ainda não aconteceu. E só me falta um livro para completar a trilogia original, portanto não creio que me venha a desiludir. 

Não se trata só de magia. Esta saga - e já o disse antes - trata de assuntos atuais encapotados em livros do género de "fantasia". Não se deixem enganar. Se se substituir o Senhor Soberano por um qualquer ditador dos nossos tempos, e substituirmos Vin, Elend e o grupo, por grupos de revoltosos, temos um cenário em muito semelhante ao que poderemos encontrar, amanhã, num qualquer espaço noticioso. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Lido: Batismo de Fogo (The Witcher #5), de Andrzej Sapkowski

Enfim. Sapkowski redimiu-se. Depois da falta de entusiasmo no 4.º volume, voltei a adorar a saga de Geralt de Rívia. Nas últimas semanas, deve ter sido o livro que li em menor espaço de tempo, porque fiquei realmente embrenhada. 

No livro anterior, uma das últimas grandes cena era o Geralt a levar uma tareia "de criar bicho", como habitualmente se diz. No início deste livro, ele está a recuperar, mas a sua preocupação com o facto de não saber onde está Ciri, leva-o a iniciar uma demanda em busca da menina.

Mais uma vez, e para não cair na tentação de dar mais pormenores sobre o enredo - porque só lendo, a sério! - não vou adiantar muito mais. Trata-se de um conjunto de vários livros e não faz muito sentido divagar sobre um determinado livro quando não se, desse lado, há sequer uma ponta de interesse por este género. 

Algo que adorei foi a introdução de novas personagens, companheiros de Geralt nesta missão. Cada um mais diferente do outro, mas com um forte sentido de amizade e lealdade, que fazem deste conjunto o mais improvável de todos os tempos. 

Geralt entende, por fim, que não pode manter a sua tão proclamada neutralidade, perante a guerra. 

Uma das coisas que mais me agrada nesta série é que o protagonista não é estanque, nem é um herói típico, e que, em poucas páginas tanto pode salvar alguém e ter atos altruístas, como pode ser tremendamente ofensivo para com aqueles que já manifestaram intenção de o ajudar, e que se mantém ao seu lado, venha quem vier. Magoado e preocupado, Geralt pode ser insuportável, mas estas novas figuras que aparecem neste volume tornam tudo melhor, e fazem deste livro, mais do que de fantasia, um livro sobre relações. 

Ciri e Yennefer têm muito menos tempo "de antena" neste volume, mas não é uma coisa má. Julgo que o próximo deva ter mais dos seus pontos de vista. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Lido: Ensina-me a voar sobre os telhados, de João Tordo

 Mais uma obra lida durante o mês de agosto, para os projetos em que estava envolvida naquela altura: Português é Bom, Mais Verão e maratona Estações Literárias. 

Uma das coisas boas de João Tordo é que um livro, raramente, segue a "receita" de outro. Comecei por ler O Bom Inverno, que tem uma aura de mistério, passei para O Paraíso segundo Lars D., mais introspetivo, com uma escrita mais madura, e li, em maio passado, "Que nós estamos aqui - 12 Passos para a recuperação", um livro de não ficção da Fundação Francisco Manuel dos Santos, sobre as dependências. 

Seguimos personagens em dois períodos temporais completamente diferentes, em locais completamente diferentes. Primeiro, estamos em Lisboa, nos nossos dias. No Liceu Camões, um professor suicida-se, e um colega decide criar um grupo de apoio, por forma a que professores e funcionários possam fazer o seu luto. 

O outro extremo da ação passa-se 100 anos antes, no Japão, e segue a família Tsukuda. 

Até que estes dois momentos da narrativa, aparentemente desconexos, irão encontrar-se, num preparado que envolve uma história de amor e a prática da levitação. 

Ensina-me a voar sobre os telhados é um livro diferente, melancólico e que não me trouxe grande alegria, enquanto lia. A escrita é irrepreensível, como sempre. Mas o exercício da leitura não é simples devido à complexidade que João Tordo emprestou a cada um dos figurantes desta sua obra, camada após camada. É um texto todo muito trágico do início ao fim: é o alcoólico em recuperação que não consegue amar, é o jovem com depressão, é a empregada que se apaixona pelo patrão sem nunca o ver, é a mãe que perde o filho no mar, é o pai que obriga o filho ao exílio... todo um desfiar de personagens que enriquecem a história, mas que, ao mesmo tempo, obrigam o leitor a criar simpatias. Nunca ninguém disse que ser leitor é simples, mas Tordo não facilitou. 

Vale o que vale, mas dei 4 estrelas a este livro. Li-o numa altura atribulada do meu atípico mês de agosto, mas vou reservar-me ao direito de o guardar (comprei o ebook na Wook), e quiçá, voltar a ele no futuro. 

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas

Este rascunho já estava iniciado há semanas, mas, e não me querendo desculpar, estive a braços com umas situações para resolver ainda referentes à mudança de casa, que demoraram mais do que o suposto e me roubavam toda a energia.

Os Três Mosqueteiros iam dando cabo de mim. Não pela história, mas pela formatação do livro. Letras mínimas, espaçamento mais do que reduzido, enfim... um pequeno pesadelo para os meus pobres olhos cansados. Não conseguia ler mais do que meia dúzia de páginas de cada vez, razão pela qual demorei tanto tempo a terminá-lo.

A história é aquela que todos nós conhecemos, e não vale a pena estar com rodeios: seguimos a personagem do jovem D' Artagnan, que pretende ingressar nas fileiras dos Mosqueteiros do Rei Luís XIII. Antes de conseguir ser um Mosqueteiro de pleno direito, o jovem gascão vê-se envolvido numa teia de de intrigas que envolvem o Cardeal Richelieu, Milady e Rochefort, bem como a figura da Rainha Ana de Áustria e o Conde de Buckingham. 

As personagens principais são todas, ou pelo menos, a maioria, inspiradas em figuras históricas de proa, que Dumas romanceou, e que deram origem à trilogia que tem, precisamente, início com este Os Três Mosqueteiros. 

Apesar de haver uma linha condutora - separar o Rei e a Rainha, provando por A + B que ela é uma traidora - o livro é um "conjunto" de aventuras vividas pelos quatro companheiros, até ao final. 

Gostei muito. Apesar de não ter sido uma leitura simples, pelas razões que já apontei, é muito interessante: é um verdadeiro livro de aventuras, de heróis de capa e espada, que colocam a honra e o dever acima de tudo. Os Mosqueteiros são "gentis homens", ou seja, cavalheiros, homens de porte nobre, que vivem para servir, e não deixam nenhuma donzela, ou um semelhante, desemparados. 

E assim é. Desde o princípio ao fim. A honradez de se curvarem perante aqueles que, manifestamente, são seus antagonistas é o que faz, ainda hoje, não se ter esgotado o filão de Os Três Mosqueteiros. 

Já vi várias adaptações ao cinema e séries das famosas aventuras dos Três Mosqueiros, mas é totalmente diferente de ler aquilo que foi idealizado pelo seu autor. Aliás, atrevo-me a dizer que de todas as adaptações, aquela que gostei mais - e que ainda assim, resvala muito em relação ao livro - é a série da BBC, The Musketeers (2014), que está disponível na Netflix. 

É mais um clássico que posso assinalar na minha lista. 
(e sim, eu sei que a capa é horrível, mas a que está debaixo desta ainda é pior... e esta é também a pior adaptação que conheço!!!)


terça-feira, 1 de setembro de 2020

Lido: O Tempo do Desprezo (The Witcher #4), de Andrzej Sapkowski

Muito se passou desde a última vez que aqui publiquei. Completei o processo de compra de uma nova casa, e depois disso, foi tratar de todas as coisas inerentes à mesma. Por isso, tenho lido significativamente menos. 

Mas comecemos pelo início.

O Tempo do Desprezo é o 4.º volume da saga The Witcher. De todos os que li até este momento, foi o que menos me entusiasmou, e não sei explicar muito bem porquê. Pareceu-me um pouco mais confuso do que os três anteriores. A quantidade de personagens - às vezes, com apenas uma fala - era ridículo e isso talvez tenha contribuído para este meu sentimento. 
Gostei muito do livro, entenda-se, mas não senti a mesma excitação, por exemplo, com o  3.º volume. Pelo menos uma menina do clube de leitura a que pertenço já o leu, adorou e que o considera o melhor até ao momento... 

Não vou desenvolver o enredo, como é claro, até porque não faria sentido para quem aqui caísse agora de para-quedas. Mas, essencialmente, Ciri está a ser procurada. Todas as facções da guerra, procuram a neta da Leoa de Cintra; enquanto isso, Geralt e Yennefer tentam protegê-la a todo o custo, mesmo no meio de uma fantástica batalha entre Magos, uns a soldo dos reis, outros, a favor dos elfos, uns adeptos de Nilfgaard e outros pela facção oposta.

Talvez seja do tempo, ou do cansaço acumulado, a verdade é que o meu ritmo de leitura tem diminuído à medida que as semanas avançam. Isto de mudanças também é exaustivo, e chego KO à noite, a minha hora preferencial para ler. Por outro lado, vi as duas temporadas de "Umbrella Academy" num piscar de olhos. 

Vou atualizando, aqui, o barraco, porque ainda assim, há livrinhos que li e que merecem o seu tempo de antena.

Esta leitura foi feita para a maratona Estações Literárias (da Ana Lopes e da Andreia) - categoria "género preferido" - e para o desafio Mais Verão das Marias Joões - letra "S". 
 



sexta-feira, 24 de julho de 2020

Lido: Um amor em tempos de guerra, de Júlio Magalhães

Normalmente, escolho os livros consoante o que me apetece ler, e depois vou inserindo nas categorias dos projetos e/ou maratonas em que esteja a participar. Este foi procurado especificamente para completar as "casas". E foi bem seleccionado, diga-se de passagem.
Estamos no Vimieiro e seguimos um jovem, de seu nome António, em homenagem ao mais conhecido António daquela freguesia de Santa Comba Dão: o Doutor António de Oliveira Salazar, que agora está à frente do Governo, lá, em Lisboa. António tem uma vida perfeitamente comum, para qualquer criança da sua idade, até à morte do seu pai. Nessa altura, António sente que tem de ser o homem da casa, e, a par com o seu namoro com Amélia, trabalha e constitui uma reputação de bom rapaz. 

Até que é chamado para ir cumprir o serviço militar, poucas semanas antes da data agendada para o seu casamento com Amália. Mas, após a recruta, António é destacado para ir para a guerra colonial, e assim, segue para Angola. 

Em Portugal, a mãe e Amélia continuam a receber as cartas de António. Cada vez mais espaçadas, cada vez mais descritivas, cada vez mais frias, algumas censuradas... Amélia teme estar a perder o homem por quem se apaixonou, e a verdade é que os horrores da guerra estão, efetivamente, a transformar António. 

Em Angola, António conhece Dulce, uma angolana por quem se perde de amores, e vive uma paixão ardente. E, na terra, Amélia olha todos os dias para o enxoval e reza pelo regresso do noivo. 

Até que António vai para uma zona particularmente bélica, e desaparece sem deixar rasto. É dado como morto. Amélia e a mãe, perdidas de desgosto, realizam um funeral, de caixão vazio, apenas para terem uma despedida digna. Os anos passam, e a jovem casa com um rapaz da terra. Até que... já devem estar a ver  no que isto vai dar... António reaparece! Esteve encarcerado durante vários anos, tendo sido torturado todo esse tempo, até que consegue planear uma fuga com outros companheiros. 

Consegue contactar as tropas portuguesas que começam a deixar o território ultramarino, e regressa a Portugal. É recebido como um herói, mas será que está tudo tal como havia deixado anos antes? Obviamente que não, a começar pelo "pormenor" de ir encontrar uma Amélia casada com um dos seus amigos de infância. 

A história é interessante o suficiente para nos fazer querer ler até ao fim, mas nota-se o dedo jornalístico de Júlio Magalhães. Há partes que estão escritas como se de uma notícia se tratasse: rápidas e incisivas. Atenção, não é um defeito, mas também não deixa espaços para a imaginação preencher. O livro tem a dimensão certa para a narrativa, e não há necessidade de estar com paninhos quentes para aquilo que aconteceu no Ultramar, e as consequências que tais eventos tiveram juntos das famílias e pessoas próximas de quem lá esteve a combater. 

Júlio Magalhães escreve no início que a história foi inspirada em relatos de ex-combatentes. Portanto, António e Amélia, possivelmente, são pessoas reais que podem já ter cruzado comigo - ou com um de vós - algures por aí. E é nisso mesmo que fico a pensar: quantas pessoas anónimas terão histórias de vida dignas de livro, e que nos escapam por entre os dedos? Essas narrativas, um dia, calar-se-ão para sempre, e todos ficaremos a perder.  

Este livro foi lido para os projetos "Estações Literárias - Verão" (categoria autor nacional) e "Português é Bom" (letra U).

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Lido: Os Herdeiros da Terra, de Ildefonso Falcones

Eu sei, eu sei... atrasada com opiniões, como de costume. Mas, em minha defesa, desta vez são apenas dois os livros, cuja opinião ainda não foi publicada: este, Os Herdeiros da Terra, e outro de um autor nacional. 

Iniciemos a "corrida" das atualizações, então. 

O livro Os Herdeiros da Terra é uma sequela de A Catedral do Mar (que li em abril de 2018: link). Lá seguimos a saga de Arnau Estanyol e a sua demanda como homem livre numa Barcelona perfeitamente medieval, bem como as suas desavenças com a família da tia: os Puig. A construção da Catedral de Santa Maria do Mar foi o cenário para este livro magnífico que, entretanto, "ganhou" a sua própria série na Netflix, em 2018. 

Entretanto, passaram alguns anos, e Arnau já é um homem de algum idade, e tomou para sua proteção o jovem Hugo, que perdeu recentemente o pai. Hugo tem apenas 12 anos e vê Arnau como um mestre e cujas opiniões segue sem pestanejar. Um dia, os Puig retornam a Barcelona, e rancores antigos vêm ao de cima. Hugo assume para si as dores de Arnau e depois de um episódio que envolve os mesmos Puig é humilhado, destratado e obrigado a deixar os estaleiros onde trabalhava sob orientação de um genovês, mestre de construção de barcos.

Sem perspetiva de futuro, Hugo divide-se entre a lealdade que tem por Bernat, amigo e único filho de Arnau, e a necessidade de sobreviver. Encontra trabalho junto de um judeu que lhe ensina os segredos do mundo dos vinhos e das vinhas. É com esta família judia que, em tempos, também havia sido a âncora de Arnau, que Hugo descobre o amor. 

Este livro é um tratado. São 880 páginas, onde Hugo divide o protagonismo com o vinho. Temos de nos lembrar que, naquela altura, e estamos a falar de um período de tempo que começa em 1387 e vai até 1423, o vinho era um bem de primeira necessidade, a par do pão e/ou cereais. 

E é aqui que o livro pode pecar: no excesso de explicações sobre vinhas e vinhos. Eu perdia-me quando o autor começava a descorrer toda a informação possível e imaginária sobre este assunto, que assumo que possa ser muito interessante, mas que não acrescentava nada essencial à trama principal. Mesmo as questões dinásticas eram interessantes q.b.: entendo o porquê de estarem ali presentes, mas li-as na diagonal. E por isso, e apenas por isso, que dei 4 estrelas a um livro que, se tivesse menos umas 150 páginas descritivas, era de 5 estrelas. 

A história é muito boa. A construção das personagens é brilhante ao ponto de nos levar a ofender este ou aquele, até me lembrar que não passava de ficção. Há muitas personagens, e riquíssimas, com um background muito forte e credível. Só houve uma que me deixou dúvidas quanto ao seu destino, e que gostava de saber o que lhe tinha acontecido efetivamente. 

Este livro foi lido para os projetos "Estações Literárias - Verão" (categoria livro com mais de 500 páginas) e "Mais Verão" (letra A - presente no apelido da autora Adichie).

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Lido: Todos Devemos Ser Feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie

Todos Devemos Ser Feministas é o terceiro livro desta autora nigeriana que leio. No ano passado, li O Hibisco Roxo e, no mês passado, li A Coisa à Volta do teu Pescoço. 


Este livro é um ensaio - adaptado de uma TED Talk - sobre o feminismo nos dias de hoje. Chimamanda conta-nos que ainda em criança foi chamada de "feminista". Conta-nos que, na altura, não sabia o que isso significava, mas, para não dar parte de fraca, assumiu o "palavrão", mas que, chegando a casa, foi consultar o dicionário. 

Depois desse episódio, assumiu plenamente o seu feminismo. E partindo desse episódio, fala dos desafios de ser mulher, nos dias de hoje.

" (...) precisamos de criar as nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos de criar os nossos filhos de uma maneira diferente."

Chimamanda insta a que todos se tornem feministas: que procurem a igualdade entre homens e mulheres, porque ser feminista não significa odiar homens, ou almejar o poder para as mulheres, mas sim que o sexo feminino tenha direito às mesmas oportunidades que os elementos do sexo masculino. 

O livro termina com o conto "Casamenteiros", que está incluído na coletânea A Coisa à Volta do teu Pescoço. Este conto fala-nos de uma mulher que se casa com um homem nigeriano que vive nos Estados Unidos da América há vários anos, e sobre a dificuldade de adaptação aos costumes americanos, que o marido exige. O casamento, arranjado pelos tios, sofre com essas exigências e o laxismo machista do homem perante a sua esposa. Termina com a mulher a receber conselhos de alguém de quem se tornou amiga, e a tentar arranjar forma de voltar a tomar as rédeas da sua vida. Uma forma mais discreta de feminismo e de rebeldia de uma nigeriana que havia sido educada para servir o esposo. 

É uma reflexão interessantíssima que deve ser divulgada, porque não obriga à tomada de lados: ou as mulheres ou os homens. Apresenta factos e dados para que cada um faça a sua auto-avaliação e medite nas suas ações em prol da igualdade. 

Este livro foi lido para os projetos "Estações Literárias - Verão" (categoria livro com menos de 200 páginas) e "Mais Verão" (letra A - presente no apelido da autora Adichie). 

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Lido: O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel, de JRR Tolkien

Li este livro... penso que... na altura do lançamento do 1.º filme em 2001. Não me recordo se antes, se depois, mas foi, mais ou menos, por aí. 

Não vou obviamente fazer nenhum resumo do livro. A história é tão conhecida que era uma repetição desnecessária. Mas, aproveito esta oportunidade para fazer um pequeno exercício de memória e de comparação entre livro e filme.

Teria, sensivelmente, 18 anos quando li A Irmandade do Anel e o livro foi-me emprestado por um primo. Achei-o uma seca. Devo tê-lo lido tão na diagonal que, agora, não me recordava rigorosamente de nada. Foi como se o estivesse a ler pela primeira vez. 

E é esta a beleza da leitura. Já havia lido o livro. Já vi os filmes umas 10 vezes cada um, mas, no entanto, senti-me como se estivesse pela primeira vez naquele lugar, naquele tempo, naquele ambiente... e gostei de cada página como se fosse uma estreia na Terra Média, como se nunca tivesse ouvido falar de Bilbo ou Gandalf, de Frodo ou de Sam... 

Outro aspeto interessante desta leitura (quase nem a considero uma releitura) é conseguir estabelecer as diferenças com o filme. Enquanto que, no filme, mal Bilbo desaparece, Frodo herda os seus bens e imediatamente sai do Shire devido aos enormes perigos, no livro, há um hiato de quase 20 anos. Frodo é um hobbit com 50 anos quando abandona o Shire. 

Tom Bombadil ou Radagast, o Castanho são duas personagens que não entram nos filmes e que, no livro, têm um papel importante no desenvolvimento da ação. 

Também a figura de Golum tem uma presença despercebida no livro. Apesar de, efetivamente, não aparecer, segue constantemente a Irmandade desde as Minas de Moria. Aragorn, Frodo e Sam são os únicos que se apercebem da perseguição. E já todos conhecem a ligação desta criatura ao Anel Um, enquanto que, no filme, aparentemente, Frodo não sabe ao certo com quem está a lidar. 

Comprei a trilogia em janeiro de 2019, antes da Europa-América entrar em insolvência, mas só agora me predispus a iniciar a leitura. Nunca li os dois volumes seguintes de O Senhor dos Anéis. Esta leitura foi feita para o "Estações Literárias - Verão" (categoria livro que teve versão cinematográfica) e "Mais Verão" (letra I - que se encontra em Irmandade). 

Enfim, foi uma leitura de cinco estrelas, sem sombra de dúvidas. 


terça-feira, 7 de julho de 2020

Lido: Castlevania #1, de Kou Sasakura

Este livro foi lido para dois projetos literários que "pululam" nas redes: "Estações Literárias - Verão" (categoria ler uma graphic novel ou mangá) e "Desafio Niji Tv" (categoria ler um mangá que o título comece com a letra do teu nome - neste caso, C). 

O meu excelso companheiro já viu a série da Netflix "Castlevania", e quando procurava um título com a letra "C", deparei-me com o 1.º volume deste mangá e nem pensei duas vezes. 

Drácula declarou guerra à raça humana, e o pai do jovem Ted partiu para lutar. Ted vive à espera do regresso do pai e é seguido de perto por uma freira de seu nome Rosalee. 
Esta freira recebeu, em sua casa, um desconhecido que se encontrava ferido, e que tem estado a recuperar aos seus cuidados. Ted alerta-a, e pede-lhe que o mande embora. Entretanto, um dos principais generais de Drácula, Hector, está desaparecido, e este envia alguns dos seus subordinados procurá-lo. 
Ted e Rosalee estão a jantar quando são surpreendidos por um lobisomem. Ted tenta lutar com ele, mas, rapidamente, é "chutado" para fora da luta, e dá de caras com o desconhecido.Suplica-lhe que salve Rosalee, mas o homem nada diz. O menino deseja ter os seus poderes, e o homem coloca-lhe um desafio: se ele fosse malévolo, ainda assim desejaria ter aqueles poderes? O desconhecido - que é Hector - é reconhecido pelo lobisomem que se afasta. Esta manifestação de poder alerta Isaac, um dos enviados de Drácula, que assim consegue seguir a pista de Hector. 

É uma primeira parte razoavelzinha. Não é boa como outras que me levaram a ler, de seguida, todos os volumes, mas é interessante o suficiente para nos manter na qualidade de leitores. Falta ler o 2.º volume, para saber a conclusão desta história. 

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Lido: Mitologia Nórdica, de Neil Gaiman

Neil Gaiman confessa, no início do livro, que desde cedo se deixou fascinar pelos mitos nórdicos. Teria sete anos quando conheceu Thor, através da banda desenhada. Ao longo dos anos, aprofundou os seus conhecimentos sobre as lendas e mitos vindos do Norte da Europa. 

Thor e Asgard, Odin e Loki tornaram-se figuras conhecidas, mas, muitas histórias e lendas perderam-se com o passar dos anos e séculos. 

Este livro reúne 14 histórias protagonizadas por deuses nórdicos, que Gaiman se esforçou por recontar, "com o máximo rigor que me foi possível e da forma mais interessante que consegui". 

Gostei muito. Os meus conhecimentos sobre a mitologia nórdica resumem-se ao filmes da Marvel, mas, ainda assim, consegui reconhecer muitos nomes associados a estas personagens. É um livro para se ir lendo. Não há, obviamente, uma linha narrativa a seguir, logo, estes contos podem ser lidos por qualquer ordem. Pessoalmente, e como me embrenhei nestes pedacinhos mitológicos, li-o rapidamente. 

Este livro foi lido para os projetos "Estações Literárias - Verão" (categoria título com letras que formem a palavra MAR) e "Mais Verão" (letra M).



domingo, 5 de julho de 2020

Lido: O Livro dos Negros, de Lawrence Hill

Quem é que tem um blogue e depois não o atualiza há medida que vai lendo, quem é?? Se responderam "és tu, Cristina Maria", parabéns, venceram o jogo. 

Depois do último volume da trilogia inicial de Hunger Games, já li... (preparem-se!)... mais cinco livros. Isso está manifesto neste blogue? Não. Mas vai estar.

Vi, há não sei quantos anos, uma série chamada "The Book of Negroes". Excelente. Cinco estrelas. E agora, li o livro que deu origem à série e que eu desconhecia que existia. 

Vivemos tempos turbulentos. A morte de George Floyd nos Estados Unidos deu origem a uma vaga de discussões em torno do racismo, e ainda hoje li que mais uma estátua de Cristovão Colombo havia sido vandalizada algures nos EUA (contexto: Cristovão Colombo que está ligado à descoberta da América, e consequentemente ao tráfico de escravos). E este livro, está tanto ligado a essa problemática como a força e coragem de uma única mulher que não se deixava dominar: Aminata Diallo. 

Resumidamente: conhecemos Aminata quando ela já é uma velha senhora. Estamos em 1802, em Londres. Aminata está a trabalhar de perto com um grupo de abolicionistas britânicos, para eliminar o comércio de escravos. Esta mulher começa então a contar-nos a sua história. 

Aminata tem 11 anos e vive despreocupadamente numa aldeia, na região que hoje será, creio, o Niger. Os pais são de tribos diferentes, mas isso não foi impedimento para a sua união. São apaixonados, livres e ensinam a filha a nunca baixar os braços. Num dia em que vai ajudar a mãe, num parto, numa aldeia próxima da sua, é raptada e aprisionada - os pais são mortos à sua frente!

O que se segue é sua jornada para os Estados Unidos, onde chega quase morta. Acaba por ser comprada por Robinson Appleby, dono de uma plantação de índigo, na Carolina do Sul. É ali que aprende a falar inglês e a ler às escondidas. É também ali que casa com Chekura, um rapaz que havia feito a travessia do Atlântico com ela. Acaba por engravidar, mas a criança é-lhe retirada por Appleby. 

Por nunca se submeter, Aminata é frequentemente castigada por Appleby, até que acaba por ser vendida a Solomon Lindo, um judeu que inspeciona as plantações de índigo e que reconhece o intelecto de Aminata. A vida na casa de Lindo é muito mais tranquila, mas Aminata acaba por ter acesso a informações determinantes que vão servir de rastilho para a maior decisão da sua vida: fugir e tentar regressar à sua terra. Aproveitando uma viagem, com o patrão, à Nova Escócia, Aminata consegue ser, de novo, livre. 

Mas é óbvio que as coisas não ficam por aqui e há outros acontecimentos que irão ter um papel preponderante na vida desta mulher.

O Livro dos Negros: porquê este nome? A explicação é simples. Deve-se ao documento histórico, mantido por oficiais navais britânicos, no fim da Revolução Americana. O documento oficializou os negros que serviram o rei durante a Guerra. Apenas os negros que estivessem listados no "Livro dos Negros" poderiam escapar à escravatura e conseguir sua liberdade.

É um livro extraordinário, tal como a série. A escravatura e o tráfico são temas centrais nesta saga, mas, as capacidades e a coragem de Aminata são, de longe, o assunto principal. Este livro é, no entanto, ficção. Gostava muito de acreditar que, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX, houve uma Aminata - ou várias - que lutaram pelos seus direitos, especialmente, por aquele que determina que nenhum homem é dono de outro. Li esta obra no Kindle, e está disponível na Amazon.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Lido: A revolta (Hunger Games #3), de Suzanne Collins

Terminou o meu ciclo Hunger Games. Acabei esta semana, de ler, oficialmente, a trilogia original, protagonizada pela Katniss. 

Julgo que terei referido no post sobre o 2.º livro ("Em Chamas") que li o livro inicial em 2012, durante as férias, já grávida. Depois, o Henrique nasceu e durante um ano e tal praticamente não li nada. Comecei a ver os filmes, e muito recentemente, revi-os. E, por alguma razão que desconheço, os canais de cabo que passaram os filmes (sim, Fox, estou a falar contigo!!!), não chegaram a transmitir a 2.ª parte do último filme. Ou não tiveram dinheiro para o adquirir, ou então o "Tico" e o "Teco" do pessoal que manda ainda não perceberam que existe uma 2.ª parte, o que - aqui para nós - é ainda mais grave. 

Por um lado, conhecer a história cinematográfica toda, excepto o final, não é assim tão mau. Deu-me a vantagem de ler o final da autora, antes de conhecer o final do filme - continuo sem fazer ideia se é igual, parecido ou completamente diferente. 

Neste livro, assistimos ao percurso de Katniss, após ter sido retirada da arena durante o Quarteirão, pelas forças rebeldes do 13.º Distrito. Peeta é deixado para trás, e Katniss é convencida a ser o rosto da rebelião, como forma de motivar os restantes Distritos a levantarem armas contra o Presidente Snow e o Capitólio. 

A revolução começa. E o 13.º Disitrito consegue entrar no Capitólio e trazer um Peeta, muito debilitado e traumatizado pelas torturas que tem vindo a ser alvo. E Katniss tem de lidar com os seus próprios sentimentos em relação a tudo o que a rodeia: Peeta, Gale, a revolta, a exposição que não pediu, as desconfianças... não podemos esquecer que é apenas uma miúda de 17 anos que estava sossegada na vidinha dela...

Agora, obviamente existe a prequela - The Ballad of Songbirds and Snakes - que acontece 64 anos antes dos eventos da trilogia Hunger Games, e irá focar na personagem do Presidente Snow. Tenho alguma curiosidade em saber como o grande líder do Capitólio se tornou naquilo que era. 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Lidos para a 2.ª edição do #48hnanona

A Sofia do canal The Daily Miacis e a Faith Strange do canal com o mesmo nome voltaram a promover a iniciativa #48hnanona, um desafio que consiste em ler comics, BD's, graphic novels... o que fosse, desde que em quadradinhos.

Desta vez, apanhou os feriados de 10 e 11 de junho e, na prática, foi um desafio de 120 horas. 

Contudo, esta 2.ª edição apanhou-me um bocadinho "descalça" e sem grandes títulos para ler (mentira, tenho ainda o "Decálogo" inteiro para ler!). Mas, após uma busca cuidada às estantes, encontrei dois livros em inglês que ainda não tinha lido: Coraline e The Crow. 


Antes de continuar, uma nota prévia: raramente leio em inglês. Por pura preguiça. Tive aulas de Inglês desde os 10 anos até à faculdade e sempre fui uma das melhores na disciplina. Mas, após o fim da escola, já não tinha a "obrigação" de ler em inglês e deixei-me desmazelar. É tão mais fácil ler na nossa língua que simplesmente não me apetece... 

Fim da nota. Adiante. Tinha então diante de mim Coraline, o 6.º volume de Saga e The Crow. E foi isso que "papei" nestes dias. Li três livros, num total de 584 páginas - menos 28 do que na 1.ª edição, em 4 dias (no dia 10 não li nada). 

Sobre os livros

Coraline - a história de Neil Gaiman, aqui no desenho de P. Craig Russell, já é conhecida. Uma adolescente muda de casa com os pais. Estes, com o trabalho e outros afazeres, deixam Coraline "à solta" antes do início das aulas. A menina decide explorar a casa e os arredores, e descobre uma espécie de túnel fantástico que a transporta a uma espécie de realidade alternativa, onde existem as suas figuras parentais, mas bastante alteradas. Coraline e a sua "mãe" começam a jogar um jogo perigoso que tem como "prémio" os pais reais da menina. 
Houve alturas em que, sinceramente, me arrepiei, apesar de conhecer o enredo da história. Esta graphic novel foi adaptada do original em 2008.

The Crow - não vi o filme, protagonizado por Brandon Lee, de 1994, portanto toda a narrativa era uma incógnita para mim. Tudo o que sabia era que o filho do Bruce Lee tinha morrido, num acidente, durante as gravações. 
Então, temos Eric, um jovem, que retorna do mundo dos mortos, para se vingar dos homens que violaram e mataram a sua noiva, um ano antes. Eric procura no submundo do crime, encontra e mata cada um dos homens, em cenas de uma enorme violência gráfica. A minha maior dificuldade neste livro não foi o inglês, mas o calão. Era preciso estar com atenção para entender o calão de rua usado pelos criminosos, porque Eric, por sua vez, citava Edgar Alan Poe... um livro brutal, em vários sentidos. 

Saga, volume 6 - já nem adianta falar muito desta "soap opera" que tenho vindo a ler desde agosto do ano passado. Só lendo, pessoas, só lendo é que irão entender o porquê do fascínio.  

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Lido: O coração dos homens, de Hugo Gonçalves

Queria muito ler Hugo Gonçalves. Sigo-o no Facebook e acho-o uma pessoa muito inteligente e coerente. O seu livro mais recente e mais conhecido explora a morte da mãe dele. Mas como me sinto, ainda, muito afetada com a morte dos meus pais, logo, estava à partida, excluído. Restavam-me as obras mais antigas. E, num belo dia de descontos da Wook, decidi comprar "O coração dos homens". 

Pelo resumo, sabia que, uma determinada Cidade tinha excluído e exilado as mulheres, sendo constituída exclusivamente por homens. Vamos seguir Ele, Mau e Grande desde a infância até à idade adulta. 

Quando os conhecemos, são três rapazinhos que nunca conheceram as respetivas mães, vivem com pais e irmãos - uns com um código moral mais elevado do que os outros, e o mesmo se aplica às regras domésticas. 
É uma sociedade atípica: sem a presença feminina, os rapazes e homens tiveram todo o espaço para dar asas aos seus instintos mais primários, como praguejar ou lutar. Chorar ou mostrar qualquer outra emoção é sinal de inferioridade e fraqueza. O pugilismo é o desporto-rei, e o símbolo máximo das proclamadas força e resistência masculinas. 

Ele, o grande protagonista desta história (poderei chamar-lhe distópica), torna-se um pugilista de referência. Um dia, sai dos limites da Cidade para uma competição e aí conhece toda uma nova realidade, onde existem mulheres livres e em pé de igualdade com os homens. 

Ele e os dois amigos declaram-se desertores, que são maltratados na sua Cidade natal e que não querem voltar. E permanecem no Estrangeiro, nome dado ao território além da Cidade. E é nesta altura que são confrontados com a sua rudeza e brutalidade. Ele, Mau e Grande só podem contar uns com os outros, para o bem e para o mal. 

Este é um livro cru e cruel. 
Não há "mimimis". 
Há descrições de violações, de grande violência física, de homicídios, de masturbação ou de consumo de drogas, só para dar alguns exemplos... se forem sensíveis a estes temas, aconselho prudência. 

Demorei algum tempo a digerir este livro, e gostava de, um dia, sentar-me com o Hugo e conversar com ele sobre algumas questões que me ficaram. Gostava de entender a linha de pensamento que ele tomou para escrever este livro. Não é um livro para toda a gente, fiquem com essa ideia em mente. 

Li esta obra para o projeto "Português é Bom" (letra "G" no mês de junho)

terça-feira, 16 de junho de 2020

Lido: A Coisa à Volta do teu Pescoço, de Chimamanda Ngozi Adichie

No ano passado, li A cor do hibisco de Chimamanda Ngozi Adichie. Um livro tremendamente bem escrito e que me deixou consciente da literatura desta autora nigeriana. 

Nestas semanas, tive a oportunidade de ler, através do Kindle, o livro A coisa à volta do teu pescoço - um conjunto de contos, com uma característica em comum: serem, na sua maioria, protagonizados por mulheres que têm de lidar com o machismo - apenas um dos contos é escrito sob a perspetiva de um homem. 

Temos mulheres na Nigéria a terem de lidar com as guerras, temos mulheres nos Estados Unidos a terem de lidar com os mandos e desmandos de homens, temos agressões, temos violência e violações, temos mulheres que choram, que sorriem, que lutam e que se impõem...

Não sou uma pessoa que leia muitos contos. Raramente o faço, aliás. E, quando percebi que este era um livro de contos, fiquei de pé atrás. Mas, depois de os ler, adorei. Qualquer um deles. Acho até que não consigo destacar um, porque gostei de todos de igual modo. 


segunda-feira, 15 de junho de 2020

Lido: Ensaio sobre o Dever (Ou a Manifestação da Vontade), de Rute Simões Ribeiro

Já passaram 15 dias desde a minha última postagem, mas quem me acompanha no Instagram sabe que não estive parada nas leituras. Desde "Desaparecer na Escuridão", já terminei mais 6 obras (sendo que 3 eram graphic novels). Um balanço positivo, portanto. E entretanto, tenho mais dois livros em mãos. 

Irei publicar as opiniões em posts separados - excepto as graphic novels que terão uma publicação única - portanto, esta semana terá textos fresquinhos com as minhas leituras mais recentes.

First things first.

Ensaio sobre o Dever (Ou a Manifestação da Vontade), de Rute Simões Ribeiro, foi o primeiro destes 6 livros terminados. Há umas semanas, segui a viva recomendação da querida Ana Lopes (canal O Sabor dos Meus Livros) e descarreguei da Amazon este livro. Ficou "em banho Maria", até que surgiu a maratona "Estações Literárias" e um dos desafios era ler um livro sugerido por um blogger/youtuber/instagramer. Lembrei-me, portanto, desta obra. 

E em boa hora o fiz. A primeira impressão é a semelhança com Ensaio sobre a Cegueira do Saramago, mas, ao invés dos cidadãos perderem a visão, é-lhes dada a escolher a manutenção de apenas um dos cinco sentidos. Ou seja, em 24 horas, todos os cidadãos do mundo tinham de escolher manter a visão, audição, paladar, tacto ou olfacto, perdendo, como consequências os restantes quatro. 

Imediatamente, o Governo de um determinado País decreta que será ele a escolher os sentidos que cada pessoa manterá, como forma de equilibrar a sociedade; contudo, o que prevalece é a vontade das pessoas e não o que havia sido decretado. 

Trata-se de uma obra muito interessante, com vários pontos de encontro com o "meu" Saramago, tais como as pinceladas de humor durante uma situação catastrófica, ou a existência de uma situação que rompe as fronteiras daquilo que consideramos normal, um Governo de um país cujo nome nos é desconhecido, a reacção da sociedade e a própria resolução do problema. 

Adorei. Foi uma leitura que me proporcionou uns tempos maravilhosos e aquele conforto interior que só sentimos quando estamos a gostar de verdade de um livro. 

Recomendadíssimo, especialmente aos fãs de José Saramago. 

Resta-me dizer que encaixei esta leitura no projeto "Chamar a Primavera", da Maria João Covas e da Maria João Diogo. 

domingo, 31 de maio de 2020

Lido: Desaparecer na Escuridão, de Michelle McNamara



"Apontando-lhe uma faca, fez um aviso arrepiante: "Se fizeres um único movimento, tu calar-te-ás para sempre e eu vou desaparecer na escuridão".


Apanhei - não sei há quanto tempo - uma entrevista do ator Patton Oswalt num dos vários "late nights" norte-americanos. Nessa entrevista, ele falou largamente do livro da esposa Michelle McNamara, que havia falecido antes de conseguir concluí-lo.

Fiquei curiosa, dado tratar-se de um "true crime", uma espécie de documentário - em forma de livro - sobre um serial-killer que entre 1976 e 1986 aterrorizou alguns condados da Califórnia. Michelle McNamara, jornalista, era fascinada por crimes, desde criança, quando soube que uma jovem havia sido assassinada perto da sua casa.

Esse fascínio foi crescendo há medida que ela própria ia amadurecendo. Criou um blogue "True Crime Diary" e publicou vários artigos em relação a crimes não resolvidos. Até que se tornou obcecada pelo East Area Rapist (EAR), também conhecido por Original Night Stalker (ONS) - uma figura sinistra que durante 10 anos, vigiava as suas vítimas, violava as mulheres e chegou a matar cerca de 10 pessoas.

Este livro conta-nos a forma como Michelle McNamara trabalhou no caso, as horas que perdeu a juntar factos, e a perseguir um homem que durante mais de três décadas não foi apanhado pelas autoridades... o trabalho que desenvolveu junto dos detetives do caso, ativos e já aposentados, para conseguir resolver esse mistério.

Outro aspeto muito interessante é que podemos acompanhar a forma como, por exemplo, o DNA foi ganhando importância ao longo das décadas, e a maneira como as autoridades descobriram que havia evidências em diferentes condados e tentaram estabelecer uma rede de trabalho.

Não podemos esquecer que estamos a falar do final dos anos 70 e a maior parte dos anos 80. Não havia Internet, não havia redes sociais, nem sequer plataformas para comparação de dados entre as investigações, pelas autoridades.

Este livro é um daqueles que ou se gosta ou não se gosta. Da perspetiva da jornalista, este é um livro fenomenal. É um documento brutal de um trabalho de investigação exaustivo, um verdadeiro exemplo de como deve ser a investigação jornalística. Mas não é um "bê-à-bá", não nos conta uma história linear, não é um thriller que nos desafia a descobrir o final... é um documentário que a própria autora não conseguiu concluir. Demorei, por isso, quase 15 dias para o terminar.

McNamara morreu em 2016, e o livro foi concluído pelo marido, por Paul Haynes (escritor de crimes) e por Billy Jensen (jornalista de investigação), e publicado apenas em fevereiro de 2018. Dois meses após a sua publicação, Joseph James DeAngelo, de 72 anos, foi detido. O DNA ligava-o a seis crimes, associados ao EAR/ONS.

Desaparecer na Escuridão tem prefácio assinado pela autora Gillian Flynn. A HBO adquiriu os direitos do livro, e a série está prevista para finais de junho deste ano.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Lidos: #48hnanona

A Sofia do canal The Daily Miacis e a Faith Strange do canal com o mesmo nome promoveram no fim de semana de 22 a 24 de maio um desafio de leitura: ler comics, BD's, graphic novels... o que fosse, desde que em quadradinhos. 

Alinhei, pois está claro, porque tinha, cá em casa, "material" para "despachar", nomeadamente, os volume de A Liga dos Cavalheiros Extraordinários (de Allan Moore e Kevin O'Neil). Calhou também, nesse fim-de-semana ter "desconfinado" um bocadinho e ter trazido o 2.º volume de The Promised Neverland e o 6.º de Saga.


First things first. A Liga dos Cavalheiros Extraordinários. 

Vi o filme, do princípio ao fim, há muito tempo e não me entusiasmou particularmente. Antes mesmo de saber que tinha como base os livros, achei a ideia interessante, mas houve ali qualquer coisa que não fez "clic". Mais tarde, descobri que havia um livro envolvido, que as filmagens foram caóticas, que o Sean Connery abandonou, definitivamente, a indústria devido àquele filme, que houve demasiadas liberdades artísticas que desagradaram Moore... enfim, um sem número de coisinhas ruidosas. E não perdi mais do meu tempo a pensar no assunto.

Um belo dia, encontrei os livros cá em casa. Obviamente, são do meu excelso esposo e estavam na nossa arrecadação, juntamente com outras coisinhas que irei ler com o tempo... entretanto, lancei ao Universo um "que se lixe!" e comecei a ler. Escusado será dizer que, se o filme tivesse seguido a ideia do seu criador, a coisa talvez tivesse corrido melhor. 

Estamos em 1898, ainda durante o reinado da Rainha Vitória. Mina Murray (anteriormente conhecida como Mina Harker), ao serviço da Inteligência Britânica, é escolhida para selecionar algumas das pessoas mais capazes para defenderem o Império Britânico de uma terrível ameaça. São escolhidos: o Capitão Nemo, Allan Quatermain, o Dr. Jekyll e Hawley Griffin (o Homem Invisível). É ela quem assume a liderança do grupo, até porque aquele que, em teoria, seria o mais forte - Quatermain - é viciado em ópio e está muito longe do homem das "estórias". Mina não esconde a sua desilusão, e diz-lho frontalmente. 

Nos dois volumes (que em Portugal foram, por sua vez, divididos em outros dois), o grupo consegue impedir uma guerra entre Fu Manchu e o Professor Moriarty, e tomam ainda parte dos eventos descritos na Guerra dos Mundos de H. G. Wells. 

As referências a outras personagens de outras obras é uma constante, o que acaba por ser muito divertido, na óptica do leitor, dado que temos a oportunidade de ver essas figuras do nosso imaginário a interagir.

Gostei tremendamente mais dos livros. Por coincidência, há dois dias (à data da publicação deste post) o filme voltou a passar na televisão, numa dessas dezenas de canais. Ver lá o Tom Sawyer ou o Dorian Gray não me pareceu natural, e ver a personagem de Mina tão apagada foi uma verdadeira decepção.

Os livros contêm, no fim, alguns desenhos de capas alternativas, bem como histórias que envolvem estas personagens. 

Li ainda The Promised Neverland e fiquei, novamente, rendida à saga dos órfãos que descobrem que o orfanato que habitam é algo muito diferente daquilo que pensavam.