Páginas

sábado, 17 de novembro de 2018

Lido: As Flores de Lótus, de José Rodrigues dos Santos

Antes de mais, este livro assinala um momento "importante" para mim: alcancei a marca de 40 livros lidos em 2018 - o número de livros que me havia proposto ler no GoodReads. Alcancei o meu objetivo e isso deixa-me muito satisfeita.

À direita, na foto, está a capa original do livro.
À esquerda, a capa falsa, vista com mais frequência nos escaparates 

Agora, falemos do livro. É algo complicado, vou ser sincera. José Rodrigues do Santos elaborou, com este livro, um compêndio

da História Mundial, com salpicados de romance histórico. Temos um narrador que nos introduz à história de Artur Teixeira, um menino que vive com os pais, algures em Moçambique. Aos 10 anos, separa-se dos pais, e fica aos cuidados do Colégio Militar, em Lisboa.

Ao mesmo tempo que acompanhamos o crescimento de Artur, assistimos à queda da Monarquia, à instabilidade política nacional, à entrada de Portugal na Grande Guerra, à revolução de 1928, à entrada de Salazar no governo português...

Depois, conhecemos a família japonesa Satake. E da família russa Skuratov. E dos chineses Yang .

Cada uma das 4 famílias representa uma história e cada história é a representação de um momento da grande História Mundial. Tomamos conhecimento - pelos olhos de cada uma das crianças de cada família - às convulsões políticas e às revoluções desde o início do século XX.

Não é um mau livro. Mas é denso. Tal como disse acima, é um compêndio de História e um excelente resumo da ascensão de regimes de caráter totalitário, um pouco por todo o mundo. Em algumas vezes, senti-me perdida. A determinado momento, estava a ler um extenso monólogo na parte chinesa, sobre o comunismo. Há momentos complicados de conseguir seguir. Muitas conversas de caráter filosófico e político, muitas explicações, muitos nomes... historicamente, está aqui um pequeno mimo. Como romance, o leitor tende a dispersar e a "pedir" que a "lengalenga" acabe rapidamente.

Os capítulos não são muito longos. Uma ou outra vez, lá calha um mais compridinho, mas nada que assuste. O livro está dividido em 3 partes, que nos são introduzidas por uma página especial com excertos de Basho Matsuo (poeta japonês), Wang Changling (poeta chinês) e Li Ho (escritor chinês).

O livro - que faz parte de uma trilogia - deixa-nos no final dos anos 20, do século XX, às portas da Depressão de 1929, conforme nos alerta o narrador.

É inevitável estabelecermos paralelismos com a atual situação económico-política, nomeadamente, no que toca aos discursos de apologia à violência e da ascensão de movimentos extremistas. É um livro que recomendo, mas, com a salvaguarda: não esperem um romance típico. É quase uma aula de História, com elementos ficcionais lá pelo meio.





segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Novidade: A Sombra da Verdade, de Luís Ferreira

"Tropecei", por um mero acaso, há pouco tempo, com a página do escritor Luís Ferreira.
Essencialmente ligado à poesia, o Luís resolveu arriscar pela edição de romances.  Entre o Silêncio das Pedras (2013), O Peregrino (2016) e A Sombra da Verdade (2018) - todos sobre a temática dos Caminhos de Santiago. Os livros podem ser todos encontrados na Wook - deixo-vos a papinha toda feita: o link segue para a página do autor da Wook, com a apresentação de todas as obras.

Para começar achei a capa com uma aura tão misteriosa que tive de explorar mais. Ao ler mais um pouco, apercebi-me que tinha qualquer coisa de Dan Brown, e aparentemente não me enganei.  No Goodreads, A Sombra da Verdade tem a classificação de 4,5 estrelas - já li muitos livros com pior classificação - e as críticas são muito favoráveis.

Contactei o Luís através de mensagem no Facebook, que, simpaticamente, respondeu pouco depois e me enviou os materiais de divulgação desta obra 100% portuguesa. Deixo-vos aqui a sinopse o livro e o respetivo booktrailer para se entusiasmarem tanto como eu.

Mais uma achega: os livros Entre o Silêncio das Pedras e O Peregrino têm classificações de 4,2 e 4,4 estrelas, respetivamente, no Goodreads.

Sinopse:
Rafael Franco, um conceituado escritor português, que aborda sobretudo os Caminhos de Santiago na sua escrita, vê-se arrastado para a investigação a um estranho assassinato, após ter sido convidado para a apresentação do seu novo livro na capital da Galiza.
Uma antiga e secreta organização, autoconsiderada um braço armado de Deus, procura garantir, a qualquer custo, que a História, tal e qual a conhecemos, não seja alterada. Mas o aparecimento de um misterioso manuscrito do século XII coloca em alerta o grupo, já que o texto contém novos indícios relativos à fundação do culto ao Apóstolo São Tiago.
De um momento para o outro, e ainda sem perceber o que se passa à sua volta, Rafael irá encontrar-se no meio de uma teia de poderes obscuros e tornar-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, que não só poderão colocar em causa a História, que temos como verdadeira, como a sua própria vida.

Booktrailer
sou da opinião que todos os livros deviam ter um


Sobre o autor:
Luís Ferreira nasceu no Barreiro, em 1970. Vive actualmente em Alcochete. Colabora regularmente com diversos websites ligados à escrita e às artes.
Publicou várias obras de poesia e prosa, iniciando a sua carreira literária em 2007.A sua poesia está também espalhada por diversas colectâneas. Do seu currículo consta uma menção honrosa no XIV Concurso de Poesia da APPACDM – 2009.

domingo, 4 de novembro de 2018

Lido: O Amante Japonês, de Isabel Allende

Maratona Literária: ler um livro com flores na capa - neste, é uma gardénia... muito importante no decorrer da ação.

Devem ser raros os livros com flores na capa que não sejam um romance, ou de botânica... este tem um "cheirinho" de botânica e a história de um amor que nasceu durante a 2.ª Guerra Mundial.

Alma e Ichimei apaixonam-se quando ainda são crianças... e pouco mais tarde, numa altura em que ser japonês, nos Estados Unidos da América, era pior do que ser nazi, surge a primeira separação que, no fim, mostra que o amor é mais forte do que as convenções sociais ou do que o preconceito.

Aproveitei este fim-de-semana de chuva para começar a ler este livro de Isabel Allende. Por alguma razão, durante muito tempo, rejeitei Allende. Estava farta de histórias de amor, talvez. Mas, com este "O Amante Japonês", chorei.

Pelo meio conhecemos Irina, uma jovem moldava com um passado tão tumultuoso e traumático que, ainda hoje, em adulta, sente, na pele, as dores de quando era criança. Seth, neto de Alma, tem uma passagem, por este livro, mais subtil. Não é o herói romântico desta história, mas é um homem de gestos por amor.

Vale a pena ler O Amante Japonês. Nele lemos sobre guerra, pedofilia, homossexualidade, cancro, VIH/SIDA, síndrome de Down, dor, perda, amor, amizade... é um romance muito completo e cheio de detalhes e de pequenas passagens de uma poesia maravilhosa.

A própria estrutura do livro é muito descomplexada... alternamos entre pedaços do passado de Alma, com a visão de Seth e de Irina, com bocadinhos de outros personagens que, não tendo um papel fundamental, são essenciais para que as linhas se cruzem e formem um quadro completo.

Excerto de uma carta de Ichimei:

"Afirmámos muitas vezes que amarmo-nos é o nosso destino, amámo-nos em vidas anteriores e continuaremos a encontrar-nos em vidas futuras. Ou talvez não exista passado nem futuro e tudo aconteça simultaneamente nas infinitas dimensões do universo. Nesse caso, estamos unidos constantemente, para sempre."

sábado, 3 de novembro de 2018

Lido: O espião que saiu do frio, de John le Carré

Comprei este livro há muitos anos, por meia-dúzia de cêntimos, numa feira algures na Praia da Vieira. Sei que o li. Mas, na verdade, foi como se o tivesse lido pela primeira vez: as minhas memórias eram quase nulas. Só me lembrava dos instantes iniciais quando o protagonista vê morrer, à sua frente, um dos seus colaboradores, baleado por militares alemães, do "outro lado da Cortina".

Pouco há a dizer sobre O espião que saiu do frio - um livro, editado em meados de 1963, que já foi lido por milhões de pessoas.

Leamas, espião britânico, quer-se reformar. Com 50 anos, sente-se assoberbado com o trabalho e pretende "deixar o frio". Contudo, é chamado para uma última missão: tem de se infiltrar no seio do inimigo para proteger a identidade de um espião que faz jogo duplo.

A atual geração de leitores e amantes de cinema já leu (e viu) muito James Bond, muito Ethan Hunt, muito Bourne e, talvez - só talvez - não consiga ter ideia do que este livro significa: estamos a falar de uma obra de espionagem que foi escrita e lançada em plena Guerra Fria, em que os movimentos pró-EUA ou pró-URSS estavam em ebulição.

É isto que me fascina nestes livros antigos - O espião que saiu do frio, foi considerado, em 2005, pela revista Time, como um dos 100 melhores romances de todos os tempos - é aquilo que podemos ler nas entrelinhas, se nos pusermos no tempo e ação do que estamos a ler. Hoje, há muitos romances históricos, thrillers históricos, que nos tentam localizar naquele tempo e naquela ação. O espião que saiu do frio foi escrito numa altura... bélica... por assim dizer e Carré não nos poupou nem um bocadinho, quando se tratou de descrever o sentimento reinante entre os agentes ativos.

Este livro pertence à coleção Minerva de Bolso, e data de 1973 (10 anos antes do meu próprio nascimento). Considerei-o como "thriller" para o Livropólio, a maratona literária em que estou a participar, desde 5 de outubro.

Mais espionagem (com desconto) na Wook: 

casa-de-espioes-mrec