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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Lido: Amália - O romance da sua vida, de Sónia Louro

(ups, I did it again... este post estava, em teoria, agendado para 7 de outubro)

Amália. Vejamos. Isto dava pano para mangas, mas ao mesmo tempo, aquilo que conheço sobre a senhora dava meia página A4, com espaçamentos de tamanho 2, e tamanho de letra 14. Do your math...

Lembro-me de ser pequenita e ouvir o fado "Casa da Mariquinhas" da Amália e adorar a música. Era uma das faixas dum vinil dos meus pais. Uma qualquer coletânea de grandes sucessos. A letra passou-me totalmente ao lado. Mas o som da guitarrada e a voz dela, divertiam-me. 
Anos mais tarde, ouvi o "Povo que lavas no rio". Sabia que era um fado da Amália, mas foi numa outra voz que o ouvi. Logo a primeira frase "Povo que lavas no rio / E talhas com o teu machado / As tábuas de meu caixão" deixou-me intrigada. 

Aquela figura que via na televisão. Aquela figura que cantava vestida de negro e de olhos fechados, e agradecia sempre com um "obrigada" arrastado e nasalado. Era mais aquilo que me afastava do que o que me atraía em Amália. Depois ela morre. E os milhares de pessoas que foram ao funeral deixaram-me a pensar que - talvez - talvez! - houvesse ali qualquer que me tinha escapado. 

Hoje entendo. A Casa da Mariquinhas, por exemplo, é muito mais que uma música que, ainda hoje, me faz balançar o corpo. É a memória. É a nostalgia pelo que se perdeu no tempo... um tempo que vinha a ser cantado desde Alfredo Marceneiro. A letra é de Alberto Janes, autor de outros grandes temas cantados por Amália. 

Pra terem feito da casa o que fizeram 
Melhor fora que a mandassem prás alminhas 
Pois ser casa de penhor 
O que foi viveiro de amor 
É ideia que não cabe cá nas minhas

Mas, a pessoa que Amália era, não conheço. E foi precisamente para a conhecer melhor que li o livro Amália - O romance da sua vida de Sónia Louro (editado em 2012, pela Saída de Emergência). Atenção que não se trata de uma biografia. Li, em janeiro do ano passado, O Cônsul Desobediente (sobre Aristides de Sousa Mendes), e percebi que o que a autora faz é pegar em factos, em dados conhecidos, pegar na biografia da personalidade A ou B, e romanceá-los. 

É um livro interessante, mas não será por ali que irei alcançar aquilo que pretendo. O livro segue Amália desde o seu início, no Retiro da Severa, até à sua morte. Os capítulos são curtos, e fáceis de ler. A própria escrita da autora é muito simples e foca o essencial. É claro que sabendo de antemão que é um romance, não poderemos saber o que pensava Amália em determinados momentos, mas chateou-me um bocadinho que a autora fosse "bater sempre na mesma porta". Invariavelmente, começávamos a ler passagens em que Amália falasse na imensa tristeza que sentia, na ausência de felicidade plena, nos medos que tinha... tornava-se repetitivo e desnecessário.

Não desgostei do livro, entenda-se, mas acaba por ser apenas a superfície de um vasto lago; é, sem dúvida, um bom ponto de partida para quem tem pretensões de explorar mais sobre Amália.  

Li este livro para os projetos Maratona Literária (autora nacional), Português é Bom (letra S) e Luz de Outono (letra L). 

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