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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Lido: Vozes de Chernobyl, de Svetlana Alexievich

À semelhança do que li em A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, Svetlana Alexievich voltou a procurar aqueles que tinham algo para contar.

A autora, mais do que escriba, mais do que jornalista, mais do que escritora, saber ler as pessoas e fazê-las falar. Vozes de Chernobyl foi publicado 11 anos após o desastre nuclear, e agora ganhou novo fôlego com a série da HBO (que ainda não vi).

(é tudo tão horrível que, talvez esta venha a ser o texto mais pequeno que irei alguma vez publicar neste blogue. Ou não. Neste ponto ainda não sei. Sou muito orgânica, e raramente apago o que escrevi antes e publico "à primeira")

Há meses quando li os relatos das mulheres e o seu papel na guerra, disse que tinha sido um livro que não me tinha dado prazer algum.E este acompanha essa minha primeira opinião. Especialmente os relatos das mulheres que perderam filhos, ou os testemunhos das crianças. Esses doeram-me profundamente. Desde o 1.º dia em que soube que estava grávida, a minha sensibilidade para estes temas aumentou a níveis impensáveis.

O estilo da autora é único. O que faz é pegar na sua experiência de jornalista e compor textos com base em entrevistas. Durante meses, procura as pessoas, passa tempo com elas, conversa com elas, ganha a sua confiança e entrevista-as, fá-las falarem mesmo daquilo que pretendem esquecer. Os livros de Svetlana Alexievich são retratos, são mini-documentários em formato escrito, são a memória de quem, inevitavelmente, irá morrer... mas essas palavras escritas irão ficar para sempre. E esse é o grande poder. 

* * *

Muito raramente um país está preparado para lidar com tragédias. Sejam atentados, sejam acidentes industriais, sejam incêndios, inundações, terramotos, furacões... you name it. Ninguém está preparado para lidar com isso, por melhor preparado que esteja. Mas, a forma como a URSS lidou com este drama é inenarrável.
Desde esconder informações, desde não equipar os "voluntários" (meto entre aspas, porque estes supostos voluntários, eram convocados para comparecer), desde acusar supostos espiões de sabotagem... correu tudo mal desde o 1.º minuto. Lidar com vidas não é, nem nunca deverá ser, política. Revoltante, no mínimo.

De Svetlana, em Portugal, existem mais três livros e eu não sei se tenho coragem para voltar a ela.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Lido: A Espada do Destino, de Andrzej Sapkowski - COM SPOILERS

Um dos meus objetivos para este mês está cumprido: terminar A Espada do Destino - 2.º volume da saga The Witcher do polaco Andrzej Sapkowski.

Torna-se muito complicado falar de uma série de livros, sem revelar spoilers. Portanto, um bocadinho lá mais para a frente, vou falar da trama do livro, mas avisarei antecipadamente.

* * *

Havia lido o 1.º volume (O Terceiro Desejo), em agosto, durante as férias. Tinha adorado e comprámos o 2.º volume quase imediatamente. Terminei-o há três dias, mas entretanto o pequenino cá de casa começou com febre, e o tempo para o post, escapou-se por entre os dedos.

Continuamos a seguir as aventuras de Geralt, o nosso "witcher", caçador de criaturas e monstros. Logo, neste livro, Geralt conhece um homem algo extravagante que o convida a juntar-se a ele. Seguindo o seu instinto de "não tenho nada melhor para fazer agora", Geralt aceita o convite. Entretanto, ouvem falar de uma grande caça a um dragão, e levados pela curiosidade, seguem a caravana. Até que surge o nome de "Yennefer", a feiticeira que arrebatou Geralt. E é nesse momento que o seu interesse nessa caçada desperta.

Tal como o nome do livro bem apresenta, o "destino" é uma constante neste livro. O seu papel é tremendo. E é esse mesmo destino que irá juntar Geralt e a princesa Ciri, que conhecemos de ouvir falar no primeiro livro.

Antes de passar aos spoilers, quero dizer que gostei mais deste livro do que do 1.º. Em O Terceiro Desejo conhecemos muito de Geralt, mas mais através de "short stories"; o livro é, basicamente, um conjunto de contos de situações que Geralt enfrentou, ou histórias que são contadas por terceiros.
Neste volume, temos uma narrativa mais consistente, mais com cabeça-tronco-e-membros, apesar de Sapkowski continuar a jogar com o tempo: anda para a frente e para trás e "brinca" com as memórias de Geralt, oferecendo-as ao leitor como se jogasse à sueca, e guardasse o trunfo para o fim da partida.

5 estrelas, claro, de caras. A fantasia está a tornar-se, cada vez mais, um género em que irei apostar em 2020. E The Witcher está, obviamente, nos meus planos. Sobre a série, já vi o 1.º episódio e não estou nada desiludida. E o Henry Cavill está muito bem - ajuda bastante ele ser um fã do género e de Geralt em particular.

- SPOILERS a partir daqui - 

Para quem como eu, está a começar a ler agora esta saga, só neste momento nos apercebemos que algo mais grave do que a "simples" presença de monstros fantásticos está prestes a acontecer: o império de Nilfgaard está a invadir vários reinos do Sul.

Geralt esteve bastante doente após o encontro com uma criatura que o fere com gravidade, e está completamente alheado da situação. Durante este tempo, é sua mãe (uma feiticeira) quem cuida dele. É a 1.ª vez que se reencontram desde a infância de Geralt, e é um encontro bastante tocante.
Apenas quando descobre que um dos reinos já destruídos foi Cintra é que a sua preocupação se manifesta. Recorde-se que, no 1.º volume, ele invoca a "Lei da Supresa" após levantar uma maldição: ele reclama algo inesperado. Pavetta, a princesa de Cintra, sem que ninguém saiba, está grávida. E é Ciri, a princesinha por nascer, que irá estar na linha do destino de Geralt.

Após 6 anos, tal como combinado, Geralt dirige-se a Cintra para reclamar a sua criança (que ele, na altura ainda não sabia que era uma menina), para educar na arte de bruxo. Calanthe, a rainha, recusa e aponta para um grupo de crianças: Geralt poderá levar qualquer uma delas, se for o herdeiro de Cintra, tanto melhor... Geralt volta atrás, e recusa pegar em qualquer uma delas.

Anos mais tarde, quando Cintra cai, Calanthe quase a morrer, diz à neta, a princesa Ciri, que deverá procurar Geralt de Rívia, que ele é o seu destino.

Após recuperar dos tais ferimentos, de conhecer a sua mãe, de saber da queda de Cintra, Geralt que já havia conhecido, anteriormente, Ciri em outras circunstâncias, está mortificado por esta catadupa de informações. Até que, nos parágrafos finais, reencontra a princesa que manifesta querer segui-lo.

Mais do que tudo, agora quero ver como é que esta relação vai crescer. Quem chegou até aqui e está ao mesmo "nível" que eu: o que esperam do 3.º volume?

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O que vou ler até ao fim do ano?

Acho que já referi que, após o falecimento do meu pai, entrei numa onda de não me apetecer muito ler. Desde há um mês, só terminei 6 livros - 4 eram graphic novels. Ao longo do ano, lia, em média 7,81 livros (fiz as contas) por mês. Portanto, 6 livros num mês e meio (não esquecer que 4 foram em formato BD!) é um número algo baixo.

Neste mês de dezembro, que já vai a meio, gostava de terminar Vozes de Chernobyl (ebook) que comecei ainda no mês passado. Estou, sensivelmente, a meio do livro.
Também quero terminar o 2.º volume da saga The Witcher, A Espada do Destino.
Como não tinha já demasiada sarna para me coçar, trouxe ainda da Biblioteca, mais um livro de Carlos Ruis Zafón.


E ler ainda as duas graphic novels que ainda ali estão desde o Amadora BD.


Meto as minhas metas baixinhas, porque assim a possibilidade de as alcançar é um pouco maior. Aprendi que o melhor é não fazer promessas (diz a pessoa que no início do ano, definiu 13 leituras para fazer, e ainda assim deixou por ler 5). 


terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Lido: Joker e Frango com Ameixas

Joker, de Brian Azzarello e Lee Bermejo
e
Frango com Ameixas, de Marjane Satrapi

Decidi fazer um post único com as duas graphic novels que li, mais precisamente há uma semana, e que, vergonhosamente ainda não tinham sido alvo de post no blog.

 
Joker foi a primeira. É uma das compras do Amadora BD (ainda ali tenho mais duas que deverão ser lidas até ao fim do ano). Este livro foi comprado no seguimento do filme, mas, não tem nada a ver. Não se julgue que é o livro do filme, porque não é. Este álbum inclui duas histórias "Piada Mortal" e "Joker". Em ambas, assistimos ao escalar de loucura desta personagem. Na primeira, Joker foge do Arkham Asylum e consegue raptar o Comissário Gordon. Aqui temos acesso a uma das muitas versões da história de como Joker se tornou Joker. 

Na segunda história, Joker não foge do manicómio, mas é libertado. A ação é nos contada por Jonny Frost, um "associado" de um "associado" de Joker que foi incumbido de o ir buscar. E, nesse mesmo dia, decide vingar-se de todos aqueles que julga que o atraiçoaram durante o seu tempo fechado. 

Mas, mais do que o enredo, a arte deu cabo de mim. A minha área é Letras, percebo "zero" de Artes, mas fiquei louca com os detalhes, com as cores, com as sombras (essenciais ao retrato de Gotham City). Vale cada página. 

Há poucos dias, comprei na FNAC, o Frango com Ameixas da Marjane Satrapi, autora de Persépolis (que não li, mas tenho o filme). Este livro é substancialmente diferente do anterior. Neste, já não seguimos a nenhum momento da vida de Marjane, mas sim de um tio-avô. 

Nasser Ali Khan era tocador de tar, um instrumento de cordas tradicional das zonas de Irão, Azerbeijão, Geórgia e Arménia. Um dia, depois de uma discussão com a mulher, ela parte-lhe o seu tar. Nasser, inicialmente, tenta encontrar um instrumento substituto, até que desiste e deixa-se morrer, de desgosto. Ao longo dos dias, Nasser vai lembrando todas as pessoas e o seu percurso desde jovem, as frustrações, as pequenas alegrias... 

O registo gráfico é o mesmo que já conhecemos: a preto-e-branco. É uma história muito simples, mas muito interessante. Mantém aquele caráter biográfico que acompanha também alguns momentos da história de Teerão no final da década de 50. 

Tal como Persépolis, também este Frango com Ameixas foi adaptado ao cinema (informação adicional: está disponível no Youtube, dobrado em português do Brasil), com Maria de Medeiros a protagonizar o papel da esposa de Nasser Ali. 

Na minha opinião, está uns pontos abaixo de Persépolis, mas é uma obra muito muito interessante, e que merece que lhe prestem a devida atenção. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Lido: O Bom Inverno, de João Tordo

Nunca tinha lido nada de João Tordo. Imagine-se que nem sabia que é filho do Fernando Tordo (o
cantor... informação para a malta mais nova que, eventualmente, leia este texto). O meu desconhecimento chegada a este nível. Adiante. O importante nesta minha introdução é que nunca tinha lido nada dele.

Já tinha ouvido algumas coisas, mas nunca me tinha sentido impelida a ler alguma das suas obras. Recentemente, lançou um novo livro que me chamou a atenção - "A noite em que o Verão acabou". E a verdade é que o nome "João Tordo" já anda no mercado há bastante tempo, não é uma moda de Verão.

Numa ida à biblioteca com o Henrique, apesar de ter dito que não iria trazer nenhum para mim, porque tenho imensos ainda por ler, em casa, encontrei "O Bom Inverno". O que sabia do livro? Nada. Zero. Trouxe-o na mesma, sem ler sequer a sinopse. Podia ter corrido mal.

Mas correu bem. A leitura foi mesmo muito rápida, porque o livro leva-nos a isso mesmo. A história prende o leitor de forma a querermos descobrir o final. Apesar de "A noite em que o Verão acabou" estar a ser apresentado como o 1.º thriller de João Tordo, este "O Bom Inverno" tem muitas características de um livro desse género.

Temos um escritor a entrar num período decadente. Não consegue escrever. Teve um acidente e ficou muito magoado - inspirado pelo Doctor House, comprou inclusivamente uma muleta, para não coxear - e a namorada terminou com ele.
Numa altura em que a negritude lhe está a chegar em velocidade cruzeiro, é convidado para integrar o painel de uma conferência em Budapeste, com outros escritores europeus.

Lá, conhece um jovem escritor italiano que o convence a ir até Itália, à mansão de um poderoso produtor de cinema, longe de olhares indiscretos, por causa de um negócio que lhe poderá ser vantajoso.

Depois de uma noite agitada, com álcool e comprimidos para as dores, e com um grupo inusitado de personagens que aguardam a chegada do anfitrião, este é encontrado morto na manhã seguinte. Um dos empregados isola todos os envolvidos na mansão que, tal como eu já disse, fica localizada numa área longínqua. O objetivo é descobrir o assassino de Don Metzger, o referido produtor. E, tal como se espera, ninguém é exatamente o que parece ser.

Foi uma leitura muito interessante. E, genuinamente, fiquei com vontade de ler mais de João Tordo. É um livro que nos faz avaliar as escolhas que fazemos. O nosso protagonista podia não ter ido a Budapeste, mas precisava do dinheiro. E foi. Podia ter ignorado o escritor italiano. Não se identificava com ele, mas como estava intrigado com as suas companheiras. E, convenhamos: foi vencido pelo cansaço. Podia não tomar a medicação. Há todo um conjunto de "ses" nesta história. Tal como há um jogo de aparências que ganha uma dimensão gigante quando nos sentimos ameaçados.
É um livro que nos dá a sensação de claustrofobia. Além do mistério: quem matou Don?

O exemplar que li é da Biblioteca Municipal de Sintra, e foi editado pela Dom Quixote.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Lidos: Deuses Americanos e Monstress

Deuses Americanos, de Neil Gaiman, P. Craig Russel e Scott Hampton

Monstress, de Marjorie Liu e Sana Takeda

Estes foram os senhores que se seguiram. Desengane-se quem pensa que "ler quadradinhos" é para descomprimir ou porque anda com demasiado tempo livre. Na atualidade, a Banda Desenhada é muito mais do que histórias levezinhas para a garotada ou os super-heróis desta vida.

A densidade das narrativas e das histórias apresentadas vão muito para além disso. Mas, também estou em crer que, qualquer leitor que se preze, já se terá apercebido disso.

Sobre estas leituras:
O primeiro, Deuses Americanos, é uma adaptação para novela gráfica do livro de Neil Gaiman (American Gods, 2001). Neste livro, o autor britânico (n. 1960) conta-nos que está na eminência de acontecer uma batalha entre os deuses: antigos e modernos.

Os imigrantes que chegaram aos Estados Unidos levaram consigo os seus deuses. Porém, o seu poder foi esmorecendo à medida que as crenças das pessoas foram desaparecendo. No entanto surgiram novos deuses que refletem as obsessões modernas: a televisão, as redes sociais, as celebridades, a tecnologia, entre outros.

O nosso protagonista, Shadow, está preso, mas prestes a sair. Pouco antes da data marcada, é-lhe comunicado que sairá mais cedo, dado que a esposa faleceu. Na viagem para casa, conhece Wednesday, uma figura misteriosa que lhe oferece um emprego.
Ao perceber que a morte da esposa não é tão linear quanto pensava, Shadow aceita a oferta de Wednesday, e juntos embarcam numa "road trip", pelos Estados Unidos, para convocar os deuses para a tal batalha.

Em julho, li o primeiro volume (aqui), e agora terminei o segundo. Nesta parte, Shadow continua a trabalhar com Wednesday, mas, ao mesmo tempo, está escondido de um grupo de homens, que a mando dos Novos Deuses, o quer capturar. O final ficou pendente à espera da terceira, e última parte, que está previsto que saia para o próximo ano.


Terminei Monstress na 3.ª feira à noite. Tenho andado esgotada, e só mesmo à noite (e ao fim-de-semana) é que tenho conseguido ler. Gostei imenso da história - o suficiente para querer saber o que se passará a seguir - mas não foi fácil entrar nela. Não sei se foi devido ao cansaço, ao meu estado de espírito ou à complexidade do enredo.

A nossa protagonista é Maika Meiolobo - é uma adolescente, sobrevivente de uma guerra entre espécies. Contudo, a sua vida é atingida por estranhos fenómenos, e a jovem apercebe-se da sua relação com uma criatura do outro mundo, que desperta.

A arte - com uma inspiração oriental - é qualquer coisa de tirar o fôlego. Neste momento, a série já tem três números publicados, em Portugal.


Ambos são editados pela Saída de Emergência

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Lido: O Império Final, de Brandon Sanderson

Quem me segue no Instagram, sabe que tenho estado a passar por uma fase mais complicada: perdi o meu pai, dois anos depois da partida da minha mãe. Não tenho estado na minha melhor forma, como seria expectável.

E, se quando foi da minha mãe, li imenso, para não me deixar absorver pela tristeza, agora tem sido o contrário: não me apetece ler, e tenho visto muito mais televisão. Os nossos mecanismos biológicos de defesa são uma coisa incrível, não haja dúvidas...

Contudo, e apesar de não me apetecer muito ler, tenho lido algumas coisinhas. Terminei O Império Final (trilogia Mistborn) do Brandon Sanderson, e li duas graphic novels que trouxemos da Amadora BD, ainda em outubro, e comecei, ainda, a ler Vozes de Chernobyl da Svetlana Alexievich. Mas, vamos às primeiras leituras.

Comecei a ler O Império Final a 28 de outubro. O meu pai faleceu no dia 3 de novembro. Estive dias sem lhe pegar, apesar de começar a interessar-me. Demorei um bocadinho a perceber a parte dos metais, e da dinâmica entre eles, mas depois que "engrenei" estava, genuinamente, a gostar. Mas depois, estive quase duas semanas sem ler uma linha sequer.

Gostei muito. A relação entre o Kelsier e a Vin - os protagonistas - é fabulosa! E ainda mais fabuloso é assistir ao desabrochar da Vin, quer como "nascida das brumas", quer como pessoa. é uma saga de fantasia, sem dúvida, a seguir.

Vou tentar explicar um pouco: o Império Final é dominado há séculos pelo Senhor Soberano, uma personagem quase mística, que fundou aquele território. O seu poder é divino, e domina pelo medo e pelo terror. Os skaa são o povo menor, inferior a tudo e todos. Escravos do Império Final, e dos nobre que ali habitam, os skaa nem ousam levantar a cabeça.
De entre eles, uma vez por século, junta-se um grupo rebelde cuja missão é derrubar o Senhor Soberano.
Kelsier, o nosso protagonista, é o Sobrevivente. Há anos, rebelou-se e foi enviado para os Poços de Hathsin, de onde nunca ninguém havia escapado. Graças à "alomância" que desenvolveu durante a sua prisão, Kelsier é uma figura respeitada.
Junta, portanto, um grupo de ladrões e vigaristas, com o objetivo de tomar as rédeas do Império Final. Neste grupo, é incluída, Vin, uma miúda de 16 anos, que fazia parte de um bando de ladrões comum, e que demonstra grandes capacidades alomânticas.

O livro está bem escrito, se bem, que, inicialmente, possa ser um pouco complicado entrar no esquema. Por se tratar de uma narrativa diferente do habitual, perceber a dinâmica dos metais alomânticos e a sua função, pode ser um desafio. E nas cenas de batalha, quando todos os alomantes estão ativos (por assim dizer), pode ser complicado seguir as descrições. Mas, fora isso, adorei o enredo, e quero muito ler o resto.

(amanhã, publico, num texto único, a minha opinião sobre as duas graphic novels. 
E fico com os textos todos atualizados )

A saga Mistborn está editada, em Portugal, pela Saída de Emergência

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A Filha da Madrasta, de Jennifer Donnelly - divulgação

Há algum tempo que não publicava um texto de divulgação de um livro. Mas, a história deste que se segue chamou-me a atenção.

Toda a gente conhece a história da Cinderela, certo? A menina, órfã de mãe, que, um dia, vê o pai casar com outra mulher, com duas filhas. O pai morre, a menina sofre pavores às mãos da madrasta e das suas filhas, vai ao baile, conhece o príncipe, apaixonam-se, sapatinho de cristal e bummm... princesa instantânea e felicidade eterna.

Mas... e se a história tivesse outros contornos? E se as filhas da madrasta tivessem motivações e sonhos, como quaisquer raparigas da sua idade? Porque é que, afinal de contas, elas eram tão más (nas palavras da Cinderela, e a fazer fé que a rapariga era honesta...)?

É esta a ideia por trás do livro "A Filha da Madrasta", de Jennifer Donnelly, agora publicado em Portugal, pela Chá das Cinco (chancela Saída de Emergência).

Eu, que cresci a ouvir as histórias encantadas de princesas, fiquei mesmo muito curiosa. "Porquê, Cristina Maria?", perguntam vocês. Simples: uma pessoa cresce e amadurece e percebe que as coisas da vida não são sempre negras, nem são sempre brancas... há ali aquele meio, cinzento farrusco e maroto, que nos ensina que... a vida nos molda... para o bem, e para o mal.

(e esta capa absurdamente deliciosa, senhores...?!)


Sinopse: 
Isabelle deveria estar feliz – afinal, está prestes a ficar com o príncipe. Mas Isabelle não é a bela rapariga que perdeu o sapato de cristal e ganhou o coração do príncipe. 

Ela é a meia-irmã feia que cortou os dedos para que o sapato da Cinderela lhe servisse. Quando o príncipe descobre o engodo, Isabelle fica devastada pela vergonha. Afinal, ela é apenas uma rapariga comum num mundo que só valoriza a beleza; uma jovem forte num mundo que a quer submissa.

Isabelle tentou mudar, cumprir as expectativas da mãe. Ser como a sua meia-irmã. Doce. Bonita. Um a um, desfez-se de pedaços de si para sobreviver num mundo que não valoriza uma rapariga como ela. E isso tornou-a má, ciumenta e vazia. Até que Isabelle tem a oportunidade de alterar o seu destino e provar que é preciso mais do que um coração partido para vergar uma rapariga.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Lido: Uma Praça em Antuérpia, de Luize Valente

No Verão do ano passado, li Sonata em Auschwitz desta autora, literatura bastante "levezinha" para se ter durante as férias, pois então.

Agora li, Uma Praça em Antuérpia, onde voltamos a "misturar" a História de Portugal com a História contemporânea europeia.

Anos 2000.  No Brasil, uma mulher, na casa dos oitenta anos, assinala a passagem de ano com a família, relembrando o filho Luiz Felipe que havia falecido há pouco tempo. À medida que os convivas se vão recolhendo, Olívia revela a Tita, sua neta, que não é Olívia, mas sim, a sua gémea, Clarisse.

E aqui começa a história. Clarisse começa a contar à neta, o segredo que guardou por mais de 60 anos, e que poderá mexer com toda a estrutura familiar.

A mãe das gémeas, Clarisse e Olívia, morre ao dar à luz, e as crianças são criadas por uma avó, já que o pai, com o desgosto, não quer saber delas. Em adultas, mudam-se da zona de Guimarães para Lisboa. Uma delas - Olívia - casa com o filho da empregada delas de infância, e a outra - Clarisse - apaixona-se por um judeu polaco que conhece num dia em que se perde pelas ruas lisboetas. Theodor - que já havia fugido da sua pátria, devido aos avanços da extrema-direita de um homem chamado Hitler - em Portugal, é perseguido, por ser comunista.

Até que decide, de novo, fugir. Clarisse fica em Portugal, grávida, sem que Theodor o saiba. Um dia, cansado de fugir, ele regressa e descobre que a mulher que ama está grávida, e volta a procurá-la. Casam e mudam-se para Antuérpia, na Bélgica, convencidos que o movimento militar alemão não irá chegar até ali. O bebé, Bernardo, nasce em clima de relativa tranquilidade.

Em Portugal, por sua vez, o regime salazarista faz com que Olívia e António vendam a casa e o seu negócio e planeiem ir para o Brasil. Aliás, António parte para ir adiantando as coisas.

Na Europa, o avanço nazi é estrangulador. António garante estadia e trabalho para os cunhados, acreditando que conseguem os vistos para o Brasil, mas nem tudo corre consoante o planeado. E como já sabemos, a determinada altura desta saga, as gémeas trocam de lugar...

No geral, gostei deste livro. A determinada altura, passei páginas meio da diagonal, porque a autora estava, claramente, a enrolar o enredo principal, e a repetir fórmulas que já tinha usado antes. Eram partes que não adiantavam minimamente a ação, e só serviam para encher chouriços. E achei o final, um tudo-nada metido ao pontapé: pareceu-me ligeiramente forçado, e não adorei por aí além.

Mas, como disse, globalmente, gostei. Os livros que se passam durante o período do nazismo, e que retratam, mesmo ficcionadamente, esta época da História Contemporânea, por norma, agradam-me bastante. Mais não seja por pretenderem relembrar as atrocidades cometidas por um grupo que se julgava superior a outros - não que tenha adiantado de muito, como se vê nos dias de hoje, mas pelos menos, tentam...

Mas não adorei. Agora já não é tanto o caso de ser picuinhas, mas houve um conjunto de situações descritas, e algumas soluções de narrativa que me deixaram algo incomodada, por parecer que não "batia a bota com a perdigota". Não sei se me faço entender?

Dei 3 estrelas. É um livro com o seu interesse, mas não essencial. Com esta temática, existem outros superiores qualitativamente.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Lido: Saga - volume 3, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples

Li Saga, pela 1.ª vez, em agosto. Já tinha ouvido falar maravilhas desta série, e juntei o útil ao agradável, e comprei o 1.º volume para participar no #agostoaoquadrado da Silvéria e do Fernando.

Em setembro, só porque sim, comprei o 2.º volume, na FNAC.

Em outubro, começou o Amadora BD e apesar daquilo que é praticado não serem, nem de longe, preços de feira, trouxe o 3.º volume. E não consigo parar...

Seguimos Alana e Marko, dois soldados de facções adversárias numa guerra intergalática. Os dois acabam por se apaixonar, e Alana engravida e tem uma criança mestiça, e vista como uma aberração, por ambos os lados.
Tal animosidade não podia trazer nada de bom, como é óbvio, e Alana e Marko (e a criança) são perseguidos por todos os lados, e forçados a esconder-se. Este é apenas o plot da história. Só lido! Porque contado não tem metade da graça.

Neste volume, por instantes, esta família quase consegue ter um pouco de sossego, na casa de um aliado, mas acabam por encontrados.

Volume 1

Volume 2

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Lido: A Noiva do Tradutor, de João Reis

Há uns meses, o João Reis cedeu-me o seu último livro, A Avó e a Neve Russa, por coincidência,
pouco antes do meu aniversário... um livrinho maravilhoso que trazia nele todo um conjunto de sentimentos. Ri-me com ele, chorei com ele e emocionei-me. Na altura, disse que queria ler mais de João Reis, e, no dia em que encontrei A Noiva do Tradutor, não mais o larguei.

É um livro pequenino - 128 páginas - que se lê num sopro, no momento em que entramos dentro da mente do nosso protagonista, cujo nome não conhecemos.

Vamos encontrá-lo num elétrico, após ter deixado a noiva embarcar para outro continente. Durante a viagem que faz, o tradutor vai observando tudo o que se passa à sua volta, e ao mesmo tempo, temos acesso aos seus pensamentos mordazes, pois naquele trajeto encontra várias situações que o deixam ainda mais deprimido.

Todas as pessoas com que se cruza são a personificação do egoísmo, da crueldade, e das injustiças que, essas sim, caracterizam a sociedade. Com pouco dinheiro nos bolsos, o nosso tradutor vive numa residencial, com outras pobres criaturas.

Todo o livro, é o relato deste homem, num estado puro de desalento, que, tenta, por todas as vias, vir à tona respirar e encontrar uma solução. Mas o abandono que acaba de sofrer é o grande motor para os revezes.

Se em A Avó e a Neve Russa, temos um protagonista sem nome, aqui passa-se o mesmo, mas com a diferença abismal que, se no 1.º, tínhamos uma criança como narrador, aqui temos um homem, com cerca de 30 anos, com pensamentos mais concretos e menos ingénuos. A crueza dos pensamentos dele (do protagonista), muitas vezes, entram em confronto com o que realmente diz - fazendo dele, também, parte do problema.

A escrita é, substancialmente, diferente do A Avó e a Neve Russa, como é óbvio, e detetei, no estilo, uns laivozinhos de José Saramago: o humor sarcástico e algo subtil, a análise à sociedade, a escrita seguida, sem grandes pausas e parágrafos...

A A Noiva do Tradutor foi, de resto, o seu 1.º livro, em nome próprio. Gostei bastante, e pretendo, sem dúvida, continuar a ler mais João Reis, que merece ser muito mais conhecido e que lançou agora mais um livro: Quando Servi Gil Vicente.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Lido: O Tempo Entre Costuras, de Maria Dueñas

Cheguei, finalmente, ao livro que comprei na Feira de Lisboa: O Tempo Entre Costuras, da espanhola Maria Dueñas.

Não fazia ideia do que se tratava - até porque não vi a série - mas os elogios sucediam-se. Fazia uma vaga ideia que envolveria costureiras e guerra, mas nada em particular. Comecei a ler, e a gostar da leitura. A escrita fluída, simples, sem floreados complicados... uma história que cativava de início.

Temos Sira a contar-nos sobre a sua vida como filha de uma costureira, em Madrid. A mãe trabalhava para uma modista de reputação, e até Sira começou ali o seu aprendizado. O dinheiro não era abundante, mas o suficiente para as duas. Vimos a saber que a mãe havia sido deixada pelo pai de Sira, e a rapariga nunca o conheceu.

Ecos de uma rebelião começam a chegar a Madrid. E o atelier de D. Manuela começa a perder a pujança de outros tempos, até que acaba por fechar. Sira, e o noivo, vão comprar uma máquina de escrever, para que a rapariga aprenda a datilografar e possa encontrar outro trabalho. Sira conhece Ramiro, o dono da loja, e o seu mundo fica virado do avesso, acabando mesmo por terminar o noivado e ir viver com este homem.

Um dia, embarcam - com alguma urgência - para Marrocos, acabando por se fixar em Tânger. E é aí que as coisas começam a descambar.

Não vou adiantar muito mais da ação do livro, porque este merece, realmente, ser lido. Não só pelo ambiente em que decorre - Sira vem a Lisboa, só para vossa informação - mas pela própria história, e pela História. Há tanto que desconhecemos sobre a Guerra Civil Espanhola, ou sobre o envolvimento espanhol na II Guerra Mundial e que estão aqui, "mascarados" de ficção. Esta "maquilhagem" está feita de tal forma que aprendemos coisas sem nos apercebermos.

É um livro muito interessante, e com uma escrita tão atraente que nem percebemos que temos um calhamaço nas mãos (624 páginas). Só não dei 5 estrelas, porque houve uns pormenores que deixaram "encanitada", mas isto sou eu que sou picuinhas. 

sábado, 19 de outubro de 2019

Lido: O Retorno, de Dulce Maria Cardoso

Li este livro, aos bocadinhos, em três noites. O Henrique vai para a cama às 21h30, e ainda me sobram duas (boas) horas de leitura, todos os dias, antes de cair de cansaço. E foi nestes bocados que li O Retorno.

Já o tinha visto - várias vezes - nos escaparates (esta palavra ainda se usa?), achava a capa bonita, um livro com um tamanho e forma interessantes, mas ainda não tinha dado o passo em frente. 

Há meses, ouvi a Silvéria "The Fond Reader" a falar tão, mas tão bem que "fiquei com a pulga atrás da orelha". Aproveitei há umas semanas, um saldo engraçado no cartão da Bertrand, e trouxe-o comigo. 

Começo pelo formato: mais pequeno do que o habitual e de cantos arredondados, O Retorno é um livro ergonómico e maneirinho de se pegar. Um ponto a seu favor. 

A história é impressionante: estamos em Angola em 1975, mesmo à beira da independência daquele território, em relação a Portugal. Os portugueses já estão todos a regressar à metrópole. Uma família está prestes a embarcar numa das últimas pontes aéreas seguras para Lisboa: pai, mãe e dois filhos adolescentes - rapaz e rapariga. 

No dia, o pai é levado por um grupo armado, e a mãe e os filhos conseguem embarcar. A chegada a Lisboa é tormentosa, confusa, triste, desesperante... vidas embaladas e enfiadas em malas num país que, em alguns casos, nem sequer conhecem. Por exemplo, o nosso narrador, Rui, um adolescente com cerca de 15 anos, nasceu em Angola, tal como a irmã (um ano mais velha).
O carimbo que recebem é o de "retornados". Se, por um lado, são recebidos e alguns alojados em hotéis - a família que seguimos é alojada numa unidade hoteleira de 5 estrelas no Estoril - de forma a minimizar os transtornos, o apoio burocrático do Estado é praticamente nulo. 

Eram pessoas que ficaram bastante ressentidas com o Estado português, por terem sido forçadas a abandonar tudo. Esse ressentimento é muito bem focado nos diálogos que as personagens têm no decorrer da ação. Assistimos a conversas em que estas pessoas se revoltam contra aqueles que culpam pela situação: Mário Soares e Almeida Santos, por exemplo. 

Tenho a impressão que, mesmo hoje em dia, esta questão não é muitas vezes abordada. Pessoalmente, não conheço ninguém que tivesse passado por esta situação terrível: ter de deixar uma casa, os seus pertences, negócios.. e nem sequer me consigo imaginar nesta posição: ter de selecionar, de entre as minhas coisas, o essencial para levar numa única mala e embarcar, para sempre, para um país que apenas conheço de ouvir falar. 

E Portugal não estava minimamente preparado para receber estas pessoas. Pelo que li, posteriormente, foram cerca de 600 mil pessoas que entraram no País, em ano e meio / dois anos. O 25 de abril tinha sido um ano antes, e ainda estava tudo muito confuso, para toda a gente.

É um livro essencial. Não ficaria surpreendida que, daqui a uns anos, se torne de leitura obrigatória nas escolas.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

Lido: O Conde de Monte Cristo - volume II, de Alexandre Dumas


Terminei a saga de Edmond Dantès. E com imensa pena. A história é sobejamente conhecida: Dantès é, injustamente detido, e passa 14 anos da sua vida no Castelo de If, onde acaba por conhecer o Abade Faria que lhe deixa uma enorme fortuna, caso consiga evadir-se daquela fortaleza.

Edmond consegue fugir e passa os 10 anos seguintes a planear a sua vingança contra todos aqueles que o prejudicaram. Vai também ajudar os que foram bons com ele.

Nem tenho palavras. É uma obra magnífica, das mais prazerosas deste ano, sem sombra de dúvida.

domingo, 13 de outubro de 2019

Lido: O Regresso do Desejado - volume I - A Ascensão, de Ricardo Correia

Este livro que terminei, na véspera do Encontro, já me era conhecido. O Ricardo Correia apresentou-o, em outubro do ano passado, em Sintra, e apesar de não ter podido assistir à sessão, ficou-me na retina, pela ideia inerente à sua escrita: e se Dom Sebastião tivesse regressado de Alcácer-Quibir? Quais teriam sido as consequências? Qual teria sido o rumo dos acontecimentos?

A História conta-nos que, após o desaparecimento do Rei português, Dom Sebastião, com apenas 24 anos, em 1578, instalou-se uma crise sucessória, acabando Portugal por se tornar território de Espanha, entre 1580 até 1640, com a ascensão de João IV, o Restaurador (dando início à última dinastia real, a Dinastia de Bragança).

O que Ricardo Correia fez com este livro foi um verdadeiro exercício de ficção histórica. Colocou várias personagens - umas ficcionadas, outras não - no centro de uma União Ibérica com Portugal à cabeça. Um Portugal que é o centro governativo dos dois territórios.

O resultado é uma trilogia muito interessante - sendo este o 1.º livro. O segundo volume - A Inquisição - foi apresentado ontem, dia 12 de outubro.

No Encontro de Booktubers, tive a oportunidade de trocar algumas ideias com o Ricardo sobre este livro. Especialmente sobre uma das minhas personagens favoritas, D. Leonor, que é fortíssima. O Ricardo garantiu-me que esta personagem - ficcionada - vai crescer ainda mais no 2.º volume.
De resto, mais do que a importância do papel de D. Sebastião, este livro tem três personagens femininas muito interessantes, tendo em conta o contexto em que a ação se passa.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

II Encontro de Booktubers

Vamos lá ver, não sou booktuber. Não tenho grande disponibilidade para tal, essa é a verdade. Para fazer vídeos, teria de abdicar de alguma coisa e... a família e os livros não são uma opção, senão... what's the point?!

Até podia fazer vídeos, mas não percebo puto de edição. Iria publicar vídeos, gravados com telemóvel, e com qualidade de 1960. Portanto, para já, cada macaco no seu galho... vou continuar a ler, a escrever aqui umas coisinhas e... um dia destes... pode ser que haja disposição para algo mais. Posto isto... não sou booktuber, mas fui ao Encontro em Leiria, no passado dia 5, que era aberto a book-bloggers e a instagramers.

E foi muito giro. Ao chegar lá, eu parecia uma groupie. Estavam lá a Silvéria, o Hugo, a Dora, a Elisa, a Isa, as Anas Lopes, a Roberta, a Dora Silva, a Cristina, as Marias João (Covas e Diogo), a Mafalda, a Sofia, o José... enfim, toda aquela gente que "bota faladura" sobre livros no Youtube, e cujos canais eu sigo. Havia ali aquela relação de "eu conheço-te, mas tu não me conheces".
O meu entusiasmo era comparável ao de uma adolescente a ir ao concerto do seu ídolo - mas daquelas adolescentes que passam duas noites ao relento, para conseguir lugar na fila da frente.

Tudo começou com a Rota Miguel Torga, onde pudemos conhecer os passos deste autor, durante a sua passagem pela cidade em finais dos anos 30, inícios dos anos 40. A registar: mais um livro na minha lista de obras a ler - A Criação do Mundo, de Torga.

Depois, houve um momento de troca de ideias com os autores Márcia Balsas e Ricardo Correia - o post sobre "O Regresso do Desejado" está atrasado, mas não esquecido. A parte da tarde abriu com mais uma conversa com Joana Afonso e André Oliveira, sobre BD.

O convívio com estas pessoas foi, sem sombra de dúvida, a melhor parte do dia. Encontrar alguém que fale a "mesma língua", que entende que ler é muito mais do que abrir um livro e seguir, ordenadamente, o que lá se encontra escrito... - fez o meu dia.







quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Lido: O Rinoceronte do Rei, de Sérgio Luís de Carvalho

Este é o segundo livro de Sérgio Luís de Carvalho que leio em pouquíssimo tempo. Li O Destino do Capitão Blanc durante o mês de julho e fiquei muito entusiasmada com a forma de escrever deste autor que é um "vizinho".

Depois desta primeira experiência com Sérgio Luís de Carvalho - e tendo confirmado as minhas suspeitas que ele reside na minha área - fiquei muito contente por ver que várias pessoas já tinham lido o novo livro e que a opinião era praticamente unânime: trata-se de um livro muito bom. 

A editora Clube do Autor - a quem tenho de agradecer - cedeu-me um exemplar de O Rinoceronte do Rei que li em apenas quatro dias.


Em 1514, o sultão de Cambaia recebe uma comitiva portuguesa que pretende solicitar autorização para construir uma fortaleza em Diu. Como forma de agradar ao sultão, os portugueses oferecem-lhe, em nome do Rei D. Manuel I, vários presentes. Apesar da resposta negativa, o sultão oferece à coroa portuguesa um rinoceronte. 
E é assim que, no início de 1515, chega um rinoceronte a Lisboa. Um animal, de tal forma exótico, que a novidade chega a vários cantos da Europa e suscita interesse de várias pessoas, nomeadamente do artista alemão, Albrecht Dürer.

Mas, esta não é só a história do rinoceronte que, ainda hoje, está imortalizado na Torre de Belém. É também a história de Océm, o tratador do animal e que o acompanha desde a Índia. Océm cai de amores por Esperança, uma escrava moura, e tudo faz para conseguir a sua liberdade.

Este livro é baseado em factos reais, o que me deixou ainda mais interessada na sua leitura. Já aqui tenho dito que se um livro me ensinar qualquer coisa, a sua missão no mundo está completa - e aprendi muito com este. Não fazia ideia que um rinoceronte havia sido oferecido ao rei. Não fazia ideia do burburinho.

Fui procurar mais informações, e no site da Torre de Belém pode-se ler o seguinte: "Em Portugal o rinoceronte foi imortalizado, encontrando-se representado numa das guaritas da Torre de Belém e também no Mosteiro de Alcobaça, onde existe uma representação naturalista do animal de corpo inteiro, com função de gárgula, no Claustro do Silêncio".

A História de Portugal é, realmente, uma coisa fascinante. E esta história não o é menos. O final não é totalmente feliz, mas é interessante ver que um episódio que, entretanto, se perdeu nos séculos seja tão complexo e simples, ao mesmo tempo. Recomendo vivamente.


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Lido: Saga - volume 2, de Fiona Staples e Brian K. Vaughan

Em Agosto, no âmbito do projeto #agostoaoquadrado e do Book Bingo, li o primeiro volume de Saga, a história de Alana e Marko, dois soldados de frações opostas numa guerra intergalática. 

Os dois protagonistas apaixonam-se e envolvem-se. O resultado? Uma gravidez e o nascimento de uma criança que é metade de cada, vista como uma abominação, uma aberração...

Alana e Marko são perseguidos e têm de fugir, evitando a captura e, possivelmente, a sua morte. Neste segundo capítulo, se me é permitido assim descrever, são ajudados pelos pais de Marko que, apesar de não concordarem com a escolha do filho, aceitam. E é nos dado a conhecer o passado da relação de Alana e Marko, antes do nascimento de Hazel e dos eventos que levaram a que se deixassem envolver.

Estou profundamente apaixonada por esta história. Mas, de pouco valeria a narrativa, se o desenho não acompanhasse a qualidade da escrita. Vale cada cêntimo que se gaste na sua compra.


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Lido: Crime, disse o livro, de Anthony Horowitz

Dia 21. Foi no dia 21 que terminei de ler "Crime, disse o livro". Foi uma leitura absurda de tão boa. Trata-se literalmente de um livro... dentro de um livro.

Contexto:
Há muito tempo que conheço o trabalho deste autor. Basta dizer que foi um dos autores de vários episódios de Poirot, e que foi o responsável pela adaptação televisiva de Midsomer Murders, uma das minhas séries preferidas, e que está no ar desde 1997 (!!!). E que foi também o escolhido para dar continuidade aos livros de Sherlock Holmes - A Casa da Seda, diz-vos alguma coisa?

Adiante...
E é fantástico encontrar a homenagem a Agatha Christie nestas páginas. Não é subtil, não é algo que passe despercebido... está ali escarrapachado à vista de toda a gente. E é uma delícia. Susan Ryeland é editora e, um dia, senta-se a ler o manuscrito de mais um livro do autor bestseller da editora para onde trabalha.
Numa vila rural em Inglaterra, em 1955, uma mulher - Mary Blakiston - é encontrada morta dentro da casa do patrão. Todas as portas e janelas estão fechadas por dentro. O filho, que dias antes havia discutido com a mãe à vista de todos, é apontado como responsável pela morte da senhora.

A noiva, na tentativa de o ilibar, contacta Atticus Pünd, um detective particular que acaba de receber péssimas notícias, relativas ao seu estado de saúde. Apesar de registar as queixas da rapariga, Pünd não aceita o caso, por considerar que não existe caso. Mas, volta atrás, quando apenas duas semanas depois, o patrão de Mary é encontrado decapitado na sua própria casa.

Atticus desloca-se a Saxby-on-Avon para resolver este mistério e ligar os pontos que, até àquele momento, parecem desconexos.

Tal como nos livros de Poirot, no final, quando Atticus já sabe quem é o culpado, e chama todos os suspeitos para a revelação final... o livro acaba. Faltam os últimos capítulos do manuscrito.

Susan procura o chefe, Charles Clover, para saber onde está o resto do manuscrito. Nesse momento, é informada que Alan Conway, o autor, fora encontrado morto. Charles mostra a Susan uma carta enviada por Alan, onde este revela as suas intenções de se suicidar.

Susan, apesar de não simpatizar particularmente com Alan, fica intrigada com toda a história, e tenta desesperadamente encontrar as últimas páginas do último grande livro de Conway.

Este livro tem tudo o que os fãs de Poirot e Miss Marple adoram. É uma ode à grande senhora do crime. Adorei adorei adorei... fiz questão de não saber as opiniões de mais ninguém, para não me sentir influenciada, mas, agora, sinto que isso não iria acontecer.

Como fã assumida de Agatha Christie, estou genuinamente feliz com este livro. Uma curiosidade: a determinada altura, Susan conversa com o neto de Agatha Christie, pois este encontrou Alan Conway pouco antes de morrer. É só (mais) um pormenor que me deixou feliz durante esta leitura.

E o trocadilho com o título?! Não é uma delícia?

Resta-me apenas dizer que este livro foi-me gentilmente cedido pela editora Clube do Autor, a quem agradeço de coração ter-me proporcionado esta leitura 5 estrelas. 

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Lido: A Companhia Negra, de Glen Cook

Terminei este livro durante o fim-de-semana, mas com o início das aulas, as rotinas, cá por casa, ainda estão a ser ajustadas, e o tempo não estica.

Desde há alguns meses que estava entusiasmada com esta publicação, mesmo antes do livro estar disponível nas livrarias, sequer. Tinha lido na revista Bang, um texto publicado pelo editor da Saída de Emergência, sobre este livro... e... como explicar?! Sabem aquela sensação que cresce em nós quando lemos algo que francamente nos entusiasma?! Pois, foi isso que senti... 

Houve qualquer coisa naquele texto que me levou a * salve o exagero * precisar - genuinamente - de ler A Companhia Negra. As minhas expetativas não foram defraudadas. 

A Companhia Negra é um livro de fantasia negra. Neste primeiro volume, acompanhamos a Companhia de Negra, um grupo de mercenários que, no momento em que começamos a história, está ao serviço de Síndico, na cidade de Beryl. Mas, o cenário na cidade é, de tal forma tenso, que rebenta uma guerra civil. Durante os confrontos, e sob proteção da Companhia Negra, Síndico, que funciona como uma espécie de governante de Beryl, refugia-se numa torre. Contudo, uma criatura negra ataca o local e há uma matança. A missão da Companhia Negra fica, desta forma, concluída, dado que o seu contratante é uma das vítimas da forvalaka, a tal besta.   

A Companhia Negra é contratada para servir a Senhora, nas terras do Norte. Em tempos que há muito passaram, a Senhora e o marido, Dominador, dois feiticeiros poderosíssimos, governaram com mão de ferro e crueldade, esse território. Mas, a Rosa Branca, líder mítica dos Rebeldes, havia conseguido pô-los num sono sem fim, acompanhados dos Tomados, um grupo de 10 inimigos que foi amaldiçoado a segui-los até ao fim dos tempos. Porém, após mais de 300 anos, a Senhora e os Tomados foram despertados, e a guerra recomeçou. 

É este o "plot" de uma saga que me entusiasmou muitíssimo. O livro está escrito da perspetiva do Físico, o médico da Companhia Negra, que serve também na condição de escriba que regista nos Anais, os momentos mais importantes e significativos do grupo. E aquilo que lemos são Crónicas escritas por Físico, logo existem alguns saltos temporais que, os mais distraídos, poderão achar estranhos. 

É um livro super-entusiasmante. E estava mesmo muito ansiosa para falar dele, mas estava difícil chegar ao fim, devido ao facto do Henrique ter começado as aulas, andarmos todos ainda um pouco "a apanhar papéis" e a criar uma nova rotina para estes primeiros dias do 1.º ano do 1.º Ciclo. 

Em A Companhia de Negra podemos encontrar um pouco de tudo: estratégia militar, fantasia e magia, humor, uma pitadinha de romance, intrigas, violência... e este 1.º volume é um início de uma saga, na minha simples opinião, memorável. Recomendo vivamente a quem gostou, por exemplo da Trilogia dos Senhores da Guerra, de Bernard Cornwell (também da Saída de Emergência), e gosta deste género de livro mais robusto.

Para não falar da capa, que é BRU-TAL! 

domingo, 8 de setembro de 2019

Lido: Malena é um nome de Tango, de Almudena Grandes

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Há uma semana, trouxe da biblioteca o livro "Malena é nome de tango", da escritora madrilena Almudena Grandes.

De tanto ouvir a Ana Lopes (do blogue e canal O Sabor dos Meus Livros) falar sobre esta autora, quando a encontrei nas estantes da biblioteca, não hesitei.

Malena, irmã gémea da perfeita Reina, é uma criança que, todos os dias, reza para se tornar um rapazinho. As diferenças entre ela e a irmã são abismais e Malena sente-se quase aprisionada numa espiral de convenções a cumprir, sem conseguir escapar-se às omnipresentes comparações com a irmã.

Um dia, quando já tem 12 anos, o avô oferece-lhe uma esmeralda, uma pedra valiosíssima que um dia a salvará. Mas a condição é que nunca fale dela a ninguém, e que, um dia, quando precisar, deverá procurar o tio Tomás que ele saberá o que fazer. Na mesma altura, falam sobre um dos seus antepassados, Rodrigo, que, dizem ter sido vítima de uma maldição.

Apesar de pertencer a uma família de posses, e, aparentemente serem perfeitos, existem muitos segredos que atormentam os elementos dos Fernández de Alcántara. Como a 2.ª família do patriarca, que apesar de não ser secreta, é um assunto que nunca é discutido.

Há medida que vai crescendo - e nós, vamos assistindo a esse crescimento - Malena assume que também ela é uma vítima da maldição de Rodrigo, tal como o avô e a tia Magda: por alguma razão, sentem que o seu lugar naquele mundo é confuso e não muito definido.

Todo o livro é um reflexo dos pensamentos e das ações de Malena - que é a nossa narradora. E não podemos esquecer que cada ação gera uma reação. E essas consequências, nem sempre são aquelas que Malena almejava.

Malena é uma personagem maravilhosa. Não é perfeita, longe disso, e os seus medos e anseios são nos transmitidos em cada linha, em cada parágrafo... é, no fundo, uma mulher à frente do seu tempo. Uma sobrevivente, se assim lhe quiserem chamar.

O livro narra um período temporal de cerca de três décadas. Desde meados dos anos 60 até aos anos 90, com uma Malena adulta. Apanhamos aqui muito da História de Espanha: alguns períodos da guerra civil e da 2.ª Guerra Mundial foram falados, bem como o período franquista que conhece o seu fim nos anos 70... assistimos a um grande período de transição e de adaptação, e muitas reviravoltas.

Não é um livro fácil, confesso. Custou-me a entrar na história, que é pesada, e o próprio estilo da autora não é simples, especialmente, no início... (apenas por isso, lhe dei 4 estrelas). Depois de conseguirmos ultrapassar o meio do livro, e de já estarmos habituados a que Almudena se disperse um bocado antes de retomar o fio à meada, lê-se tremendamente. A história, essa, é irrepreensível.

Gostava muito de saber o que lhe aconteceu, depois do último ponto final. Apesar de ser uma história belíssima, gostava de saber como é que a vida de Malena continuou. Como continuou a sua estória?

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Lido: O Terceiro Desejo, de Andrzej Sapkowski

As expetativas eram gigantes. Todo o hype à volta dos livros, do jogo, da série que se avizinha... é impossível escapar a esta explosão de opiniões entusiasmantes.

Já conhecia - pela rama - do tema. O meu excelso companheiro jogou o Witcher 3 para a Playstation, e de quando em quando, chamava-me a atenção para partes de diálogos, ou para os gráficos do ambiente do jogo.

E achei bastante bom. Tal como o livro. Há umas poucas semanas, comprámo-lo e ele terminou-o durante as férias. Depois trocámos, comecei a lê-lo e passei-lhe os comandos do Kindle. E, no primeiro dia, cheguei praticamente a meio do livro.

Geralt de Rívia é fantástico. Tem nele o melhor (e o pior) dos dois mundo. E é isso que o torna tão interessante. Não é apenas um protagonista heróico, é também alguém que comete erros e sofre as consequências.

Para quem não conhece - o que acho difícil, nesta altura do campeonato - estou a falar da saga The Witcher que segue a história de Geralt, um bruxo, caçador de criaturas. Um livro de fantasia, como é óbvio. Aqui, além do percurso deste profissional, somos dados a conhecer algumas versões menos divulgadas de histórias que conhecemos, tal como a Branca de Neve, que é uma princesa que se tornou salteadora, com os sete gnomos fazendo parte da sua quadrilha. Ou a história da Bela e do Monstro. A Bela Adormecida também aparece, mas apenas como uma história que alguém ouviu falar... e também é um pouco distorcida.

E depois é todo este mundo criado... enfim, e por outras palavras, é mais uma saga para me fazer perder a noção das horas. Lançados nesta fúria literária, já comprámos o 2.º livro da saga, publicada pela Saída de Emergência, há pouquinhos dias, porque o que mais falta cá nesta casa são livros.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Lido: O Porto das Almas, de Lars Kepler

Esta leitura foi um pouco diferente daquilo a que estamos habituados vindo de Lars Kepler. Li, em O Homem da Areia, e tinha ficado totalmente petrificada com aquela história.
julho,

O Porto das Almas é radicalmente diferente. Temos uma protagonista, Jasmin, tenente do exército sueco que, numa missão, perde dois dos seus homens. Também ela fica muito ferida, e quando acorda no hospital, conta que esteve num local semelhante a um porto, algures na China, onde se encontram várias pessoas a embarcar em diversos barcos.

Um pouco mais adiante, não muito, sabemos que esse local, é uma espécie de entreposto de almas. Como que um local de espera, até à recuperação da pessoa, ou à sua morte efetiva.

Jasmin, a determinado momento, tem de pôr em risco a sua própria vida, numa tentativa de salvar daquele local aquele que ela mais ama no mundo: o filho, Dante, de cinco anos.

Como mãe de uma criança com uma idade aproximada, arrepiei-me profundamente com a garra de Jasmin. Uma verdadeira mãe leoa que ultrapassa os limites do binómio vida/morte.

Mas... não é um livro por aí além. O esforço de mostrar algo totalmente diferente é reconhecido, mas não me apaixonou como O Homem da Areia, por exemplo, ou O Hipnotista que já li há mais tempo.

É um livro que explora a morte, e a vida para além dela, para quem acredita que há algo mais. A ideia é interessante, mas, para mim não resultou. O que tem a favor é, sem dúvida, os capítulos curtos e o ritmo frenético da narrativa. Não há um momento em que não aconteça alguma coisa.

Atenção: não resultou comigo, mas pode resultar com outra pessoa. Não se deve negar uma ciência que, há partida, se desconhece. Não foi o melhor livro que li nas últimas semanas, mas está longe de ser o pior. Dei 3 estrelas bem sólidas.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Lido: O Aprendiz de Assassino, de Robin Hobb

Depois de uma semanita de férias - as publicações da semana passada estavam programadas - estou de volta ao batente. Uma semana de papo para o ar deu para terminar um ebook que trazia de casa, começar outro livro (que entretanto também já terminei) e terminar um 3.º livro.

Portanto, as próximas três postagens - sendo esta a 1.ª - são as minhas leituras destes últimos dias, por ordem cronológica.

* * *

Numa palavra: espetacular. Não sabia o que esperar, confesso. Mas tenho ouvido excelentes opiniões e decidi arriscar.

Cedo somos apresentados a Fitz, filho bastardo do Príncipe Cavalaria, herdeiro do trono dos Seis Ducados. Após o aparecimento deste filho tão pouco desejado, Cavalaria renuncia ao trono e sobe ao lugar de herdeiro o Príncipe Veracidade.
Mas Fitz é ignorado por todos, considerado culpado pela renúncia e afastamento de Cavalaria. Contudo, começa desde muito cedo a revelar o Talento, um dom que o pai e o tio também possuem. O rei Sagaz, por seu turno, decide aproveitar o garoto e torná-lo um assassino às suas ordens.
Mas, ser filho de Cavalaria não o protege inteiramente, e é vítima de golpes palacianos e intrigas de corredor.

Neste livro há um pouco de tudo: um enredo envolvente na óptica de Fitz, uma escrita fluída, amor e romance, lutas, intrigas e uma boa dose de fantasia.

Facilmente, o leitor começa a nutrir simpatia por Fitz. É o narrador, é apenas uma criança de seis anos quando o conhecemos, é uma vítima das circunstâncias, cresce com dedos apontados na sua direção como se a culpa de todos os eventos negativos que assolam o reino seja sua... Fitz é um menino que vai crescendo à nossa frente, e os vilões não têm remorsos nem paninhos quentes.

Recomendo vivamente e sem reservas.

O Aprendiz de Assassino - 1.º volume da 1.ª trilogia - está publicado em Portugal pela Saída de Emergência. 

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Agosto ao Quadrado: leituras completas

A faltar cerca de uma semana para terminar o mês de Agosto, faço um pequeno balanço sobre a minha participação no projeto da Silvéria (The Fond Reader) e do Fernando (Niji TV): #AgostoAoQuadrado.

A ideia era ler BD, graphic novels... enfim, toda a literatura aos quadradinhos. O meu excelso companheiro tem uma coleção simpática deste género e alinhei, porque Agosto é um mês que se quer levezinho e nada melhor do que ler "quadradinhos", às vezes esquecidos.

Comecei com o "Hellboy", que já vive cá em casa há mais tempo do que me lembro. Aliás, vim para esta casa em 2010 e ele já cá era veterano. "Hellboy" não deve ser desconhecido da maioria, até porque já houve dois filmes com esta personagem, e está um 3.º na calha. Trata-se de um ser, meio demoníaco (pelo menos na aparência) que foi invocado por Rasputine, para trazer o apocalipse. Acaba por ser descoberto, ainda em criança, pelos soldados Aliados, em dezembro de 1944.
Tem boas intenções, e integra, já em adulto o Bureau of Paranormal Research and Defence, que pretende combater o mal. Este livro conta as origens de Hellboy e conta uma aventura com os seus colegas Liz Sherman e Abe.
"Hellboy" foi uma leitura a contar para o Book Bingo, na categoria "um livro que se leia num dia".


 Depois, passei a uns livros mais recentes: os dois volumes de "Black Hammer". Eu que nunca fui muito de super-heróis, dei por mim, a adorar este, a dar estrelas "à grande e à francesa", e a ansiar por um novo volume.
Um grupo de super-heróis foi retirado da sua realidade e transportado para uma cidadezinha, onde está preso. Um deles ousou tentar regressar, mas foi morto. A vida, passados 10 anos, é monótona e repetitiva. Até que alguém do passado chega até eles e tenta, de alguma forma, levá-los a reagir. Mas, algo os irá tentar impedir.




O 4.º livro que li foi o "Newborn - 10 dias no Kosovo". Uma espécie de diário de viagem do autor - Ricardo Cabral - ao Kosovo, em Agosto de 2009. O livro é (quase todo) a reprodução dos desenhos que Ricardo fez, durante a sua estadia, com pequenos apontamentos sobre o que via, o que ouvia, o que fazia, onde ia, o que acontecia...
Em 2011, Ricardo Cabral ganhou, no Amadora BD, o Prémio Nacional de BD : Melhor Desenho de Autor Português - o que diz muito sobre este livro.
Considerei este livro para outros projetos como o #lusiteratura, já que uma das categorias do mês de agosto era "não ficção", bem como para o Book Bingo "livro que se passe no verão".


O 5.º livro foi o primeiro volume de "Saga". Que maravilha de livro. Fiquei fascinada com aquele mundo. Alana e Marko apaixonam-se. Isto não teria mal nenhum se eles não fossem soldados de frações opostas, numa guerra intergalática. É uma misturada épica de ficção científica, com romance e fantasia. Estou em pulgas para ler os volumes seguintes - diz que saíram mais 8 até ao momento. E que o 9.º está previsto para a Comic Con, em setembro.
Esta leitura contou para o Book Bingo, na categoria "livro recomendado por Youtuber, Blogger ou Instagrammer"; vi esta recomendação em vários canais, como The Phoenix Flight, da Ana Lopes, ou no Book, Less Beer and a Baby, do Filipe e da Cristina.


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Lido: O Romance de Cordélia, de Rosa Lobato de Faria

Que livro maravilhoso! Como esta mulher escrevia bem...

Ainda estou meio "anestesiada" com este romance. É-nos narrado na 1.ª pessoa e sabemos que a nossa protagonista está presa, prestes a sair, após 16 anos e 8 meses de cárcere. Cordélia, de seu nome, vai-nos narrando todas as circunstâncias da sua vida, desde a infância até ao momento presente.

Toda a vida foi um conjunto de acontecimentos que não indicavam que aquele seria o seu destino: pagar, na prisão, por algo que não fez e ver-se sem nada.

Sabemos da relação complicada com a mãe, do amor que sentia pelo pai e pela avó paterna, do suicídio do pai, a morte da avó, as más companhias... até que, por vingança, foi tramada e acusada de homicídio, e condenada a 20 anos de prisão.

Cordélia não é má pessoa. Cordélia é o fruto de más escolhas: umas por ingenuidade e outras por cegueira.

O final é dilacerante.

O livro está tremendamente bem escrito. Já tinha lido "Os Três Casamentos de Camila S.", e tinha ficado fascinada. Este livro é, aparentemente, muito simples, mas tem subtilezas e jogos que o tornam uma riqueza - o próprio título "Romance de Cordélia" é um jogo com a expressão "romances de cordel", que ela lia durante a prisão.

Adorei.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Lido: A Asa da Consequência, de Helder Martins

Av
Depois de ter lido "O Templo de Borkudan", Helder Martins voltou, gentilmente, a remeter-me a 2.ª parte da sua saga Crónicas de Tellargya.

Este livro é ligeiramente maior do que o 1.º - 327 páginas contra as 185 do volume 1. Neste livro, fiquei com um estranho amargo de boca: mas o pobre Helzar só encontra adversários? Não há meia dúzia de almas caridosas que ajudem o rapaz?! Contei, pelo menos, uns seis confrontos; fossem orcs, vampiros ou outros feiticeiros, com intenções meio nebulosas...

Muito resumidamente: Helzar é um jovem mago que depois de ver a sua aldeia destruída e a mãe assassinada, começa uma jornada para recuperar a irmã mais nova que foi raptada por Tunnroch, uma personagem que personifica o Mal. E isto é o 1.º livro, que termina com Helzar, o dragão Drinus e um monge de Borkudan a iniciarem a sua viagem.

No 2.º volume, mais do que um avanço na história, encontramos o nosso herói (e os seus companheiros) a serem, constantemente, testados. Lealdade e coragem e nunca desistir são alguns dos valores que este livro pretende, claramente, transmitir.

Somos introduzidos a novas personagens: uma elfo e um anão que se tornam aliados e companheiros de Helzar.

Assim, de repente, quase faz lembrar O Senhor dos Anéis em que tudo piora, antes da vitória final. E assim, terminou também este livro: com Helzar em apuros, separado dos amigos.

Uma nova chamada de atenção à editora: além de gralhas, houve parágrafos inteiros repetidos, nos últimos capítulos. Ó senhores da Chiado Editora, têm de ter isso em atenção!!! Mais uma vez: onde está o vosso apoio na parte da revisão do texto?

Sugestão ao Helder: um glossário com as personagens. São muitas, e com nomes pouco comuns. Tal como publicaram o mapa do território - que adorei - devia haver também uma ajuda no que toca a situar as personagens.

Foi uma leitura muito interessante, e fico à espera da conclusão desta aventura.

Este livro contou para o Book Bingo Leituras ao Sol, na categoria "último livro que te ofereceram".

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Lido: As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain

Esta leitura foi feita no âmbito do Book Bingo Leituras ao Sol. Uma das categorias era escolher - de olhos vendados - um livro das estantes. Mas como as minhas prateleiras estão um caos, decidi fazer uma lista com alguns dos livros que tenho por ler, e sortear através da plataforma Random.

Calhou este. E em boa hora. Há uma companhia de teatro, aqui de Sintra, está a apresentar uma versão adaptada deste clássico infanto-juvenil, e eu queria muito levar o Henrique. Consegui terminar a leitura no dia preciso em que o levei a ver a peça.

Li esta obra no Kindle, e não tenho imagens, mas deixo aqui uma ilustração do livro, na sua versão original de 1884.


O livro é engraçadíssimo e a peça não fica atrás - just saying!!

Huck, como gosta de ser tratado, é o melhor amigo de Tom Sawyer. No final do livro As Aventuras de Tom Sawyer - que não li!! - os dois rapazes encontram algum dinheiro, e ficam ricos. Huck fica aos cuidados de uma senhora, a Viúva Douglas, e da sua (extremamente rigorosa) irmã. Contudo, o rapaz sente-se aprisionado naquela vida: ter de frequentar a escola, vestir roupa, calçar sapatos apertados, ter maneiras... para alguém habituado a ter toda a liberdade do mundo, isto é tortura.

Um dia, depois de ter sido aprisionado e ameaçado pelo pai, decide simular a sua morte e consegue fugir. Durante a fuga, encontra Jim, o escravo da Miss Watson (a irmã da viúva), que aproveitou a confusão levantada pela suposta morte de Huck, e também fugiu, dado ter ouvido Miss Watson dizer que o ia vender.

O livro segue as aventuras que estas duas personagens - tão diferentes - vivem ao longo do Mississipi, as pessoas que conhecem, os mal-entendidos que se geram... é um livro fabuloso. Depois de o ler, recomecei - com o Henrique - a ver os desenhos animados do Tom Sawyer, e o entusiasmo ainda não se perdeu.

Quanto à peça - vale a pena ser vista. Aos sábados e domingos, na Quinta da Ribafria, em Sintra. Até 15 de setembro.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

Lido: Está tudo F*dido, de Mark Manson

Nunca li um livro de auto-ajuda em toda a minha vida. E, parece-me que vou continuar com um valente nulo nesta área. Se Está tudo F*dido é para ser um livro de auto-ajuda... lamento, mas falhou redondamente. E isto não é mau. Gostei - francamente - desta leitura!

É um livro que nos pretende alertar para uma série de coisas, como a futilidade, a crença, o narcisismo, a autoestima e mais um rol de conceitos inerentes à própria civilização, mas de uma forma engraçada.

Aliás, Mark Manson escreve como se estivesse a conversar com o leitor e damos por nós a acenar positiva ou negativamente como que respondendo a um interlocutor tagarela. 

A análise que Mark Manson faz a estes conceitos/ideias que aborda vão desde as perspetivas mais filosóficas, às religiosas, às científicas e/ou tecnológicas. É quase refrescante ler sobre Platão, Nietzsche, Carl Sagan, Kant, e até mesmo Elon Musk numa salada de fruta em forma de livro. 

Mas, no fim, acaba por fazer sentido - ajudam as notas no final do livro, e que acompanham a leitura, referenciando as suas fontes, contextualizando ou fazendo apenas comentários jocosos. 

"A verdadeira igualdade nunca poderá ser atingida; haverá sempre alguém, em algum lugar, que está lixado. A verdadeira liberdade não existe realmente, porque todos devemos sacrificar alguma autonomia em prol da estabilidade (...) Não há soluções, apenas medidas temporárias, apenas melhorias graduais, apenas formas ligeiramente melhores de estar fodido do que outras (...) Este é o nosso mundo lixado. E nós somos os lixados que vivem nele".

O livro termina a falar da Inteligência Artificial e a forma como, aos poucos, se vai instalando confortavelmente, com a nossa anuência. Curiosamente, este capítulo fez-me lembrar um outro livro: Deuses Americanos, de Neil Gaiman - em que os velhos deuses combatem os novos deuses, esses mais ligados ao mundo moderno e às tecnologias. Não sei se o autor pensou o mesmo, mas a comparação fica, desde já, feita. 

Como já disse antes, sinceramente, gostei desta leitura. Tem é de ser feita com as condições certas. Num ambiente sossegado, de preferência para não perdermos o fio. E essas condições... nem sempre as consegui arranjar em pleno, razão pela qual demorei a terminar. O que me falta dizer? Que se trata de uma edição Saída de Emergência que, gentilmente, me cedeu um exemplar, para que eu conhecesse Mark Manson, por quem já nutria curiosidade desde o seu "A Arte Subtil de Saber Dizer Que Se F*da" - um dos melhores títulos de sempre.