No início da pandemia, lá para Março/Abril, a editora Clube do Autor ofereceu um ebook a quem o solicitasse, via mail, de um conjunto de títulos. Euzinha, como estou interessada em explorar a escrita de Sérgio Luís de Carvalho, optei por este A Última Noite em Lisboa - comprovando-se assim que é um dos meus autores favoritos no género ficção histórica.
Tal como disse no post anterior, o nosso protagonista é Henrique, um jovem jornalista que trabalha numa revista portuguesa, simpatizante nazi. Estamos em Lisboa, e a cidade fervilha com as notícias vindas da guerra. Henrique conhece então a sua vizinha, Charlotte, uma refugiada austríaca, com um passado (e presente) muito misterioso(s).
Charlotte torna-se amiga de Henrique e de Maria Carolina, namorada do rapaz, e abre-lhes os horizontes que a sociedade portuguesa de então teima em esconder-lhes. Mas, não podemos esquecer que o ambiente em que Henrique trabalha e as pressões constantes para se afirmar fiel aos valores defendidos pela sua entidade patronal. Existe, portanto, um enorme conflito.
Este é o ponto de partida de um livro bem escrito, muito interessante e que nos dá uma perspetiva de uma fatia da sociedade portuguesa que ansiava pela vitória nazi naquela que foi a II.ª Guerra Mundial.
O tema, só de si, já me fascina. E, durante todo o livro, imaginava as cenas que ia lendo, a preto-e-branco como no Casablanca (filme que, por acaso, o nosso trio vai assistir na estreia em Portugal). Ou talvez fosse o facto de Henrique ser um ávido leitor de policiais noir e fã de Sam Spade - daí a ligação ao livro O Homem Sombra de Dashiell Hammett. Mas, ao mesmo tempo, imagino os locais frequentados pelo refugiados ricos e pelos espiões como sendo locais de música e cor. A ostentação do dinheiro estrangeiro vs. o provincianismo de um Portugal dos anos 40, que ainda assim teve a sorte de ser um espectador de um dos conflitos mais letais da História.
Sérgio Luís de Carvalho é - ou pelo menos, suponho que seja - um investigador fantástico, porque tanto escreve um livro destes que alude à II.ª Guerra Mundial, como escreve um livro cuja ação se passa no século XVI, e ambos com uma riqueza de pormenores que quase diríamos que eles esteve lá para ver... vou continuar, portanto, a explorar este autor. A Última Noite em Lisboa é o 4.º livro que leio dele, e esta leitura foi incluída na lista da maratona Estações Literárias, na categoria "género favorito" e no projeto "Luz de Outono" (letra "U").
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