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quarta-feira, 17 de junho de 2020

Lido: O coração dos homens, de Hugo Gonçalves

Queria muito ler Hugo Gonçalves. Sigo-o no Facebook e acho-o uma pessoa muito inteligente e coerente. O seu livro mais recente e mais conhecido explora a morte da mãe dele. Mas como me sinto, ainda, muito afetada com a morte dos meus pais, logo, estava à partida, excluído. Restavam-me as obras mais antigas. E, num belo dia de descontos da Wook, decidi comprar "O coração dos homens". 

Pelo resumo, sabia que, uma determinada Cidade tinha excluído e exilado as mulheres, sendo constituída exclusivamente por homens. Vamos seguir Ele, Mau e Grande desde a infância até à idade adulta. 

Quando os conhecemos, são três rapazinhos que nunca conheceram as respetivas mães, vivem com pais e irmãos - uns com um código moral mais elevado do que os outros, e o mesmo se aplica às regras domésticas. 
É uma sociedade atípica: sem a presença feminina, os rapazes e homens tiveram todo o espaço para dar asas aos seus instintos mais primários, como praguejar ou lutar. Chorar ou mostrar qualquer outra emoção é sinal de inferioridade e fraqueza. O pugilismo é o desporto-rei, e o símbolo máximo das proclamadas força e resistência masculinas. 

Ele, o grande protagonista desta história (poderei chamar-lhe distópica), torna-se um pugilista de referência. Um dia, sai dos limites da Cidade para uma competição e aí conhece toda uma nova realidade, onde existem mulheres livres e em pé de igualdade com os homens. 

Ele e os dois amigos declaram-se desertores, que são maltratados na sua Cidade natal e que não querem voltar. E permanecem no Estrangeiro, nome dado ao território além da Cidade. E é nesta altura que são confrontados com a sua rudeza e brutalidade. Ele, Mau e Grande só podem contar uns com os outros, para o bem e para o mal. 

Este é um livro cru e cruel. 
Não há "mimimis". 
Há descrições de violações, de grande violência física, de homicídios, de masturbação ou de consumo de drogas, só para dar alguns exemplos... se forem sensíveis a estes temas, aconselho prudência. 

Demorei algum tempo a digerir este livro, e gostava de, um dia, sentar-me com o Hugo e conversar com ele sobre algumas questões que me ficaram. Gostava de entender a linha de pensamento que ele tomou para escrever este livro. Não é um livro para toda a gente, fiquem com essa ideia em mente. 

Li esta obra para o projeto "Português é Bom" (letra "G" no mês de junho)

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