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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Lidos: Deuses Americanos e Monstress

Deuses Americanos, de Neil Gaiman, P. Craig Russel e Scott Hampton

Monstress, de Marjorie Liu e Sana Takeda

Estes foram os senhores que se seguiram. Desengane-se quem pensa que "ler quadradinhos" é para descomprimir ou porque anda com demasiado tempo livre. Na atualidade, a Banda Desenhada é muito mais do que histórias levezinhas para a garotada ou os super-heróis desta vida.

A densidade das narrativas e das histórias apresentadas vão muito para além disso. Mas, também estou em crer que, qualquer leitor que se preze, já se terá apercebido disso.

Sobre estas leituras:
O primeiro, Deuses Americanos, é uma adaptação para novela gráfica do livro de Neil Gaiman (American Gods, 2001). Neste livro, o autor britânico (n. 1960) conta-nos que está na eminência de acontecer uma batalha entre os deuses: antigos e modernos.

Os imigrantes que chegaram aos Estados Unidos levaram consigo os seus deuses. Porém, o seu poder foi esmorecendo à medida que as crenças das pessoas foram desaparecendo. No entanto surgiram novos deuses que refletem as obsessões modernas: a televisão, as redes sociais, as celebridades, a tecnologia, entre outros.

O nosso protagonista, Shadow, está preso, mas prestes a sair. Pouco antes da data marcada, é-lhe comunicado que sairá mais cedo, dado que a esposa faleceu. Na viagem para casa, conhece Wednesday, uma figura misteriosa que lhe oferece um emprego.
Ao perceber que a morte da esposa não é tão linear quanto pensava, Shadow aceita a oferta de Wednesday, e juntos embarcam numa "road trip", pelos Estados Unidos, para convocar os deuses para a tal batalha.

Em julho, li o primeiro volume (aqui), e agora terminei o segundo. Nesta parte, Shadow continua a trabalhar com Wednesday, mas, ao mesmo tempo, está escondido de um grupo de homens, que a mando dos Novos Deuses, o quer capturar. O final ficou pendente à espera da terceira, e última parte, que está previsto que saia para o próximo ano.


Terminei Monstress na 3.ª feira à noite. Tenho andado esgotada, e só mesmo à noite (e ao fim-de-semana) é que tenho conseguido ler. Gostei imenso da história - o suficiente para querer saber o que se passará a seguir - mas não foi fácil entrar nela. Não sei se foi devido ao cansaço, ao meu estado de espírito ou à complexidade do enredo.

A nossa protagonista é Maika Meiolobo - é uma adolescente, sobrevivente de uma guerra entre espécies. Contudo, a sua vida é atingida por estranhos fenómenos, e a jovem apercebe-se da sua relação com uma criatura do outro mundo, que desperta.

A arte - com uma inspiração oriental - é qualquer coisa de tirar o fôlego. Neste momento, a série já tem três números publicados, em Portugal.


Ambos são editados pela Saída de Emergência

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Lido: O Império Final, de Brandon Sanderson

Quem me segue no Instagram, sabe que tenho estado a passar por uma fase mais complicada: perdi o meu pai, dois anos depois da partida da minha mãe. Não tenho estado na minha melhor forma, como seria expectável.

E, se quando foi da minha mãe, li imenso, para não me deixar absorver pela tristeza, agora tem sido o contrário: não me apetece ler, e tenho visto muito mais televisão. Os nossos mecanismos biológicos de defesa são uma coisa incrível, não haja dúvidas...

Contudo, e apesar de não me apetecer muito ler, tenho lido algumas coisinhas. Terminei O Império Final (trilogia Mistborn) do Brandon Sanderson, e li duas graphic novels que trouxemos da Amadora BD, ainda em outubro, e comecei, ainda, a ler Vozes de Chernobyl da Svetlana Alexievich. Mas, vamos às primeiras leituras.

Comecei a ler O Império Final a 28 de outubro. O meu pai faleceu no dia 3 de novembro. Estive dias sem lhe pegar, apesar de começar a interessar-me. Demorei um bocadinho a perceber a parte dos metais, e da dinâmica entre eles, mas depois que "engrenei" estava, genuinamente, a gostar. Mas depois, estive quase duas semanas sem ler uma linha sequer.

Gostei muito. A relação entre o Kelsier e a Vin - os protagonistas - é fabulosa! E ainda mais fabuloso é assistir ao desabrochar da Vin, quer como "nascida das brumas", quer como pessoa. é uma saga de fantasia, sem dúvida, a seguir.

Vou tentar explicar um pouco: o Império Final é dominado há séculos pelo Senhor Soberano, uma personagem quase mística, que fundou aquele território. O seu poder é divino, e domina pelo medo e pelo terror. Os skaa são o povo menor, inferior a tudo e todos. Escravos do Império Final, e dos nobre que ali habitam, os skaa nem ousam levantar a cabeça.
De entre eles, uma vez por século, junta-se um grupo rebelde cuja missão é derrubar o Senhor Soberano.
Kelsier, o nosso protagonista, é o Sobrevivente. Há anos, rebelou-se e foi enviado para os Poços de Hathsin, de onde nunca ninguém havia escapado. Graças à "alomância" que desenvolveu durante a sua prisão, Kelsier é uma figura respeitada.
Junta, portanto, um grupo de ladrões e vigaristas, com o objetivo de tomar as rédeas do Império Final. Neste grupo, é incluída, Vin, uma miúda de 16 anos, que fazia parte de um bando de ladrões comum, e que demonstra grandes capacidades alomânticas.

O livro está bem escrito, se bem, que, inicialmente, possa ser um pouco complicado entrar no esquema. Por se tratar de uma narrativa diferente do habitual, perceber a dinâmica dos metais alomânticos e a sua função, pode ser um desafio. E nas cenas de batalha, quando todos os alomantes estão ativos (por assim dizer), pode ser complicado seguir as descrições. Mas, fora isso, adorei o enredo, e quero muito ler o resto.

(amanhã, publico, num texto único, a minha opinião sobre as duas graphic novels. 
E fico com os textos todos atualizados )

A saga Mistborn está editada, em Portugal, pela Saída de Emergência

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A Filha da Madrasta, de Jennifer Donnelly - divulgação

Há algum tempo que não publicava um texto de divulgação de um livro. Mas, a história deste que se segue chamou-me a atenção.

Toda a gente conhece a história da Cinderela, certo? A menina, órfã de mãe, que, um dia, vê o pai casar com outra mulher, com duas filhas. O pai morre, a menina sofre pavores às mãos da madrasta e das suas filhas, vai ao baile, conhece o príncipe, apaixonam-se, sapatinho de cristal e bummm... princesa instantânea e felicidade eterna.

Mas... e se a história tivesse outros contornos? E se as filhas da madrasta tivessem motivações e sonhos, como quaisquer raparigas da sua idade? Porque é que, afinal de contas, elas eram tão más (nas palavras da Cinderela, e a fazer fé que a rapariga era honesta...)?

É esta a ideia por trás do livro "A Filha da Madrasta", de Jennifer Donnelly, agora publicado em Portugal, pela Chá das Cinco (chancela Saída de Emergência).

Eu, que cresci a ouvir as histórias encantadas de princesas, fiquei mesmo muito curiosa. "Porquê, Cristina Maria?", perguntam vocês. Simples: uma pessoa cresce e amadurece e percebe que as coisas da vida não são sempre negras, nem são sempre brancas... há ali aquele meio, cinzento farrusco e maroto, que nos ensina que... a vida nos molda... para o bem, e para o mal.

(e esta capa absurdamente deliciosa, senhores...?!)


Sinopse: 
Isabelle deveria estar feliz – afinal, está prestes a ficar com o príncipe. Mas Isabelle não é a bela rapariga que perdeu o sapato de cristal e ganhou o coração do príncipe. 

Ela é a meia-irmã feia que cortou os dedos para que o sapato da Cinderela lhe servisse. Quando o príncipe descobre o engodo, Isabelle fica devastada pela vergonha. Afinal, ela é apenas uma rapariga comum num mundo que só valoriza a beleza; uma jovem forte num mundo que a quer submissa.

Isabelle tentou mudar, cumprir as expectativas da mãe. Ser como a sua meia-irmã. Doce. Bonita. Um a um, desfez-se de pedaços de si para sobreviver num mundo que não valoriza uma rapariga como ela. E isso tornou-a má, ciumenta e vazia. Até que Isabelle tem a oportunidade de alterar o seu destino e provar que é preciso mais do que um coração partido para vergar uma rapariga.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Lido: Uma Praça em Antuérpia, de Luize Valente

No Verão do ano passado, li Sonata em Auschwitz desta autora, literatura bastante "levezinha" para se ter durante as férias, pois então.

Agora li, Uma Praça em Antuérpia, onde voltamos a "misturar" a História de Portugal com a História contemporânea europeia.

Anos 2000.  No Brasil, uma mulher, na casa dos oitenta anos, assinala a passagem de ano com a família, relembrando o filho Luiz Felipe que havia falecido há pouco tempo. À medida que os convivas se vão recolhendo, Olívia revela a Tita, sua neta, que não é Olívia, mas sim, a sua gémea, Clarisse.

E aqui começa a história. Clarisse começa a contar à neta, o segredo que guardou por mais de 60 anos, e que poderá mexer com toda a estrutura familiar.

A mãe das gémeas, Clarisse e Olívia, morre ao dar à luz, e as crianças são criadas por uma avó, já que o pai, com o desgosto, não quer saber delas. Em adultas, mudam-se da zona de Guimarães para Lisboa. Uma delas - Olívia - casa com o filho da empregada delas de infância, e a outra - Clarisse - apaixona-se por um judeu polaco que conhece num dia em que se perde pelas ruas lisboetas. Theodor - que já havia fugido da sua pátria, devido aos avanços da extrema-direita de um homem chamado Hitler - em Portugal, é perseguido, por ser comunista.

Até que decide, de novo, fugir. Clarisse fica em Portugal, grávida, sem que Theodor o saiba. Um dia, cansado de fugir, ele regressa e descobre que a mulher que ama está grávida, e volta a procurá-la. Casam e mudam-se para Antuérpia, na Bélgica, convencidos que o movimento militar alemão não irá chegar até ali. O bebé, Bernardo, nasce em clima de relativa tranquilidade.

Em Portugal, por sua vez, o regime salazarista faz com que Olívia e António vendam a casa e o seu negócio e planeiem ir para o Brasil. Aliás, António parte para ir adiantando as coisas.

Na Europa, o avanço nazi é estrangulador. António garante estadia e trabalho para os cunhados, acreditando que conseguem os vistos para o Brasil, mas nem tudo corre consoante o planeado. E como já sabemos, a determinada altura desta saga, as gémeas trocam de lugar...

No geral, gostei deste livro. A determinada altura, passei páginas meio da diagonal, porque a autora estava, claramente, a enrolar o enredo principal, e a repetir fórmulas que já tinha usado antes. Eram partes que não adiantavam minimamente a ação, e só serviam para encher chouriços. E achei o final, um tudo-nada metido ao pontapé: pareceu-me ligeiramente forçado, e não adorei por aí além.

Mas, como disse, globalmente, gostei. Os livros que se passam durante o período do nazismo, e que retratam, mesmo ficcionadamente, esta época da História Contemporânea, por norma, agradam-me bastante. Mais não seja por pretenderem relembrar as atrocidades cometidas por um grupo que se julgava superior a outros - não que tenha adiantado de muito, como se vê nos dias de hoje, mas pelos menos, tentam...

Mas não adorei. Agora já não é tanto o caso de ser picuinhas, mas houve um conjunto de situações descritas, e algumas soluções de narrativa que me deixaram algo incomodada, por parecer que não "batia a bota com a perdigota". Não sei se me faço entender?

Dei 3 estrelas. É um livro com o seu interesse, mas não essencial. Com esta temática, existem outros superiores qualitativamente.