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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Lido: O Destino do Capitão Blanc, de Sérgio Luís de Carvalho

Raramente encontro livros portugueses, sobre a I Guerra Mundial. É problema meu? Ou não há assim tantos? Esclareçam-me, por favor.

Esta leitura foi realizada no âmbito do projeto da Patrícia Rodrigues, Lusiteratura, e uma das categorias de julho era "romance histórico". Já tinha ouvido várias vezes, o nome deste autor. Tenho inclusivamente um dos seus livros cá em casa, mas trata-se de um livro de perguntas e respostas sobre alguns momentos da História de Portugal.

Assim, temos o Capitão Blanc, que é destacado, pouco antes do Armistício de Novembro de 1918, para ir para França para elaborar um relatório político-militar sobre as suas observações em campo, tanto do Corpo Expedicionário Português, como dos Aliados.

Contudo, aquilo que vê, vai muito além do que esperava. Muitas mortes, muita incompetência, muito desleixo... há medida que o tempo passa, as impressões sobre aquela guerra não se alteram, e isso é bastante evidente nos textos que envia para Portugal, já que Blanc é, simultaneamente, correspondente de um jornal, ligado à ala sidonista.

Todas as experiências que Blanc passa em França alteram de uma maneira inexplicável toda a sua percepção. E, já em Portugal, tinha havido uma nova mudança no Governo, e o seu relatório não é acolhido da forma que ele julgava.

As descrições do autor são de arrepiar. São tão bem escritas, tão vívidas, que cheguei a sentir-me francamente mal-disposta. O final foi inesperado. Não era de todo o que eu esperava, e fiquei desiludida. Atenção: a culpa não é do autor, é minha! O senhor não estava ali para fazer "fan service", entenda-se!

Curiosidade: não conheço o autor, foi a 1.ª vez que li algo dele, mas dá-me a ideia que ele deve ser meu "vizinho". Um dos personagens, o ordenança do Capitão Blanc, é um soldado, o Teles. Um rapaz extremamente cansado da guerra, oriundo de Colares. E mesmo o nosso Capitão Blanc tem várias memórias de quando era mais novo e passava temporadas em casa de uma tia, em Sintra. Fiquei com o feeling que tanta referência a Sintra quererá dizer alguma coisa... quem souber, por favor, deixe aí nos comentários: Sérgio Luís de Carvalho reside em Sintra?

Para quem não conhece a intervenção portuguesa na I Guerra Mundial - aconselho a começar por aqui.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Lido: Chamava-se Sara, de Tatiana de Rosnay

Terminei este livro quase há 10 dias... e ainda não publiquei nada sobre ele... vergonha!!

(terminei outro, já depois deste, e a publicação do post sai amanhã... juro!!)

Gostei imenso deste "Chamava-se Sara". Situa-se em dois tempos: os tempos modernos, onde conhecemos Julia Jarmont, uma jornalista norte-americana, casada com um arquitecto francês, e a viver em França há cerca de 25 anos. É-lhe entregue a investigação do que se passou em julho de 1942, durante a rusga da polícia francesa, aos judeus daquele país. O episódio ficou conhecido como Vel d'Hiver: centenas de judeus franceses foram transportados para o Vélodrome d' Hiver, um recinto desportivo, para daí serem deportados para os campos de concentração nazis.

No decurso da sua investigação, Julia descobre que uma família judia viveu na casa da avó do marido... aquela que iria ser a sua futura casa. Daí, o seu interesse pelo tema cresceu ainda mais e fez de tudo para conseguir descobrir mais sobre esse assunto, para, de alguma forma, conseguir alcançar uma certa paz de espírito.

O 2.º momento passa-se exatamente durante essa rusga. Uma criança, que viremos a saber que se trata de Sara, é levada com os pais para o Vélodrome e depois levada para um campo de concentração. Porém, antes de sair de casa consegue esconder o seu irmãozinho, Michael. De alguma forma, consegue fugir e é acolhida por uma família francesa que, praticamente a adopta.

Este livro é o cruzamento íntimo destas duas narrativas. Gostei muito da escrita da autora, que ainda não conhecia. E, mais uma vez, a realidade consegue dar um pontapé "nos tintins" da ficção. A maldade durante este período horrível da História da Humanidade devia ser um "abre-olhos" para tudo aquilo que, hoje, se passa no quintal ao lado do nosso.

O sofrimento, a dor, a separação, a tortura, a miséria, a fome... ninguém devia passar por uma coisa destas. Fosse nos anos 40 do século passado, ou à beira dos anos 20 do nosso século XXI.

Houve alguns pormenores que não gostei tanto, mas que não comprometem minimamente a experiência de leitura nem a narrativa - é apenas uma questão pessoal; razão pela qual dei 4 estrelas ao livros em vez de 5.

domingo, 21 de julho de 2019

Lido: Deuses Americanos, de Neil Gaiman

Atrasei a publicação do livro Cisnes Selvagens, e este foi por arrasto... entretanto, o Henrique e eu estivemos meio em baixo, e acabei por me deixar ficar. No Instagram, as leituras têm vindo a estar minimamente atuais - que é como quem diz: tenho lá botado umas figurinhas e rascunhado umas palavras só para saberem que estou viva.

Para o Book Bingo, uma das 16 categorias é "ler um livro aconselhado pela pessoa que vive contigo". Pois que, o meu excelso companheiro é fã de Neil Gaiman. E, há pouco tempo, comprou o 1.º volume da graphic novel dos "Deuses Americanos", da Saída de Emergência que, mais uma vez, prima pela escolha fabulosa do seu catálogo.

Segundo li... algures - e a minha memória continua impecável, como vêem -  a graphic novel é, palavra-por-palavra, igual ao livro, portanto, não estou a perder nada e adorar o traçado dos artistas. Neil Gaiman trabalhou com vários desenhadores que deram vida às suas personagens.

Sinceramente, não sei onde é que o homem vai buscar as ideias para aquilo que escreve, mas quero uma dose diária do que ele toma ao pequeno-almoço. Pôr os Deuses antigos a confrontar os novos... é simplesmente lindo.

Shadow Moon sai da prisão dois dias mais cedo, porque recebe a notícia que a mulher morreu num acidente. Para juntar à dose de desgraça, o amigo que supostamente o iria empregar morreu no mesmo acidente. Sem saber para onde ir, desempregado... Moon é empregado por uma estranha figura, Mr. Wednesday, como guarda-costas. Uma posição lucrativa, e com a política de "não fazer perguntas". E é assim que entra num mundo que nunca imaginou, e onde uma guerra está iminente.

O segundo volume, de acordo com o Facebook da Saída de Emergência, está prestes a sair, e eu estou ansiosaaaaa

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Lido: Cisnes Selvagens, de Jung Chang

Mais uma vez, atrasei-me na atualização das leituras realizadas. Desde a última postagem, a 5 de julho, já terminei dois livros, entre os quais este maravilhoso Cisnes Selvagens.


"Precisava" de um livro para a categoria "China" da maratona Volta ao Mundo em 15 Citações. Comecei a ler um de ficção científica - Three Body Problem, de Liu Cixin (e descobri, agora mesmo, que há um filme chinês de 2016, baseado neste livro) - mas não estava a conseguir entrar na história e acabei por o colocar de lado. 

Ouvi algures, em alguma altura da minha vida, alguém a falar dos Cisnes Selvagens (a minha memória funciona assim, ultimamente!). Procurei no catálogo da biblioteca e tinham-no. Trouxe-o na visita seguinte e não me arrependi minimamente. 

Que livro maravilhoso. Foram 5 estrelas, de caras... seriam mais, se o Goodreads assim o permitisse. Acompanhamos a História da evolução da China dos imperadores até à China de Mao Zedong (estou a usar a forma escrita no livro). A autora conta-nos a história da avó materna, da mãe e a sua própria num tempo que vai desde 1924, quando a avó se torna concubina de um poderoso general, até meados dos anos 70, quando a própria autora ganha uma bolsa de estudos, e sai da China, após a morte de Mao. 

É um brutal murro no estômago. Se os livros sobre o Holocausto são de uma brutalidade e deixa-me fisicamente doente ler algumas descrições de como os presos eram tratados e torturados, a arbitrariedade da morte... este, não é menos mau. A forma como certos "opositores" ao regime comunista de Mao eram mortos era completamente louca. Bastava uma denúncia vaga, uma vingança pessoal entre vizinhos que não se davam particularmente bem, ou por ciúmes, por exemplo... era o suficiente para toda uma família ser brutalmente castigada!

As crianças eram, desde o berço, doutrinadas a crer que o presidente Mao era o grande e poderoso de todo o Mundo. E que o Ocidente era um terrível buraco negro de miséria, depravação, fome e pobreza. 

Os próprios pais da autora foram torturados, exilados... e mesmo assim, o nome do pai só ficou totalmente limpo de acusações, alguns anos após a sua morte. Só desta forma é que Jung Chang se pode candidatar a uma bolsa em Inglaterra. 

Aconselho vivamente esta leitura. É um retrato poderosíssimo de um regime que conhecemos tão, mas tão mal... é uma obra magistral. Lindamente escrita. Sem paninhos quentes. A autora reconhece, várias vezes, a sua ingenuidade e acompanhamos o seu crescimento e o seu "abrir" de olhos à medida que os anos iam passando. O livro, publicado no início dos anos 90, é um documento-testemunho de uma China onde ninguém gostaria de regressar. 

Cisnes Selvagenes foi uma leitura a contar para a maratona, como já havia dito, e também para a categoria "Autor que nunca leste" do Book Bingo. 

Citação escolhida: 
"Ele não precisava de ter morrido. E, no entanto, a sua morte parecera tão inevitável. Não havia lugar para ele na China de Mao, porque tentara ser um homem honesto. Fora traído por algo a que dedicara toda a sua vida, e a traição destruíra-o"

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Lido: O Homem da Areia, de Lars Kepler

Que livraço! Ainda tenho os pelinhos dos braços arrepiados. Remonta a dezembro/janeiro, a última vez que li algo que sequer se assemelhasse a um thriller. E já não me lembro da última vez que li um nórdico.

Comprei, há algumas semanas, este "O Homem da Areia" de Lars Kepler, e se, inicialmente, fiquei "lixada" por me aperceber que faz parte de uma saga, também rapidamente isso se dissipou quando li, algures, que podia ser lido como um "stand-alone", ou seja, faz parte de uma série, mas, se lido individualmente, não faz mossa. E assim foi.

Já estava desacostumada de thrillers nórdicos: aquela crueza nas descrições, aqueles banhos de sangue, aquela "miaúfa" psicológica provocada no leitor, aquela sensação estranha de que podemos ser esventrados a qualquer instante... ahhhh, saudades.

O livro começa a descrever uma cena em que vemos um jovem a caminhar, durante a noite, junto a uma linha de comboio. O sangue congelou nas suas roupas - só Deus sabe como a Suécia pode ser fresquinha à noite! Adiante... logo de seguida somos apresentados a um médico que inicia o seu 1.º dia numa unidade de alta segurança de psiquiatria de um hospital. Todos os olhos dos médicos, assistentes e técnicos estão em Jurek Walter, um assassino impiedoso, apanhado e encarcerado há 13 anos.

Mais tarde viremos a saber que o jovem que vimos na introdução é Mikael, um rapaz que foi raptado, com a irmã, há 13 anos, e que nunca havia sido encontrado. Automaticamente, um dos responsáveis pelo caso do duplo rapto, é alertado: Joona Linna.

Também o comissário teve um passado com este serial killer, e é necessário - urgentemente - encontrar a irmã de Mikael que ainda poderá estar viva, mas gravemente doente.

De arrepiar. O livro tem 500 páginas, mas apenas no 1.º dia, li quase 200; ontem à noite, cheguei às 400 e tal. Os capítulos são extremamente curtos 2/3 páginas (às vezes, uma página e meia), e só queremos saber o que vai acontecer a seguir. Ficamos numa ânsia perfeitamente descontrolada e só queremos ler e ler e ler... muito bom. Estou mesmo muito satisfeita e recomendo a quem gosta de thrillers de cortar a respiração.

Esta leitura conta para a maratona "Volta ao Mundo em 15 Citações" (categoria: países nórdicos) e no Book Bingo (categoria "livro que se passe num lugar onde gostasses de passar férias").

Citação escolhida:
"Passados cinco dias, a Polícia emitiu um alerta. Mas Joona Linna não apareceu e, seis meses depois, as buscas foram suspensas. Apenas Saga Bauer continuou a procurá-lo, porque sabia que ele não estava morto".