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sábado, 29 de janeiro de 2022

Lido: O Irmão Alemão, de Chico Buarque

Em fevereiro de 2020, estreei-me com Chico Buarque. A minha sogra, no Natal de 2019, ofereceu-me "Essa Gente" e, na altura, li-o em menos de um dia. 

Desta vez, trouxe da Biblioteca Municipal de Sintra "O Irmão Alemão". Desconhecia totalmente a história principal e fiquei agradavelmente surpreendida ao saber que, este romance, é uma mistura de elementos autobiográficos e fictícios. 

Chico Buarque teve, realmente, um meio-irmão alemão, depois de uma temporada que o pai passou na Alemanha, antes de conhecer aquela que viria a ser a mãe de Chico Buarque. 

A trama passa-se, na sua grande maioria, durante a juventude do narrador, nos tempos da ditadura militar no Brasil. O pai, Sergio Hollander,  é um intelectual e crítico literário que passa os seus dias a ler. Um dia, o nosso narrador encontra uma carta, assinada por uma mulher, onde fala do filho de ambos, Sergio (como o pai). 

Inicia então uma busca incansável para saber o paradeiro deste irmão. 

A escrita de Buarque é uma conversa com o leitor. O tom coloquial que, de resto, eu já tinha elogiado, no "Essa Gente", é constante. Sabemos sempre, exatamente, quais são as linhas de pensamento do narrador, quais são os seus sentimentos... nada deixa margem para dúvidas e deixamo-nos, como ele, embrenhar nesta história com várias décadas, para saber quem era este Sergio que viveu longe do pai...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Lido: O Diário de Anne Frank, por Ari Folman e David Polonsky

 Li O Diário de Anne Frank numa outra vida. Não quero parecer exagerada, mas teria uns 14/15 anos... portanto, há para cima de imenso tempo. 

Anne Frank foi o livro que me abriu as portas para a nossa História Contemporânea. Uma adolescente, como eu, a passar por algo que eu nunca imaginaria - nem nos meus piores pesadelos. Talvez seja por isso que sou tão interessada por esta época. 

Quando surgiu a adaptação em banda desenhada, fiquei muito interessada em saber como tinham conseguido fazer a transição. 

E não fiquei desiludida. 

Para mim, pareceu que este sempre tinha sido o seu formato; senti a mesma emoção que senti quando o li pela primeira vez.

Julgo que esta deva ser uma leitura obrigatória para todos os jovens. Não sei se este livro em específico lhes deva ser apresentado imediatamente. Na minha modesta opinião, apesar de ser uma adaptação fabulosa, temo que os mais novos a vejam como uma obra de ficção. Mais um livro de banda desenhada. Devem sim, ler o livro O Diário de Anne Frank - saber que aquela rapariga existiu efetivamente, e quando tiverem os pensamentos todos bem estruturados, aí sim, presentear com a BD. 

Posto isto, gente adulta que ainda me lê... façam-me o favor e relembrem esta magnifíca menina!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Lido: Fantasia

Desde há uns tempos a esta parte, a fantasia tem sido um género que abunda nas minhas TBR's. E como, por norma, se tratam de sagas de vários volumes, basta começar a ler qualquer coisa que depois essa "qualquer coisa" se transforma numa empreitada de anos. 

Por exemplo, neste post, vou falar de Juliet Marillier e de Kendare Blake, e a sua tetralogia "Three Dark Crowns", que comecei a ler em janeiro de 2019. Marillier li, pela primeira vez, em março do mesmo ano. Ou seja, autoras que sigo, praticamente, há três anos. 

Os livros de que aqui falo foram lidos em outubro e novembro de 2021, em formato ebook.

- A Máscara da Raposa, de Juliet Marillier: este livro é o 2.º livro da Saga das Ilhas Brilhantes, escrito por Juliet Marillier. Publicado em 2004, é a continuação do livro O Filho de Thor, que li em abril de 2021 (uupppssss...!!!). Enfim, muito tempo depois, li a continuação. Anos após os eventos de O Filho de Thor, o jovem Thorvald descobre um segredo que a mãe lhe escondia há anos: o pai não era quem ele pensava, e sim Somerled, o nosso vilão do 1.º volume. 

Frustrado e zangado com a mãe, Thorvald parte em busca do verdadeiro pai. Nesta jornada, é acompanhado por Creidhe, filha de Eyvind (o herói do 1.º livro), e Sam, um jovem navegador e seu amigo. Ao chegarem ao território do povo das Facas Longas - que é governado por um homem terrível - descobrem uma maldição, associada àquelas estranhas gentes. 
Esta é uma história de amor, de magia e de redenção e é estupidamente bem escrito, como, de resto, é apanágio da neozelandesa. 


- Cinco Destinos Negros, de Kendare Blake: resumo rápido - a cada geração, nascem três gémeas, com poderes especifícos, e destinadas a lutar até à morte pela coroa de Fennbirn. Mas, no Dia da Ascensão algo corre muito mal, e a rainha vencedora, apesar de não ter morto as irmãs, é coroada. Nunca tal tinha acontecido, e a presença (mesmo que ausente) das duas rainhas fugitivas ameaça o reinado, que é mais volátil do que absoluto. Além das conspirações internas, Katherine - a rainha coroada - foi invadida pelas almas das antigas rainhas mortas, a Rebelião avança, ao mesmo tempo que uma estranha névoa consome tudo o que apanha... são estes todos os problemas com que Fennbirn tem de lidar. Vou ser sincera, não gostei tanto deste final de saga como era suposto. A autora andou anos a construir um imaginário incrível, para depois ter um final tão morno. Não foi mau, não desgostei, mas achei só morno... não me arrebatou como achei que iria arrebatar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Lidos: Policiais

 Às vezes, como "limpa-palato", leio um policialzinho, só para me abstrair de temas mais densos. Os meus favoritos são, de longe, os autores escandinavos. Apesar de, nos últimos tempos, não ler muito este género, a verdade é que gosto sempre de lá voltar, de quando em quando...

Recentemente, li: 

- Quando a tua ira passar, de Asa Larsson: é preciso recuar a 2015, para encontrar um livro da autora sueca Åsa Larsson. Na altura, li "Aurora Boreal". Neste livro, Wilma e Simon, um casal de namorados, decidiu ir mergulhar num lago gelado para encontrar os destroços de um suposto avião alemão desaparecido na década de 40. Durante o mergulho, alguém corta a corda de segurança e tapa o orifício de entrada no lago. É impossível sair dali. Meses depois, na Primavera, aparece o corpo de Wilma e a investigação de Rebecka Martinsson e da inspetora Anna-Maria Mella leva-as na senda de um segredo que envolve colaboracionistas do regime nazi. 
Uma das coisas que mais me agrada nestes autores, é a capacidade de usarem o próprio clima nórdico como se fosse uma personagem. O frio cortante, a neve, as poucas horas de luz são uma constante e tornam a narrativa sempre muito mais "noir". Gostei imenso, e mais uma vez, é um daqueles livros que se lê num piscar de olhos, porque há poucos momentos pausados, e existe sempre muita ação e algo a acontecer. 

- Hercule Poirot: os crimes do ABC, de Agatha Christie (banda desenhada): os livros de Poirot, nesta altura do campeonato, já são clássicos, e esta história não é excepção. Poirot anda às voltas com um novo mistério. Um assassino desafia o detetive belga a pará-lo: antes de cada crime, escreve a Poirot com o dia e local de cada homicídio. 
Esta história, em banda desenhada, foi adaptada por Frédéric Brémaud, com desenhos de Alberto Zanon e cor de Fabien Alquier. 

- O Nadador, de Joakim Zander: nos anos 80, um espião americano acaba de ver morrer a companheira, numa explosão que o tinha como alvo. Tendo nos braços a filha bebé de ambos, decide deixar a bebé junto na Embaixada, para que esta fosse entregue aos parentes mais próximos. Na atualidade, Klara Walldéen é uma funcionária do Parlamento Europeu que tem um "affair" com George Lööw, um lobista norte-americano. Pelo meio, aparece também Mahmoud Shammosh, um ex-militar e ex-namorado de Klara, que no início deste livro é contactado por um colega que frequentou com ele o serviço militar e que suspeita que está a ser perseguido. Todas estas histórias vão, obviamente, acabar por se cruzar. Narrativa é sempre intercalada entre a história do espião e a atualidade que envolve Klara, até que passado e presente se fundem. Demorei um bocadinho a entrar na história, porque inicialmente, não estava a conseguir entender a dinâmica das histórias intercaladas, mas depois de "olear a maquinaria", segui sem problemas. 



terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Lidos: Autores portugueses

Nos últimos três meses, tenho "sofrido" um pouco com a falta de vontade de escrever no blogue. Felizmente, que isto é um hobbie e não um trabalho ou já estava a esta hora com as malas à frente do Instituto de Emprego. 

Tenho lido, a um ritmo menos implacável, por assim dizer. Vou partilhando umas coisitas nas redes sociais - mais no Instagram, por sinal - mas nada de significativo. Entre ler, ver uma série, ajudar o Henrique em alguma coisa, ou passar ainda mais tempo à frente do computador, a escolha é bastante simples. 

Ler é também uma atividade intemporal; não é como se os livros fossem fugir todos, já amanhã...

Nestes tempos, tenho lido alguns livros de autores nacionais: 

- Se com pérolas ou ossos, de João Reis
O João Reis é fantástico. Não me canso de o dizer, e já o exprimi ao próprio. Este livro data de Fevereiro de 2021, e foi uma prenda de aniversário de mim para mim própria. O nosso narrador, Rodrigo, está na Coreia do Sul, numa residência literária, para escrever o seu próximo livro; no entanto, esse processo criativo está em stand-by, e ele prefere explorar a cidade com a namorada, Beatriz, que o acompanha nesta jornada. 
Esse "pequeno" problema de não conseguir escrever, deixa-o francamente preocupado, mas, por outro lado, deixa-se enlear e distrair por tudo aquilo que o rodeia: alguém que olha demasiado para ele, uma expressão que ele insiste que foi desrespeituosa, uma aventura com um gato e uma conta de veterinário... o tom do livro - derrotista, vertiginoso, sarcástico - é semelhante ao A Noiva do Tradutor
Se ainda não conhecem João Reis, visitem uma livraria e tratem dessa falha imediatamente. 

- A Marquesa de Alorna, de Maria João Lopo de Carvalho
Este foi um dos calhamaços que já queria ter lido há algum tempo. Sempre achei a imagem do livro interessante, mas ainda não me tinha predisposto a empreender tamanha empreitada. Mas chegou o dia em que o trouxe da Biblioteca. O que sabia sobre ele? Zero. Curiosidade: o exemplar que trouxe da Biblioteca Municipal vinha autografado pela escritora, e desconfio que tenha sido uma oferta da própria ao nosso atual primeiro-ministro, quando da sua passagem pela Câmara de Lisboa. 
Leonor de Almeida, conhecida como Alcipe no meio cultural da época, foi uma nobre e poetisa, aparentada dos Távora, viu-se encarcerada no Convento de São Félix, em Chelas, aos 8 anos, com a mãe e a irmã. Só saiu quase 20 anos depois. Mas foi durante esse tempo que se dedicou à poesia e à leitura das grandes obras.
O livro retrata-nos a vida desta mulher, e da sua família, que é recheada de sucessos e de passos atrás. Uma leitura bastante interessante, apesar de ter alguns momentos mais aborrecidos. 

- Galveias, de José Luís Peixoto
Ai!!! Tanto que podia dizer sobre a minha suprema palermice por ainda não ter lido este Galveias. Galveias é uma freguesia portuguesa do município de Ponte de Sor, e também o nome do 5.º livro de José Luís Peixoto, que ali nasceu.
A ação decorre nos anos 80. Uma rocha - com cheiro a enxofre - cai no meio de uma herdade e essa presença que, no início, é altamente... presente (peço desculpa pelo pleunasmo), vai-se diluindo com o tempo; apesar do cheiro a enxofre permanecer em quase todas as páginas da narrativa.
Neste Alentejo rural de há quase 40 anos, as histórias das personagens vão-se cruzar e entrecruzar numa dança literária que eu nunca conseguiria escrever nem num milhão de anos.
Este é um daqueles livros que merece uma segunda leitura para alcançar todos os seus níveis. Foi mais um livro que trouxe da Biblioteca Municipal, mas que gostaria de comprar, para fazer parte da minha coleção. 

- O Último Negreiro, de Miguel Real
À semelhança do livro da Marquesa de Alorna, este livro é uma mistura de ficção com não ficção. O Último Negreiro segue a vida do último traficante português de escravos, Francisco Félix de Sousa. A ação passa-se essencialmente entre São Salvador da Bahia e Ajudá, no território que hoje é o Benim, no Golfo da Guiné. 
Depois de vários incidentes que envolviam Félix de Sousa e algumas das maiores personalidades da Bahia, Francisco embarca para o país que mais escravos "dava" para o negócio. Ali, constrói um império e torna-se conhecido pelo título de "Chàchá", até à completa abolição da escravatura. 
Um facto curioso é que ainda hoje - quase 200 anos após a sua morte - descendentes de Francisco Félix de Sousa herdaram o seu título. Ajudá tem museus, ruas e estátuas de Félix de Sousa, o "pai" daquela cidade. 

- Saga das Pedras Mágicas, de Sandra Carvalho: Lágrimas do Sol e da Lua, O Círculo do Medo e Os Três Reinos, respetivamente os livros 3, 4 e 5 da saga
Tudo começou quando uma feiticeira se apaixonou por um humano e, em vez de se tornar uma simples proscrita, conseguiu enganar o Conselho dos Seres Superiores, e manteve o seu poder na Terra, dentro de sete pedras mágicas. Tudo começou quanto Catelyn se apaixonou pelo guerreiro viking Throst e, com ele, teve três filhas. Tudo começou quando outros feiticeiros das Artes Obscuras conseguiram deitar mão às pedras mágicas. E a profecia que diz ameaça a estabilidade dos territórios. 
Como disse antes, esta é uma saga que faz muito lembrar Juliet Marillier, mas escrita em português. E em bom. 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Lidos: Saga Harry Potter - audiobook

 Estou a iniciar a audição do último livro da saga Harry Potter, narrada por Stephen Fry. 

Passados tantos anos, desde que li pela primeira vez, as aventuras do jovem feiticeiro, estou a usufruir do único formato que ainda não tinha experimentado. E, estar a ouvir estas história, quase aos 40 anos faz-me aperceber que - além de continuar a ser uma saga do caraças - consigo relacionar-me melhor com a perspetiva das personagens adultas. 

Uma Molly e um Arthur Weasley, na qualidade de pais preocupados com o bem-estar de todos os filhos (mesmo do Percy), que assumem a quase responsabilidade pelo Harry. 

Há também facetas do Harry que agora me irritam - por exemplo, aquela mania de não partilhar com os adultos responsáveis as coisas que o atormentavam, ou abrir o peito às balas e assumir para si todas as batalhas. És um miúdo, pá! 

Estou oficialmente a envelhecer, é a conclusão a que chego! 

A voz do Stephen Fry é fabulosa, e apesar do meu inglês estar enferrujadíssimo, consigo acompanhar a narração sem qualquer problema - existe uma ou outra expressão que me passa ao lado, mas no cômputo geral, está a ser incrivelmente acessível.

https://www.theaustralian.com.au/