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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Lido: A Mulher no Expresso do Oriente, de Lindsay Jayne Ashford

Esta foi a minha 7.ª leitura do ano. Supostamente estava na minha lista de leituras de fevereiro, mas adiantei-me no que queria ler, e "despachei" este em 3 dias.

A Mulher no Expresso do Oriente - só o nome é mais do que apetitoso. E se tomarmos atenção às letras mais pequeninas da capa, lemos "Um romance inesquecível sobre Agatha Christie e uma viagem cheia de segredos e mistérios".

Não me digam que não ficariam curiosos??

E tendo eu já lido muito de Lady Agatha, visto todas as temporadas possíveis de Poirot, Miss Marple e mesmo do casal Beresford (muitas vezes esquecido, e injustamente - na minha opinião!), tinha de ler este livro.

O livro começa com Agatha Christie a descansar no seu jardim, em 1963. É agosto e está bom tempo. E eis que um homem desconhecido a aborda. Precisa desesperadamente da sua ajuda. Mostra a Agatha umas fotografias antigas, e solicita que esta identifique as pessoas que nelas figuram. Agatha fica algo perturbada e equaciona não contar nada ao homem.

O Capítulo 1 não tem mais de sete páginas e passa-se em outubro de 1928. Temos então uma Agatha a preparar-se para embarcar no Expresso do Oriente. Sabemos que está recém-divorciada de  Archibald Christie (Archie, como é identificado neste livro) e a viagem servirá para espantar esse fantasma.
Somos apresentados também a Nancy que está prestes a embarcar no mesmo comboio, para fugir ao marido e ainda a Katherine, uma mulher cujo marido se suicidou, quando estavam casados há apenas seis meses. Katherine sente-se terrivelmente culpada.

E, claro, que estas três mulheres vão ver os seus destinos profundamente entrelaçados, mais não seja porque as fotografias que, no prólogo, o homem misterioso mostra a uma mais velha Agatha Christie, mostram precisamente essa relação entre elas.

Se, por um lado, fiquei um bocadinho decepcionada por não se tratar de um verdadeiro mistério como estamos habituados a associar a Agatha Christie, por outro lado, trata-se de um romanceamento da sua vida. A autora pegou em aspetos chave da vida da romancista e deu-lhes um "cheirinho" de ficção: Agatha realmente divorciou-se, a narrativa de Katherine também existe, apenas Nancy é ficcionada, mas inspirada na amante de Archie. Agatha realmente viajou no Expresso do Oriente (mais do que uma vez) e tornou-se amiga de Katherine, e conheceu Max que viria a tornar-se o seu 2.º marido. As circunstâncias é que podem não ter sido tal como descritas neste livro.

Gostei mesmo muito, apesar daquele ligeiro sentimento de decepção. Não é um mistério digno das célulazinhas cinzentas de Poirot, mas é uma viagem pelos segredos de três mulheres adultas, em diferentes estágios das suas vidas. No fim, obviamente, fica tudo esclarecido, com todos os arcos bem fechados.

Mas mais do que um livro sobre Agatha Christie, ou sobre crime e mistério, este livro é sobre os laços de amizade e sobre mulheres que, com as suas forças e fraquezas, continuam... sempre.

Além da narrativa que se torna fascinante à medida que o livro vai avançando, gostei igualmente das descrições. E como já li o Crime no Expresso do Oriente, e as respetivas adaptações a filmes e séries, a minha mente ia pegando em fragmentos de memórias que poderiam perfeitamente ser imagens daquilo que ia lendo.  Recomendo este livro, mas não esperem um crime de faca e alguidar, porque não tem nada a ver.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Lido: O Poço da Ascensão, de Brandon Sanderson

Livraço. A minha análise a este livro quase podia ficar por aqui, que não me arrependeria. Li o primeiro volume, ainda durante o mês de novembro (de má memória) e tinha ficado fascinada com o mundo criado por Sanderson. 

(post sobre o primeiro volume O Império final, pode ser consultado aqui)

Este começa logo a assustar pelo tamanho. É um bicho com mais de 700 páginas e... senhores da Saída de Emergência, se me ouvirem, se fazia sentido dividir um livro, era este!... 

Mas adiante.

Muito resumidamente: no 1.º livro, tínhamos Kelsier, um afamado ladrão, a reunir um grupo, com o objetivo de derrubar o Senhor Soberano, o líder do Império Final, há mais de 1000 anos, num misto de reino de terror e fé cega (sim, enquanto nós temos várias religiões, ali, clamava-se pelo Senhor Soberano). 
Neste mundo, existem pessoas com o poder de "queimar" metais (chamados "alomantes"), dando-lhes uns determinados poderes. Kelsier é um raro, é "nascido das brumas", ou seja pode "queimar" todos os metais conhecidos, sendo, assim, uma pessoa praticamente invencível. Vin é a sua aprendiz, uma miúda das ruas, maltratada por todos, que encontra no bando de Kelsier, o conforto, a segurança e a confiança que nunca teve antes. Vin também é "nascida das brumas" e Kelsier desperta-a para os poderes que possui. 

Neste 2.º livro, explora-se muito a origem da mitologia do Senhor Soberano. De onde apareceu? Quem era ele realmente? De onde vinha todo o seu poder? Como conseguiu dominar o território durante tantos anos? 
O Senhor Soberano foi derrotado, e o bando de Kelsier está encarregue de pôr ordem em Luthadel, a cidade-capital do Império. Elend, o namorado de Vin, foi o escolhido para ser o Rei nesta nova Era, mas a pressão está a dar cabo dele: tem dois exércitos às portas da cidade (um deles do próprio pai), e um terceiro a caminho, e internamente, o seu Conselho insiste em entregar a cidade a um dos exércitos. 

Religião, política e poder são as palavras-chave deste extenso volume, com tudo o que de bom e de mau possam trazer. 

Já não me recordo com quem tive esta conversa, mas sei que há pouco tempo falava da saga e em como, de forma encapotada, há imensa atualidade num "simples" livro de fantasia: a manipulação, os jogos políticos de bastidores, um grupo de privilegiados que se sente "superior" em relação a outros... 

Provavelmente, o Sanderson nunca irá vencer um prémio Nobel da Literatura, mas, a saga está muito bem construída, caramba... 

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Lido: A mulher do oficial nazi, de Edith Hahn Beer (com Susan Dworkin)

Este livro foi a minha segunda leitura dos projetos da Dora e da Sara Cristina, #hol75 e #vozesdoholocausto, respetivamente, que pretendem, acima de tudo, que o tema continue em cima da mesa.

Este ano, passaram 75 anos desde a libertação de Auschwitz e, mais do que nunca, com a ascensão de movimentos extremistas, convém que não se esqueça.

É perfeitamente justo dizer que, ao longo dos anos, foram perpetuados outros genocídios, outras ações massivas de matança de povos e comunidades inteiras, e que não têm gerado tanta discussão como este em particular, mas (na minha simples e humilde opinião) creio que falar sobre o Holocausto, não é "apenas" falar do Holocasto. É, e deve ser, mais que isso.

Falar do Holocausto deve ser apenas o ponto de partida para uma discussão maior e mais complexa sobre o papel dos Estados na proteção e na defesa daqueles que os procuram e sobre Direitos Humanos.

Falar de Auschwitz, mas ignorar aqueles que morrem no Mediterrâneo ou a caravana sul-americana de refugiados, ou esquecer o que se passou no Ruanda e o que se passa na Nigéria - é limitar-se a seleccionar a parte da História que lhe dá mais jeito. Mas isto sou eu, que hoje estou com mau feitio... esqueçam...!

Sobre o livro - eventualmente conterá spoilers - depois não digam que não avisei:
Edith é uma jovem e brilhante estudante de Direito. Tem um namorado carinhoso e bonito, está prestes a graduar-se. O pormenor? Vivia em Viena. Em 1938, Hitler invade o País, e a vida perfeitamente encaminhada de Edith descamba.

Consegue documentos falsos, e esconder o seu judaísmo ao longo de toda a guerra. A determinada altura, conhece Werner, que está filiado no Partido Nazi, e, na reta final, é ainda chamado para combater (apesar de ser parcialmente cego).

Esta é a sua história. A vida de uma mulher que, durante anos, conseguiu sobreviver, fingindo ser quem não era. O que demonstra que não havia nenhum sinal exterior de fizesse dela inimiga do Estado, mas, mais uma vez, estou a começar a divagar.

Gostei muito deste livro, e esta é a prova em como ainda me consigo surpreender com livros com esta temática. É um daqueles livros que não se passando num campo de concentração, nos consegue comover e pensar para além daí. A II.ª Guerra não foi só os extermínios; foram também aqueles que, como Edith, foram praticamente escravizados por alemães, a "raça superior" que tudo podia...

Mais uma vez, trata-se de uma história verídica, escrito num tom quase coloquial, e gostei especialmente da parte final do livro, quando Edith, já liberta do segredo e da pressão de ter de fingir ser ariana, assume o seu verdadeiro "eu" e riposta contra o marido, que apesar de saber a sua identidade, não a denunciou (até porque também se incriminaria), mas que usava esse conhecimento em seu favor.

É um livro que se lê muito bem. Tem pouco mais de 250 páginas, e lê-se quase de uma assentada. Li-o em quatro dias, porque estava a partilhar o meu tempo com o segundo volume da trilogia Mistborn, do Brandon Sanderson: O Poço da Ascensão (cujo post sairá amanhã ou na 5.ª feira). 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Lido: Preciosa, de Nelson Nunes

No final de novembro, o grupo de leitura a que pertenço - Regaleira de Livros - reuniu em Rio de Mouro, na Feira do Livro que a junta de freguesia local havia organizado no Mercado Municipal. No mesmo dia, o autor sintrense Nelson Nunes apresentava lá o seu 1.º romance: Preciosa. 


Preciosa é um testemunho, em 1.ª pessoa, sobre violência doméstica e sobre sobrevivência. O pai de Nelson era abusador, a mãe de Nelson e o próprio, as vítimas. Em pouco mais de 150 páginas, o autor partilha memórias de fuga, de perseguições, de sovas, de ameaças, de armas apontadas... fala-nos da sua ausência de infância e da normalização da violência. Fala-nos de quando as autoridades não fizeram caso das denúncias. Fala-nos de quando o pai o ia buscar e tentava comprar-lhe o afeto com prendas até ao dia em que o filho lhe disse que o odiava, e que desejava que morresse.

Um testemunho muito cru, sem falinhas mansas... um testemunho de alguém que ainda hoje sente resquícios de medo ao dobrar esquinas.

Preciosa é, ao mesmo tempo, uma prova de sobrevivência, porque a protagonista - a mãe - ao contrário das 35 pessoas de 2019, sobreviveu. Fugiu do agressor. Tentou refazer a sua vida. Tentou que a violência doméstica não lhe condicionasse os passos. Tentou proteger sempre o filho. E conseguiu! 

O Nelson não é novato nestas andanças da escrita. Mas este é o seu primeiro romance. A sua primeira grande reportagem, exatamente, sobre a sua vida. 



terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Lido: A Imperatriz Viúva: Cixi. A concubina que mudou a China, de Jung Chang

Depois de "passar" umas horinhas no Japão, nada mais adequado do que dar "um pulinho" à China.

E depois de, em julho, ter lido Cisnes Selvagens, tive uma vontade imensa de ler mais livros escritos por Jung Chang; foi assim que cheguei a esta obra, disponível na Biblioteca Municipal de Sintra. Procurei-a nas várias vezes que fui à biblioteca... estranhei nunca encontrar o livro, sabendo de antemão que estava disponível. Perguntei por ele. Estava nas biografias. Ou seja, procurava eu um romance, e levo um livro de não ficção.

É um bocadinho denso, sem dúvida, mas é fascinante perceber que, em pleno século XIX, numa China medieval, houve uma mulher tão "à frente" do seu tempo. Uma pessoa inteligente o suficiente para perceber que havia mais (e melhor) que podia ser feito pelo povo.

E foi após a morte do Imperador Xianfeng, de quem era concubina, que esta mulher - aproveitando o facto de ser a mãe biológica do futuro Imperador, já que Xianfeng não tinha mais herdeiros masculinos - começou a governar a China.

E assim foi, durante quase cinco décadas. 47 anos, mais precisamente. A sua morte em 1908, praticamente, assinalou a queda da dinastia Qing, a última dinastia imperial da China.

É um livro bastante interessante, e muito bem apoiado numa extensa bibliografia. No meio do livro, em três ou quatro ocasiões, foram incluídas fotografias e pinturas de época, de Cixi... documentos visuais interessantíssimos.



Apesar de não ser - de todo - o que esperava, gostei imenso de ler A Imperatriz Viúva que, de resto, tem também uma capa fabulosa.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Lido: 47 Ronin, de Mike Richardson e Stan Sakai

A minha segunda leitura do ano foi a história dos 47 Ronin, um grupo de Samurais no Japão do século XVIII que vingam o assassinato de seu mestre. É a lenda mais famosa do código de honra Samurai.

Esta leitura foi feita no âmbito do projeto #desafionijitv2020, apresentado pelo Fernando do canal Niji TV. Em que consiste? Os participantes devem ler livros ou mangás, de acordo com uma série de desafios: mangá ou livro vencedor de prémio, mangá ou livro ambientado no Japão, mangá ou livro com histórias curtas, mangá ou livro de um autor preferido, mangá ou livro do ano ou década em que nascemos, mangá ou livro sobre música, mangá ou livro passado no Verão, mangá ou livro com número no título, mangá ou livro com letra do o teu nome mangá ou livro que tenha uma cor no título e (este é extra) mangá ou livro que tenha lido no ano passado.

Apesar do Fernando ter definido um mês para cada desafio, deu liberdade aos participantes de os realizarem como quisessem. 

Achei o projeto muito interessante, especialmente porque nunca li mangá, e obriga-me a sair do meu cantinho e a procurar outras aventuras. Dias depois de ter visto o vídeo do Fernando, reparei que num canal qualquer da cabo, estava a dar o filme 47 Ronin, com o Keanu Reeves, e pensei que poderia ser um bom ponto de partida. Encontrei então o livro de Mike Richardson e arte de Stan Sakai. Devorei-o em menos de um fósforo. Ajudou bastante ser pequenino (cerca de 150 páginas), porque estava inteiramente em inglês, que não costuma ser (de todo!) a minha língua preferencial para ler. 


O que nos conta então a história? Um grupo de samurais foi forçado a tornar-se Ronin (Samurais sem um Senhor) depois que o seu Mestre/Senhor Feudal foi condenado a cometer seppuku (um ritual suicida), após ter ferido um alto funcionário judicial, que o andava a atormentar e a sabotar há bastante tempo.
Estes Ronin elaboraram um plano bastante discreto para assassinarem este homem, num período de tempo bastante alargado, de forma a não chamarem a atenção sobre si mesmos. Após conseguirem os seus intentos, foram condenados, tal como o seu senhor, a cometer seppuku.

A história, como já tive a oportunidade de dizer, é simples e pequenina, e a arte é muito bonita. Vale muito a pena procurar lê-la. Ainda estou indecisa em usar esta leitura na categoria "ambientado no Japão" ou "com número no título"... vejamos como corre o desafio à medida que for avançando. 

domingo, 19 de janeiro de 2020

Lido: Os Bebés de Auschwitz, de Wendy Holden

Atrasada, atrasada, atrasada... é assim que estou na publicação das minhas primeiras leituras de 2020. Muitas coisas para organizar, reuniões e trabalho ocuparam grande parte do meu tempo nos últimos dias. Mas, continuei a ler.

Iniciei o ano com Os Bebés de Auschwitz, de Wendy Holden, para participar nos projetos da Dora e da Sara Cristina: #hol75 e #vozesdoholocausto, respetivamente (para saberem do que estou a falar, basta seguirem os links que vos levarão aos vídeos explicativos).

Eu sabia que este livro me ia deixar perturbada. Desde o 1.º dia em que soube que estava grávida do Henrique, qualquer filme ou livro que envolva crianças deixa-me apreensiva. Tem sido assim desde o Verão de 2012. Depois do Henrique nascer, esta "coisa" piorou exponencialmente. E ler este livro, não me deixou melhor. Não chorei baba e ranho, mas ia fazendo longos intervalos entre leituras, porque as gravidezes das três mulheres ali descritas, foram tão diferentes da minha como água e vinho o são entre si. Ao menor desconforto, eu sabia que tinha o número do médico que me seguia e podia contar com ele. Fiquei, de baixa, a repousar, desde janeiro, quando o Henrique só nasceria em março. Tive um parto, através de cesariana, o mais confortável possível. Estive num quarto de hospital só para mim, com enfermeiras à distância de um toque de campainha.

Estas mulheres não tiveram absolutamente nada disto.

Estas mulheres viviam em condições desumanas, num campo de concentração, onde estavam doentes, com fome, com sede, sem descanso, sem acompanhamento, a trabalharem horas a fio, e com a permanente sensação que cada dia podia ser o último.

É certo que, as histórias individuais de cada uma, antes de tudo descambar, às duas por três, eram muito semelhantes. O livro apenas peca nesse aspeto. No início, somos apresentados a cada uma das mulheres Priska, Rachel e Anka, individualmente. São nos apresentados os seus antecedentes: a história de família, os estudos, as relações de amor e/ou amizade de cada uma delas, os namoros, os casamentos, a ascensão de Hitler, as invasões, as tentativas de fuga... cada mulher, um capítulo. Tornava-se um bocadinho confuso, porque, no geral, eram histórias algo semelhantes. Até que, um pouco mais para a frente, a autora opta por fazer capítulos gerais (Auschwitz, Freiberg, O comboio, Mauthausen, Libertação, Casa, etc..) o que acabou por tornar a leitura mais fluída. 

Uma das coisas interessantes, foi a autora ter deixado suficientemente claro que nenhuma das grávidas sabia das outras duas, partindo do princípio que seria a única a passar por aquele inferno, deixando ao leitor, a "missão" de entender o quão solitária cada uma se sentia.

Não foi uma leitura que me desse prazer. Não foi uma leitura que me deixasse feliz, ou com uma sensação de bem-estar. Muito pelo contrário; mas continuo a participar nestes projetos e nestes desafios, porque acho que é importante perpetuar estas memórias, para que não caiam no esquecimento. 

No fim, todas sobreviveram, todas deram à luz (duas no comboio e a terceira, literalmente, às portas do campo de Mauthausen), e os bebés - Eva Clarke, Mark Olsky and Hana Berger Moran - acabaram por se conhecer já muito mais tarde, há 10 anos, sensivelmente. Este ano, cada um deles comemora o seu 75.º aniversário, e continuam a dar-se como se de verdadeiros irmãos se tratassem.

Os Bebés de Auschwitz: Eva, Mark e Hana - foto de Eva Clarke, publicada no The Times of Israel

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Lido: Saga, volume 4, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples

Esta é, no fundo, minha novela mexicana. E foi também a última leitura de 2019. Finalmente, alcançámos o 92.º livro do ano velho.


Não vale a pena estar a falar muito do enredo, mas, em breves palavras, Alana e Marko são soldados de lados opostos num conflito intergalático, que já ultrapassou as fronteiras do lar dos protagonistas. Às tantas, apaixonam-se e Alana acaba por engravidar e dar à luz uma criança (Hazel). Para ambos os lados, esta criança é o símbolo da traição, e não poupam esforços na sua perseguição.

Neste 4.º volume, Alana, Marko, Hazel, Klara (a mãe de Marko) e Izabel (uma fantasma que atua como babysitter de Hazel), estão escondidos. Alana trabalha com um grupo de atores que usam sempre máscaras, logo não corre o risco de ser reconhecida e denunciada.

Marko é pai a tempo inteiro, e aborrece-se com o facto dele e Alana já não comunicarem. A determinada altura conhece, num parque infantil, conhece uma mãe com quem inicia uma relação de amizade.

Por outro lado, o Príncipe Robot IV foi pai, mas o filho é raptado e a mulher assassinada. O perpetuador acaba por ter também uma enorme influência na dinâmica familiar dos nossos protagonistas.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Lido: Batman - O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller

Estou a chegar às últimas leituras de 2019. Tenham paciência comigo.

Outro livro que veio connosco do Amadora BD, em outubro, foi Batman - O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Vejam o tempo que demorei a chegar a estes livros!!! Incrível!!! Mas, alegrem-se os espíritos, já não tenho mais livros do Amadora BD em falta.


Este livro mostra-nos um Bruce Wayne já sexagenário. Na reforma, há cerca de 10 anos, Batman já foi elevado ao estatuto de "mito" pelas gerações mais novas que apenas ouviram falar do justiceiro de Gotham City. O Comissário Gordon, com 70 anos, também está prestes a reformar-se. Gotham continua igual a si própria: violenta, suja, revoltada...

Harvey Dent está prestes a ser reintegrado, após 12 anos no Arkham Asylum. Todos estes pequenos "nadas" fazem com que Wayne traga ao de cima vários dos seus traumas e renasce aquela vontade de voltar. Numa dessas saídas noturnas, salva duas adolescentes, Michelle e Carrie, dos Mutantes, vilões introduzidos por Miller neste universo.

Carrie procura, por todos os meios, conhecer Batman, até que finalmente é aceite como sua parceira, a nova Robin, numa fase mais decadente da "carreira" deste herói.

Mas, obviamente, nada é tão linear como parece à primeira vista. Achei especialmente interessante foi ver o Batman envelhecido. A humanização do herói. Estamos acostumados a que os super-heróis sejam geneticamente alterados, picados por animais radioativos, aliens, deuses antigos, criaturas mitológicas... em Batman, temos um homem, igual a todos os outros que se torna uma referência. Mas, uma referência, um herói que sente dores, que envelhece, que se apercebe da sua própria mortalidade... e é isso que o tornou, aos meus olhos, tão fascinante.

Este livro contou para a maratona da Phoenix Flight e da Croma dos Livros: Estações Literárias, na categoria "livro com capa com tons de azul e branco". 

sábado, 4 de janeiro de 2020

Lido: Dampyr - O Suicídio de Aleister Crowley

Já não me lembro bem quando tive conhecimento deste livro. Acho que foi depois de um passeio pela Boca do Inferno. Ao chegar a casa, fui tentar perceber como é que duas pessoas tão diferentes como Pessoa e Crowley se haviam conhecido e este livro foi um dos resultados do Google.

A capa é maravilhosa!!!

Este ano, durante o Amadora BD, vimo-lo e imediatamente pegámos nele para o trazer para casa. Aliás, havia uma exposição dedicada a esta obra e que estava muito interessante.

A foto não faz justiça ao cenário... estava absurdo de tão bom!

Posto isto, claro que O Suicídio de Aleister Crowley tinha de ser lido. O homem já o tinha lido e gostou bastante. Não adorei tanto como ele, por uma simples razão: senti que me faltava informação. Este livro faz parte de uma série, protagonizada por uma personagem mestiça: metade vampiro, da parte do pai, e metade humano, da parte da mãe. Este Dampyr percorre o mundo atrás de criaturas sobrenaturais.

E faltou-me, precisamente, esse background sobre as personagens. No final do volume, estão pequenas notas biográficas, mas só me apercebi disso... adivinhem?! Isso mesmo, no fim.

Estamos em 1930, e Pessoa sai de uma casa de fados no Bairro Alto. Pouco depois, é abordado por um inspetor da Polícia que pretende fazer-lhe algumas perguntas sobre o desaparecimento de Crowley, já que, Pessoa teria sido o último a vê-lo com vida.

A história dá um salto para a atualidade e Ann Jurging, uma vidente alemã com poderes paranormais, ouve um vinil de Berta Cardoso (1911-1997). A vidente está a investigar o desaparecimento de Crowley e pressente que o fado português terá alguma ligação.

E é dentro destes dois espaços-temporais que a história se desenrola. E todo o ambiente é fantástico. É, ainda, nos dado de bandeja, um cheirinho de Lovecraft.

A narrativa, na modesta opinião de alguém que é perfeitamente analfabeta neste tipo de literatura, é altamente original. E a arte é muito bonita: as criaturas, o Poço Iniciático na Quinta da Regaleira, o próprio Pessoa... o nível de detalhe é impressionante. Eu precisava de morrer e nascer outra vez para conseguir desenhar assim.
O facto desta graphic novel ser a preto e branco é muito interessante. Se fosse a cores, acho que se perdia um bocado deste ambiente "noir" que se pretende.

Este livro foi lançado pela A Seita, uma editora de banda desenhada, nascida em 2019. De acordo com a sua página de Facebook o seu "core" são "livros de banda desenhada de proveniência vária, mas com uma ênfase grande (neste momento!) em autores portugueses, e em títulos da editora italiana Bonelli, em particular Dylan Dog". Já tem um catálogo com uns título bem simpáticos.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Lido: O Palácio da Meia-Noite, de Carlos Ruiz Zafón

Antes de mais, feliz 2020. Saúde da boa, que o resto vem por acréscimo. Este será o meu primeiro post deste novo ano, contudo, ainda referente a leituras de 2019. Mais uns quantos se seguirão, fica já o aviso.

Juro que comecei a escrever no dia 29 de dezembro, mas... convenhamos... a preguiça era demasiada, e fui empurrando com a barriga a atualização deste cantinho. E, as boas intenções de terminar o ano velho com o blogue "em dia" foram-se...

Adiante...

Ainda em dezembro, como disse acima, fui à biblioteca com o Henrique. Era o primeiro dia de férias dele, e precisávamos de leituras novas para os dias que se seguiriam (mal eu sabia que ele iria começar a ficar com febre menos de 24 horas depois).

 Acabei por trazer, para mim, O Palácio da Meia-Noite do Zafón. Para quem já leu três dos quatro volumes da série do Cemitério dos Livros Esquecidos, ler este O Palácio da Meia-Noite é dar um passo atrás.

Atenção: não é um mau livro. Não é isso que quero dizer. É um livro certinho. Cumpre a missão. O próprio autor, no prefácio, escreve que este livro está inserido numa trilogia destinada a um público mais jovem. E, creio, que se o tivesse lido antes de A Sombra do Vento, teria tirado muito mais prazer. É um livro engraçado, lê-se bem, mas não é a última Coca-Cola do deserto. MAS... pessoas-ali-nos-seus-16-anos, podem mandar-se a ele sem receios.

Hoje em dia - e ainda há uns dias se conversava cá em casa sobre o assunto - parece que já não há meios termos. Seja em livros, filmes ou séries, há um movimento extremo: ou somos da equipa "ADORO", ou somos da equipa "ODEIO". Quero com isto apenas sublinhar que este livro não me preencheu as medidas.

Li-o rapidamente, até porque não é um livro muito grande (279 páginas), e a história é gira. Mas, lá está: não é A Sombra do Vento, nem O Jogo do Anjo (que da séria do Cemitério dos Livros Esquecidos, acho que é o mais fraco), nem mesmo o Marina...
O Zafón eleva-me as expetativas e depois dá nisto: um post aos soluços, comigo a tentar justificar as três estrelas que lhe dei.

Vamos à história: somos introduzidos na narrativa por alguém que não sabemos ainda quem é e que nos vai contar os acontecimentos do mês de Maio de 1932, em Calcutá. Mas antes de lá chegarmos, vamos conhecer tudo o que se passou 16 anos antes, em Maio de 1916. Um homem, com duas crianças recém-nascidas, está a ser perseguido. Vai ligeiramente adiantado aos seus perseguidores, e consegue, deixá-las a salvo com a avó. Ainda não sabemos bem o que se passa, mas a senhora percebe imediatamente. O homem, o tenente Peake, depois de deixar os bebés, refaz os seus passos, encontra aqueles que o perseguiam e acaba por ser morto.

A ação volta para a casa da avó dos bebés. A mulher identifica-os - uma menina e um menino - com uma medalha e começa a escrever uma carta. A ação volta a saltar. Estamos no dia seguinte, no orfanato de St. Patrick, e Thomas Carter, o diretor daquela instituição, está surpreendido ao ver um bebé, deixado à porta, bem como com a carta que o acompanha, algo incomum em Calcutá, naquela altura. No mesmo dia, recebe a visita de uma misteriosa personagem que pergunta especificamente por um bebé, rapaz, abandonado. Seguindo as instruções deixadas na carta, Thomas Carter faz-se de desentendido, contudo o misterioso homem promete voltar daí a 16 anos.

Passam-se 16 anos. Estamos em Maio de 1932, e um grupo de órfãos de St. Patrick prepara-se para deixar aquele lar. Já têm 16 anos, e é a idade limite para ali permanecerem. No dia da festa de despedida, aparece Aryami Bosé, acompanhada da neta Sheere, que logo simpatiza com Ben, um dos rapazes do orfanato (já estão a ver onde é que isto vai parar, certo?). A senhora é, sem dúvida, avó de Ben. Logo Ben e Sheere são os gémeos que estão a ser procurados, há 16 anos, pela espectral figura de Jawahal.

À boa maneira de Zafón, o autor introduz-nos então num universo fantástico, com perseguições, personagens do além e mistérios incríveis que nos fazem percorrer Calcutá, e a desejar visitar a cidade.

Esta leitura foi a 89.ª do ano de 2019, e contou também para a Maratona Estações Literárias da Phoenix Flight e da Croma dos Livros, na categoria "livro com uma tempestade".