Páginas

domingo, 30 de junho de 2019

Lido: As Noites das Mil e Uma Noites, de Naguib Mahfouz

Este livro conta para dois desafios: a maratona Volta ao Mundo em 15 Citações, na categoria "Países Árabes" e para o BookBingo, na categoria "livro esquecido na estante há mais de 3 anos". Cabe também no meu desafio pessoal de ler mais Prémios Nobel da Literatura.

1.º pensava que tinha o desafio da Volta ao Mundo completo, até um participante ter alertado os gentios que Khaled Hosseini, do Afeganistão, não podia ser, porque este país, se situa... imagine-se no meio da Ásia.
Todo um balde de água fria graças aos senhores americanos para quem, tudo o que não é americano, é árabe. A todo o povo afegão, as minhas desculpas, e confesso publicamente o meu total desconhecimento onde se situa o vosso país. 

Até que depois encontrei este meu exemplar de As Noites das Mil e Uma Noites, de um laureado com o Nobel, oriundo do Cairo: Naguib Mahfouz.

O básico dos Contos das Mil e Uma Noites: um sultão, desvairado ao saber da traição da mulher, decide, após matá-la, dormir todas as noites com uma rapariga diferente, matando-a de manhã. E nisto, passam-se alguns anos. Xerazade, filha do vizir, acaba por ser levada ao sultão.
Mas, nisto, sabendo o que a esperava de manhã, começa a contar uma história. De manhã, a história ainda não conheceu o seu fim, e o sultão, curioso, continua a chamá-la, para saber como acaba. Ao fim de alguns anos, Xerazade é tomada como esposa do sultão, que se encontra arrependido dos seus atos no passado.

Este livro pega no momento em que o sultão chama, ao palácio, o pai de Xerazade e lhe comunica que decidiu tomá-la como esposa. Logo, nas primeiras páginas, vemos uma Xerazade não muito convencida que o sultão modificou o seu comportamento, e com receio que o seu ímpeto sanguinário regresse.

Ao mesmo tempo, a cidade vive tempos conturbados, provocados por alguns génios. Muitas mortes acontecem, muitas aventuras e muitas intrigas palacianas se desenrolam em pouco mais de 200 páginas.

Tive um arranque lento. Estava ali qualquer coisa que me impedia de avançar, mas entretanto, deu-se um "clique" qualquer e, indo na página 64, termi
nei num piscar de olhos.

No GoodReads, atribuí 5 estrelas - mas, no meu coração é um 4,5. Muitos nomes, muitas personagens, génios com a mania das grandezas... enfim, complicou um bocado, no início, até ter decidido ignorar os nomes daquela santa gentinha toda, e concentrar-me no resto.

Citação escolhida:
Se salvares a tua alma de ti mesmo, terás pago o seu direito, e se as pessoas se salvarem de ti, então terás pago os seus direitos.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Lido: O Cônsul Desobediente, de Sónia Louro

Já tinha este livro na mira há imenso tempo. Desde o 1.º dia em que me tornei leitora na biblioteca municipal, reparei que estava nas estantes e já o tive na mão, um par de vezes, para o trazer.

Até que chegou o dia.

O que eu sabia de Sousa Mendes era o básico: cônsul algures em França que, desobedecendo, a ordens de Portugal, passou vistos indiscriminadamente, salvando, assim, uma "catrefada" de judeus dos nazis. E era isto. Um apontamentozinho de nada era tudo o que eu sabia. Uma nota de rodapé, no fundo. A nossa disciplina de História é, realmente, muito básicazinha, benz'a Deus...!

Falando do livro. Adorei a escrita da Sónia Louro, e a quantidade de fontes que ela foi "beber" para ser o mais fiel possível aos factos. O livro tinha imensas notas de rodapé que, quando as comecei a ver, ia-me dando um achaque, mas depois percebi que, muitas delas, eram essenciais à boa compreensão do que lia.

Este livro é quase uma biografia, não fora estar romantizada, e dependente de testemunhos de terceiros, já que nenhum dos envolvidos está vivo para contar os factos tal como aconteceram.

Aristides de Sousa Mendes licenciou-se em Direito, com o seu irmão gémeo, César que - fiquei a saber - também fez carreira diplomática... aliás, tanto Aristides, como César apresentaram-se juntos, em Lisboa, no Ministérios dos Negócios Estrangeiros.

A carreira de Aristides foi evoluindo até que chegou a Cônsul de 1.ª Categoria (com "n" repreensões pelo caminho, das mais diversas naturezas), e foi colocado, em 1938, em Bordéus. Até que a invasão nazi acontece em França.

Sentindo-se assoberbado com o número de pedidos de vistos, a ver as tropas alemãs a aproximarem-se, e conhecendo a realidade, Sousa Mendes, durante vários dias, carimba passaportes e permite passagem à revelia daquela que era conhecida como a "Circular 14" que proibia os consulados de passarem vistos, a não ser que o requerente tivesse bilhete de saída de Portugal e autorização de entrada noutro país. O que claramente não acontecia, como é óbvio.

Em 1940, começa o calvário. Sousa Mendes é castigado: um ano com metade do salário e, posteriormente, aposentação. Mas, Aristides tinha 14 filhos (mais uma bastarda que só foi perfilhada depois de Sousa Mendes ter enviuvado de Angelina, e casado com a mãe da menina), e as dificuldades económicas eram mais que muitas.

Ao longos dos anos, lemos as mais variadas tentativas de Sousa Mendes e da família de tentarem reverter o castigo que acabou, indiretamente, por afetar toda a gente: os filhos não encontravam colocação para trabalhar e foram forçados a emigrar, o irmão também teve dificuldades...

E é tudo isto, e muito mais que Sónia Louro nos apresenta. Sou sincera: várias vezes, me senti de peito apertado ao ler tudo o que se passava com esta família. Só nos anos 80, com Mário Soares é que começou a ser feita justiça a este homem. O último reconhecimento, em 2016, foi a elevação, a título póstumo, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade por Marcelo Rebelo de Sousa, 

Sousa Mendes morreu, na mais completa miséria, em 1954... 

(leitura a contar para o Book Bingo Leituras ao Sol - livro, cujo título, tenha as letras S-O-L)

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Lido: O Prisioneiro do Céu, de Carlos Ruiz Zafón

Estou a sentir que estou a ir demasiado depressa na leitura desta saga. Só falta um para terminar, e não sei se o meu pobre coração aguenta. 

O Prisioneiro do Céu não foi o meu preferido da saga dos Cemitérios Esquecidos. A Sombra do Vento, até ao momento, está nos píncaros. Senti que, apesar de responder a muita coisa, este livro está uns quantos pontos abaixo dos livros anteriores. Parece ter sido escrito um pouco depressa demais, e sem tanto cuidado nos detalhes como A Sombra do Vento ou O Jogo do Anjo. 

Voltamos à família Sempre. Daniel continua a ajudar o pai, na livraria. Casado com Bea, têm um bebé. Fermín está prestes a casar com Bernarda. Tudo parece bem. Até que o passado de Fermín volta para o atormentar. 

Num dia em que se encontra sozinho na livraria, Daniel recebe uma estranha figura que compra um exemplar - caríssimo - de O Conde de Monte Cristo e o manda entregar, acompanhado de uma nota misteriosa, ao próprio Fermín. 

Esse facto alarma Fermín que fica ainda mais esquivo e preocupado do que antes. Até que Daniel o obriga a falar e descobre coisas incríveis que envolvem a morte da sua mãe, David Martín, protagonista de O Jogo do Anjo, Fermín e uma figura proeminente do Governo espanhol.

Como disse antes, este livro parece ter sido um bocado a despachar, contudo, não perdeu aquela aura de fantasia gótica dos livros anteriores. Claro que esse momento está reservado para quando entramos no Cemitério dos Livros Esquecidos, que voltamos a visitar nesta obra. Espero, com todas as minhas forças, que as pontas que ficaram desatadas conheçam um encerramento em O Labirinto dos Espíritos. 

Daqui a algum tempo, irei certamente comprar a saga, já que tenho lido os livros da biblioteca (excepto o 1.º que foi em ebook). Recomendo vivamente que façam o mesmo. Conselho de amiga. 

terça-feira, 25 de junho de 2019

Lido: Um Trono Negro, de Kendare Blake

Estou ligeiramente atrasada na publicação dos meus livros lidos. Tenho neste momento, duas postagens em atraso, portanto... aqui vai uma e amanhã sai a outra (fica já programadinha, como manda a Lei do Senhor, para não voltar a acontecer).

A verdade é só uma: esqueci-me. Completamente. Entre trabalho, preparar as coisinhas para a festa de final de ano do Henrique, a ida à Feira do Livro, organizar (minimamente) as leituras das semanas seguintes... etc, etc, etc...
nem sequer tirei foto!

* * *

Na segunda parte da obra que que começou com "Três Coroas Negras", voltamos a seguir as trigémeas, após a cerimónia que deu início à Aceleração.

Katherine, considerada por muitos, a rainha mais fraca, de repente, re-surge com uma força inimaginável. Arsinoe que, no livro anterior, descobriu possuir outro dom, está a trabalhar para conseguir dominar a melhor forma de vencer as irmãs. Mirabella, antes considerada a rainha com melhor hipótese de ganhar o trono, descobre que há uma conspiração contra ela - dentro da sua própria casa.

A rainha envenenadora pretende livrar-se a todo o custo das irmãs e coroar-se, mas vai enfrentar a oposição de Arsinoe e Mirabella que, ainda assim, acham que é possível haver uma rainha sem haver mortes.

Foi outra leitura fabulosa. Estou a adorar seguir esta saga. A escrita de Blake é muito fluída e a história está muito bem construída; nota-se que foi pensada ao detalhe. Mesmo as personagens secundárias, como Jules, Petyr, Billy ou Joseph... assumem papéis importantíssimos no desenrolar da trama, não se "sujeitando" a simplesmente ver a ação passar à frente deles.

Foram as 5 estrelas mais fáceis de dar, de sempre. As expetativas para o próximo volume são muito altas.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Lido: O Templo de Borkudan, de Helder Martins

Há umas semanas, fui contactada, através do Instagram, pelo autor. Perguntou-me se gostaria de receber um exemplar do seu livro "O Templo de Borkudan - Crónicas de Tellargya" (2013), o primeiro de uma trilogia. Por se tratar de um autor nacional, a dar os primeiros passos, aceitei a oferta. Terminado o livro, passo a escrever a minha opinião, em duas partes distintas: história e forma.

1.ª parte: a história
Não conheço o Helder, nem alguma vez, tinha ouvido falar deste livro. Helzar é um jovem mago, que frequenta uma Academia de artes arcanas, e possui poderes que, na maior parte das vezes, não são reconhecidos pelos seus pares. Tem uma vida muito monótona, até ao dia em que conhece um dragão. Batiza-o de Drinus, pois este ser, não tem qualquer memória, nem sequer do seu próprio nome. Durante cerca de três anos, Drinus é o pequeno segredo de Helzar.
Um dia, a aldeia em que vive é completamente queimada. Muitos dos seus habitantes são mortos, ou acabam por morrer devido ao incêndio. Entre as vítimas, está a mãe de Helzar... assassinada às mãos de Tunnroch.
Para salvar a irmã, Helzar informa Drinus que têm de ir ao Templo de Borkudan, supostamente buscar um mapa que lhes indicará que direção tomar. Mas, a jornada é tudo menos simples, e a chegada ao mítico Templo revelará segredos inimagináveis.
A ideia de uma aventura épica, num mundo em que a magia e a permanente luta entre o bem e o mal são protagonistas agrada-me muito.
O livro é pequeno - 185 páginas - e tem de tudo: partes muito interessantes e rápidas e outras um pouco mais lentas, mas a parte final - as últimas 35/40 páginas são muito sumarentas e fizeram-me querer ir à 2.ª parte. Fiquei com água na boca para saber... só para dar dois exemplos... as origens de Drinus, ou a importância dos poderes de Helzar num mundo de magia.

2.ª parte: a forma
Detetei várias gralhas no livro. Não sou escritora, nem tenho pretensões de o vir a ser. Não conheço o processo criativo que cada autor, nem quais os passos a dar para publicar um livro, mas claramente, o trabalho de revisão deste livro foi colocado num plano secundário - o que é uma pena, porque esta história merecia um bocado mais de esforço por parte da editora (partindo do princípio que seria a editora a entidade responsável por esta parte).
Sou também uma doidinha das vírgulas. Se tivesse sido eu a rever o escrito, tinha sugerido mais um milhão delas. Fizeram-me falta em alguns parágrafos mais longos.

Nota extra: adorei a capa. O segundo volume da trilogia, A Asa da Consequência (2016), também tem uma capa muito bonita.

Sobre o autor:
(retirado do site da Chiado Books)
Helder Manuel Carreira Martins nasceu a 10 de Março de 1986, no Barreiro e reside em Alhos Vedros, concelho da Moita do distrito de Setúbal. A sua formação profissional, no âmbito das Técnicas de Apoio à Gestão, não impede que seja um apaixonado pelo mundo fantástico. O Templo  de  Borkudan  é  a  sua  primeira  experiência  nesta área,  depois  de  ter  tido  um início como hobbie.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Lido: O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón

Como explicar esta situação? Li este livro em dois dias. Assim mesmo. Decidi, na minha última visita à biblioteca, na passado dia 30 de maio, trazer o 2.º livro da saga do Cemitério dos Livros Esquecidos e comecei logo a ler.

Na 6.ª feira, não tinha muito trabalho, e li mais. Irritei-me durante a tarde - com questões que nada têm a haver com livros e leitura - e para ver se a neura passava, li mais um bocado. E quando dei por mim, já tinha ultrapassado o meio. No sábado, depois de alguns afazeres, estive a ler. E mais um bocadinho antes de dormir. E era quase 1 da madrugada quando pensei que, talvez, fosse boa ideia deitar-me... a faltarem 20 páginas para o final. Terminei no domingo, dia 2 de junho, obviamente.

(Entretanto, este post já está a sair tarde e más horas, porque, mais uma vez, a vida e o trabalho intrometem-se no meio das minhas leituras)

O Jogo do Anjo não é uma continuação de A Sombra do Vento. Funciona, sim, como uma prequela, já que os acontecimentos são anteriores aos do 1.º livro da saga. São livros independentes. Não é necessário ler um para entender o outro, mas complementam-se e partilham personagens e o ambiente fantástico e gótico de uma Barcelona, no início dos anos 20, do século XX.

A escrita de Zafón é irrepreensível. Não há uma vírgula fora do lugar. Não há uma rua que não tenha saída.

Neste livro, que, como já disse, é anterior aos acontecimentos de A Sombra do Vento, conhecemos David Martín, um jovem e desconhecido escritor, que trabalha num jornal barcelonês, a fazer trabalhos de pouca montra. Um dia, é desafiado a escrever um texto ficcionado para o jornal onde trabalha e aí se nota o seu talento para a escrita.

Martín é muito ajudado por Pedro Vidal, um homem bastante rico, filho do principal accionista do jornal e pretenso escritor. Nesta obra, conhecemos também Cristina, filha do motorista de Vidal. Um dia, David é contratado para escrever um conjunto de obras, mas sob pseudónimo: A Cidade dos Malditos, um conjunto de escritos de crime e terror, que colhe bastante sucesso e lhe permite uma vida mais cómoda.

David descobre, entretanto, que tem uma doença terminal. Sem esperança, é contactado por uma estranha figura, Andréas Corelli, que, em troca pela sua saúde, o desafia a escrever um livro que irá revolucionar todo o Mundo.

Como não podia deixar de ser, nada é tão linear e tão simples como parece à primeira vista. O livro termina já depois do nascimento de Daniel Sampere - o protagonista de A Sombra do Vento. O avô dele é um dos grande aliados de David, como veremos ao longo da obra.

Adorei. Zafón é um daqueles nomes da literatura que quero conhecer mais e melhor.