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sábado, 23 de outubro de 2021

Lidos: os autores portugueses que me passaram pelas mãos

Esta saga "que me passaram pelas mãos" está a ser uma aventura pelas minhas memórias. Lembrar-me do enredo de um livro que li, algures, há quase dois meses, é obra! Mas está quase a terminar e, depois, terei finalmente tudo atualizado. 

A caríssima Sandra Carvalho - que referi há uns dias - também poderia surgir nesta galeria, mas optei por lhe dar o devido (e merecido) destaque numa categoria à parte. Aqui, vamos aos "outros géneros", escritos na língua mãe. 

Em agosto, setembro e inícios de outubro, li: 

- O Último Papa, de  Luís Miguel Rocha: se não estou em erro, trata-se do 1.º thriller religioso deste autor. Este livro foca-se na misteriosa morte do Papa João Paulo I ( antecessor de João Paulo II), que esteve à frente do Vaticano por 33 dias. Albino Luciani terá descoberto um esquema de lavagem de dinheiro, e preparar-se-ia para denunciar e substituir os membros da Cúria Romana que estavam envolvidos.
Com elementos ficcionais, misturados com factos reais, este foi um livro com o seu quê de complexidade, por causa da temática. Os momentos de ação eram rápidos, o que acabava por compensar as inevitáveis cenas mais lentas

- Dentro do segredo, de José Luís Peixoto: Num belo dia, José Luís Peixoto decidiu ir à Coreia do Norte. Há quem decida ir, no verão, para um qualquer destino paradísiaco, e depois lemos uma coisa destas... Em abril de 2012, José Luís Peixoto conseguiu um visto para assistir às comemorações do centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang. Partiu, sem disso dar conhecimento à família - estaria, para todos os efeitos, numa zona remota da China, onde teria poucas comunicações. Este livro é, portanto, um fascinante retrato desses dias. Além das cerimónias oficiais, Peixoto visitou todo um conjunto de locais simbólicos do regime, e disso nos deu a sua perspetiva. Dentro do segredo é um livro muito pessoal, escrito de uma forma tão simples, como crítica. Cada vez gosto mais de José Luís Peixoto. Recomento vivamente!

- O Livro dos Homens sem Luz, de João Tordo: decidi há uns tempos que iria ler tudo o que de João Tordo me viesse parar às mãos. Desta feita - para além do livro "A noite em que o Verão acabou" que já cá vive em casa - a sorte coube a este O Livro dos Homens sem Luz. Trata-se de um conjunto de quatro histórias que, de alguma forma, se interligam tão bem, como maçã e canela. Na primeira história, somos apresentados a um homem que, no fim de perder a mulher e a filha, se refugia num pequeno apartamento, onde observa os prédios em frente. Um dia, começa a trabalhar para alguém, uma voz num telefone que dá ordens. Na segunda história, um casal fica preso nos escombros de uma casa, depois dos bombardeamentos nazis à cidade de Londres. Na terceira história, um jovem é vítima de uma insónia crónica, e levanta todas as suas paranóias. Na quarta e última história, um médico, numa clínica, constrói uma máquina que tortura os seus pacientes, ao invés de os ajudar. É o livro que marcou a estreia de Tordo nos escaparates nacionais, e é uma estreia de luxo!


- Comer Beber, de Filipe Melo: há muito que tinha interesse em ler esta graphic novel. Assim, aproveitei o tema do clube de leitura ("livro com tema de comida) e peguei finalmente nele. São duas pequenas histórias - uma sobre um homem polaco, proprietário de um restaurante na Alemanha nazi, e uma garrafa de champanhe e outra sobre a incrível jornada de um homem pela América profunda em busca de uma tarde de maçã específica.
Este livro prova que não é preciso muito para se construir uma obra fabulosa - que é o que este livro é: uma pérola. Os desenhos de Juan Cavia são maravilhosos e dão um poder incrível às palavras de Melo. Se ainda não leram, permitam-se a fazer a vós mesmos esse favor!


- O Sétimo Véu, de Rosa Lobato de Faria: mais um romance da querida Rosa, e desta vez, contado a duas vozes. Joana prepara-se para o funeral do tio Augusto. Na verdade, não era tio, mas sim, o padrasto da mãe, Ana Salomé. Joana, por alguma razão, sente que carrega nos ombros uma grande dor que não lhe permite abrir-se a outros, que não a família ou os seus pacientes. Durante o velório, a velha governanta da família, Mila, descai-se e dá a entender que a matriarca, Júlia, havia cometido suícidio, e abre, sem querer, uma porta que irá desvendar vários segredos, escondidos há mais de 30 anos.
A nossa segunda narradora, é a própria Mila que se encontra num lar, e que vai desvendando alguns desses nós emaranhados do passado. Um romance que não desilude, até porque além do enredo intrincado, o ambiente é descrito de forma primorosa (com subtilezas góticas), dando a sensação que nos encontramos na Casa das Lias e que podemos a qualquer instante cruzarmo-nos com qualquer uma das personagens nucleares da narrativa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Lidos: não ficção que me passou pelas mãos

Na categoria "não ficção", li duas excelentíssimas senhoras: a ex-primeira dama dos EUA, Michelle Obama e a vencedora do Nobel da Literatura em 2015, Svetlana Aleksievitch.

Falando, por ordem cronológica. No início de setembro, uma das minhas tias emprestou-me o livro "Becoming" de Michelle Obama. Há uns tempos, este livro foi super-badalado, mas continuava impassível na minha lista (havia tantos outros em lista de espera que, este, era mais um). 

A minha tia emprestou-mo, portanto, e fui rápida a aceitar. E, que maravilha de livro! Michelle Obama conversa com o seu leitor. Não estamos a ler. Estamos sentados numa mesa de café, ou num daqueles almoços que se prolongam até ao jantar, com a nossa amiga Michelle, a conversar. Ela fala sobre a sua infância até... spoiler alert... sair da Casa Branca, depois da eleição de Trump. Fala sobre os seus sonhos, os desafios pelos quais passou, vangloria-se (e com toda a justiça!) das suas conquistas, fala do amor e, consequente, casamento com Obama e das dificuldades sentidas, enquanto casal, quando ficou decidido que ele se iria dedicar à política. 

É um excelente livro - calhamaço, mas excelente! A linguagem usada é mais do que acessível a qualquer leitor, e, no final da leitura, é impossível não sentirmos mais do que admiração por esta mulher. 

Svetlana, por outro lado, é sempre um desatino de ler, devido ao conteúdo dos depoimentos que a autora
partilha connosco. Dela, já li "A guerra não tem rosto de mulher" e "Vozes de Chernobyl". Ambos foram um murro no estômago para as pessoas mais sensíveis. Se no primeiro, Svetlana abordou a importância da presença feminina durante e após a 2.ª Guerra Mundial, e ao mesmo tempo, o desprezo a que algumas das mulheres soviéticas foram votadas, no segundo, a atenção foi para aqueles que, de alguma forma, estiveram envolvidos no desastre nuclear em 1986. 

Neste livro, chegámos à decada de 90 do século XX, aquando do desmembramento da comunista URSS e a transformação para democrática Rússia. Todos os prós e contras contados na 1.ª pessoa, por aqueles que tudo perderam - ou por aqueles que ganharam - quando a democracia e o capitalismo ocidental atingiram com a força de um tufão a sociedade soviética fechada sobre si mesma e sobre os interesses do Partido dominante, na época. 

Mais uma vez, Svetlana Alexijevich não desiludiu. Os relatos que descreve são tão profundos, tão verdadeiros que sentimos, efetivamente, a dor daquelas pessoas. As entrevistas foram conduzidas ao longo de anos, e percebemos que além do trabalho de campo, a autora investiu muito do seu sentimento junto das pessoas que abordou. Mais um livro recomendadíssimo. 

domingo, 17 de outubro de 2021

Lidos: a fantasia que me passou pelas mãos

 Se no post anterior, enumerei os livros de banda desenhada que li nos últimos dois meses, vou passar aos livros com o seu "quê" de fantasia. Foram três livros: duas leituras novas e uma releitura - não foi bem uma releitura, mas já irei explicar.

Começo pelas leituras novas: 

- A Última Feiticeira (não tirei foto deste livro) e O Guerreiro Lobo, respetivamente o 1.º e 2.º volumes da Saga das Pedras Mágicas da autora portuguesa Sandra Carvalho. Há muito tempo que oiço falar de Sandra Carvalho; não é um nome que passe despercebido quando se fala de fantasia escrita em português, mas, por quaisquer que sejam as razões, nunca havia lido nada dela.

A ação passa-se no tempo dos Druidas e a nossa protagonista, Catelyn, e os cinco irmãos mais velhos vivem na Grande Ilha, que, cada vez mais, tem sido alvo de ataques vikings. Depois de uma infância despreocupada e feliz, Catelyn assiste ao desmoronar da sua vivência, e da sua família.
A mãe dá à luz uma bebé doente, e a partir daí, o seu próprio juízo vai sofrendo um abalo, até chegar a um momento fatal. O comportamento do próprio pai - que nunca havia sido um homem exatamente carinhoso - piora radicalmente, e obriga Catelyn  a casar com uma obscura figura que traz consigo Myrna, uma mulher que tanto tem de belo como de perigoso. 

Catelyn descobre que tem poderes, e descobre igualmente, a importância das singelas pedras que a mãe deu a cada um dos filhos aquando do seu nascimento. Estamos perante o clássico "bem contra o mal", com elementos mágicos e sobrenaturais à mistura, e que nos faz lembrar Juliet Marillier, a autora neozelandesa da saga Sevenwaters e da duologia das Ilhas Brilhantes. 

A Saga das Pedras Mágicas de Sandra Carvalho não deixa os seus créditos por mãos alheias e está muito bem escrito. Ainda só li 2 dos 8 livros que a compõem, mas estou muito entusiasmada por continuar esta leitura. 

A releitura foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Em audiobook. Portanto, apesar de estar a considerar uma releitura, a verdade é que era o Stephen Fry a ler por mim; o meu papel, era apenas existir e ouvir. Decidi começar o áudio destes livros na sua língua original... olhem, porque sim... é esta a minha justificação. Também demorei imenso tempo a terminar o primeiro livro (comecei em janeiro e só terminei esta semana), porque nem sempre estava no "mood" certo para acolher o sotaque do Stephen Fry em todo o seu esplendor. Mas vale muito a pena, sem dúvida. 

Imagem retirada de 
https://imgur.com


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Lidos: a banda desenhada que me passou pelas mãos

Já lá vão quase dois meses desde a última vez que publiquei alguma coisa neste espaço de partilha de leituras. 

 A verdade é que, comparando com outras alturas, as minhas leituras têm sido muito raras. Durante o mês de agosto, por exemplo, arrisco-me a dizer que não li nada (aliás, li muita legislação, literatura nem por isso). Depois, em setembro, voltaram as rotinas escolares do Henrique (que normalmente custam mais a mim do que a ele) e tive compromissos familiares que ocuparam parte do meu tempo livre. A outra parte desse mesmo tempo livre era a descansar. 

Foram dois meses algo atípicos - mas prometo recuperar. 

Para já, vou tentar condensar os resumos das minhas leituras realizadas. Vou começar pela banda desenhada, num único post - este mesmo!!! - e para os próximos dias, conto publicar os restantes textos opinativos. 

 Em termos de BD, li: - o 8.º volume de The Promised Neverland: a história segue um grupo de órfãos que descobrem que o lar onde residem não é exatamente o local carinhoso onde devem estar. - volumes 1 e 2 de "Aqui há gato", de Darby Conley: são tiras humorísticas do trio Rob (o humano), Bucky (o gato) e Satchel (o cão), no dia-a-dia. Aquele humorzinho sarcástico e inteligente que nos faz largar umas gargalhadas quando mais precisamos.
- 1984: este livro de George Orwell foi - brilhantemente - ilustrado pelo artista brasileiro Fido Nesti. Já o tinha começado a ler há meses, mas entretanto, outras coisas se meteram pelo meio, e foi ficando de lado. Voltei a pegar nele, et voilà!... mais um livro na lista de "lidos". O argumento é o que todos conhecemos: estamos em 1984, e Londres é controlada pelo Grande Irmão, uma entidade maior do que aquilo que se pode imaginar. Winston Smith é o nosso protagonista, e um peão neste complexo sistema. As ilustrações são fenomenais. O aspeto lúgubre, asfixiante, claustrofóbico de toda a existência é muito bem ilustrado e a paleta das cores usadas conseguem fazer o seu trabalho de forma irrepreensível.