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domingo, 3 de abril de 2022

Lido: Até os comboios andam aos saltos, de Célia Correia Loureiro

Além do livro de Paulina Chiziane, li também em março o 8.º volume da Saga das Pedras Mágicas de que já falei neste blogue, há um par de dias. O meu objetivo de só ler mulheres estava no caminho certo. 

Entretanto, comecei a ler Até os comboios andam aos saltos, a última obra da almadense Célia Correia Loureiro. Conheci a escrita da Célia através do livro Demência, que li em fevereiro de 2020, e, na altura tinha adorado o livro, e elogiado bastante a autora, visto que o livro tem uma carga pesadíssima e havia sido escrito quando ela tinha uns meros 20 anos. 

Entretanto, além do relançamento de "O funeral da nossa mãe", a Célia apresentou, numa edição de autor, este livro que terminei em pouco menos de 48 horas. 

A nossa protagonista - prestes a completar 30 anos - está num aeroporto, e vai metendo no papel, as suas impressões daquilo e daqueles que a rodeiam, ao mesmo tempo que vai contando a história da sua própria vida. 

Filha de um toxicodependente e de uma alcoólica, a nossa protagonista tinha tudo para se deixar embrenhar numa vida "poucochinha", mas amparada e educada pelos avós, conseguiu dar a volta à vida e tornar-se independente. 

Nas suas palavras, via, apesar de tudo, o pai como um herói. Até ao dia em que vende alguns dos seus pertences, para sustentar o vício. Com a mãe, a relação sempre foi fria e distante. Conta também com um irmão, a braços com os seus próprios demónios. 

É mais um livro admirável. Comparando com o "Demência", a diferença do estilo de escrita é radical. Enquanto que no primeiro temos um romance estruturado, este livro é uma espécie de diário caótico, escrito enquanto espera pelo avião, onde faz um balanço de tudo: desde as relações familiares, à oferta de um novo emprego, passando pelo Luís, aquele homem que a espera em Lisboa, e com quem irá terminar a relação... 

Neste livro, a Célia é quase bruta a escrever - tão tão diferente daquela menina de rosto sorridente que se vê no Instagram. A vida da nossa protagonista não foi fácil, mas a fibra que emana, é suficiente para uma cidade inteira. 

É um livro corajoso. Cheguem ao fim e leiam a última página. Saberão do que estou a falar!! 

sábado, 2 de abril de 2022

Lido: Niketche: Uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane

A feminista dentro de mim decidiu que, no mês de março, só leria livros escritos por mulheres. Terminado O Regresso do Rei no dia 3, peguei num livro que a minha sogra me tinha dado no Natal. Aproveitei também o facto do tema do mês do clube de leitura a que pertenço ser "um livro de uma cultura diferente da tua" e enveredei na leitura de Niketche: Uma História de Poligamia. A autora é a moçambicana Paulina Chiziane, que recebeu o Prémio Camões, no passado mês de outubro. 

O que eu sabia do livro ou da autora? Zero absoluto. Mas o título era apelativo...

Rami é casada com Tony há mais de 20 anos. Mas, as sucessivas ausências prolongadas de Rami fazem-na desconfiar. É quando descobre que Tony mantém mais 4 famílias: mulheres e filhos. A sensação de traição com a descoberta da poligamia de Tony leva-a a criar uma espécie de "irmandade" com as outras mulheres, obrigando o homem a reconhê-las a todas, bem como aos filhos, e a manter abertamente a relação poligâmica, perfeitamente aceite perante a sociedade. 

Mas os revezes não tardam em aparecer e aquilo que parecia uma solução simples vira-se contra ela, por conta do papel submisso que a mulher deveria ter perante o marido, por conta do seu casamento "de papel passado" com Tony que fazia dela "a 1.ª mulher", por conta das próprias diferenças culturais entre as mulheres do Norte e as do Sul... 

Um dia, Tony é dado como morto. A viúva "oficial" é despojada de todos os seus bens, é obrigada a rapar o cabelo e é oferecida ao irmão do falecido... tudo em nome de uma tradição secular e ultrapassada. 

Poderá o amor de Rami por Tony sobreviver à traição, à submissão, às dúvidas, à crueldade...?

Mais uma história muito forte, escrita por uma mulher, para as mulheres sobre as mulheres. Honestamente, gostava muito que este livro fosse mais conhecido. Desafio-vos a isso: conheçam um livro fora da vossa esfera confortável, e procurem algo na vossa linha de desconforto, apostem em Paulina Chiziane...

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Lido: O Regresso do Rei - O Senhor dos Anéis, de JRR Tolkien

 Li o segundo volume precisamente em abril de 2021, e este terceiro volume demorou quase um ano a sair da estante: comecei a lê-lo a meio de fevereiro e terminei mesmo no início de março. Não sei se vale muito a pena estar a falar de um livro que foi publicado, literalmente, noutro século e que já foi "transformado" em filme pelo menos há quase 20 anos (fui confirmar, foi lançado em 2003)...

A derradeira batalha entre o Bem e o Mal está prestes a eclodir. As forças de Sauron ameaçam Gondor, e Minas Tirith estão prestes a cair, até que os homens de Rohan chegam. 

Enquanto isso, Aragorn pede ajuda a seres que já foram homens, cobrando-lhes uma promessa feita em outro tempo, garantindo-lhes que após esta última batalha, poderão descansar em paz. 

Mas e o Anel Um? Será que Frodo e Sam ainda estão vivos? Os restantes elementos da Irmandade não fazem ideia, mas confiam e têm fé nos pequenos hobbits. O leitor, no entanto, tem outras informações: Sam é, agora, o Portador do Anel e tudo faz para salvar Frodo - da negritude, de Gollum e de si mesmo... 

Entretanto, o exército do Bem reúne-se de forma a criar uma distração, para que Frodo e Sam consigam destruir o Anel e terminar de uma vez por todas com a ameaça de Sauron...

Posso dizer que o filme foi muito bem adaptado; não me lembro de nenhuma grande diferença escandalosa. Houve personagens que não chegaram ao filme, houve alguns atalhos que foram tomados, mas, no fim, feitas as contas, está lá o essencial. 

Já referi antes que li o 1.º volume na altura em que o filme saiu e não tinha gostado. Voltei a pegar nele anos depois, e foi toda uma nova experiência. 

E o que nos fica de O Senhor dos Anéis? Quais são as grandes questões por trás de toda esta saga épica? O poder, a vida e a morte, a imortalidade, o livre arbítrio... 

Estes livros foram publicados nos anos 50, do século passado. Escritos, muito provavelmente, durante tempos negros da Humanidade, e focam nas problemáticas daqueles tempos: um senhor impiedoso que quer dominar tudo em seu redor? Os opositores que eram eliminados? As batalhas pela liberdade? Reconhecem algo? Não me parece que seja pura coincidência. 

Sinto que li estes livros naquela que era a altura certa para mim. Gostei tremendamente e fico contente por ter encerrado o meu ciclo "Senhor dos Anéis".