Terminei o livro, em lágrimas. A Avó e a Neve Russa, apesar de estar escrito pela perspetiva de um rapaz de 10 anos, não é para meninos.
A ação passa-se no Canadá. A avó, a Babushka, está doente (sabemos que tem um tumor nos pulmões e acaba mesmo por ser internada numa unidade hospitalar).
Vivia em Pripyat, local onde se deu o acidente nuclear de Chernobyl, e ficou fortemente afetada pelos "ventos atómicos". O marido morreu devido às consequências do acidente. A filha morreu, anos mais tarde, já no Canadá, vítima de atropelamento. E Babushka ficou responsável pelos dois netos: Andrei, o mais velho, e o nosso protagonista. E é esta a família russa tal como a encontramos no início, inserida numa comunidade multicultural, onde não falta, sequer, a típica família portuguesa, os Pereira.
O nosso herói não tem nome. A determinada altura, apresenta-se como Alexei, mas sabemos que não está a dizer a verdade (o irmão chama-se Andrei, e talvez tenha inventado esse nome devido à semelhança fonética). Tem 10 anos, adora ler e é muito bom aluno. Anda, constantemente, com papéis com ideias, palavras ou expressões que leu ou que pretende analisar mais tarde. Apesar desta curiosidade, desta inteligência, não podemos esquecer que só tem 10 anos. Ao mesmo tempo, apresenta uma inocência e uma ingenuidade típicas de quem tem tão pouca idade.
Ainda não entendeu, completamente, que a avó vai morrer, inevitavelmente. Na sua mente, a avó ainda tem hipótese de sobreviver, e ele vai fazer tudo para chegar ao México e colher um cato que dizem ter propriedades curativas. E entra nesta aventura com Matt, um amigo sem-abrigo, judeu polaco, cuja família passou pelos campos de concentração nazis.
A relação dele com a avó, o amor que sente por ela é também algo muito "palpável" nas pouco mais de 200 páginas deste livro. Ele procura, de várias formas, junto da comunidade a que pertence, encontrar uma cura para "os pulmões destruídos"da Babushka. O nosso protagonista embarca, então, nessa viagem desde o Canadá para o México para ir buscar a tal planta que poderá salvar a vida da avó, pois, caso ela morra, ele será separado do irmão.
A escrita do João Reis conseguiu transmitir-me aquela sensação que, muitas vezes, tenho com o Henrique (apesar de ser mais pequenino do que o nosso protagonista): a noção da limpidez do espírito infantil. A acuidade dos seus pensamentos. A lógica de quem ainda se está a formar. A óbvia falta de experiência de vida apesar de alegarem que são crescidos e podem e conseguem fazer (quase) tudo.
A capa é lindíssima. É um dos primeiros alertas da qualidade da obra. É uma ilustração de um conterrâneo meu, Lord Mantraste, nascido nas Caldas da Rainha, e licenciado em Design Gráfico no mesmo politécnico que eu.
É um livro que aconselho vivamente. E o João Reis é um autor que deve ser seguido com atenção. Além deste livro, tem mais duas obras: A Noiva do Tradutor e A Devastação do Silêncio. Quero (e vou) ler mais de João Reis e sugiro que o façam também.
A dedicatória |
Também o tenho autografado, desde a Feira do Livro de Lisboa do ano passado. Sei que o vou devorar e amar, sei que me vou perder entre sorrisos e lágrimas com a relação entre avó e neto (o meu calcanhar de Aquiles nas leituras) e fico muito feliz quando percebo, mesmo sem o ter lido ainda, que este livro continua a fazer as delícias de mais leitores!
ResponderEliminarBeijinhos, Cristina, e espero que já estejam melhores!