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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Lido: O Bom Inverno, de João Tordo

Nunca tinha lido nada de João Tordo. Imagine-se que nem sabia que é filho do Fernando Tordo (o
cantor... informação para a malta mais nova que, eventualmente, leia este texto). O meu desconhecimento chegada a este nível. Adiante. O importante nesta minha introdução é que nunca tinha lido nada dele.

Já tinha ouvido algumas coisas, mas nunca me tinha sentido impelida a ler alguma das suas obras. Recentemente, lançou um novo livro que me chamou a atenção - "A noite em que o Verão acabou". E a verdade é que o nome "João Tordo" já anda no mercado há bastante tempo, não é uma moda de Verão.

Numa ida à biblioteca com o Henrique, apesar de ter dito que não iria trazer nenhum para mim, porque tenho imensos ainda por ler, em casa, encontrei "O Bom Inverno". O que sabia do livro? Nada. Zero. Trouxe-o na mesma, sem ler sequer a sinopse. Podia ter corrido mal.

Mas correu bem. A leitura foi mesmo muito rápida, porque o livro leva-nos a isso mesmo. A história prende o leitor de forma a querermos descobrir o final. Apesar de "A noite em que o Verão acabou" estar a ser apresentado como o 1.º thriller de João Tordo, este "O Bom Inverno" tem muitas características de um livro desse género.

Temos um escritor a entrar num período decadente. Não consegue escrever. Teve um acidente e ficou muito magoado - inspirado pelo Doctor House, comprou inclusivamente uma muleta, para não coxear - e a namorada terminou com ele.
Numa altura em que a negritude lhe está a chegar em velocidade cruzeiro, é convidado para integrar o painel de uma conferência em Budapeste, com outros escritores europeus.

Lá, conhece um jovem escritor italiano que o convence a ir até Itália, à mansão de um poderoso produtor de cinema, longe de olhares indiscretos, por causa de um negócio que lhe poderá ser vantajoso.

Depois de uma noite agitada, com álcool e comprimidos para as dores, e com um grupo inusitado de personagens que aguardam a chegada do anfitrião, este é encontrado morto na manhã seguinte. Um dos empregados isola todos os envolvidos na mansão que, tal como eu já disse, fica localizada numa área longínqua. O objetivo é descobrir o assassino de Don Metzger, o referido produtor. E, tal como se espera, ninguém é exatamente o que parece ser.

Foi uma leitura muito interessante. E, genuinamente, fiquei com vontade de ler mais de João Tordo. É um livro que nos faz avaliar as escolhas que fazemos. O nosso protagonista podia não ter ido a Budapeste, mas precisava do dinheiro. E foi. Podia ter ignorado o escritor italiano. Não se identificava com ele, mas como estava intrigado com as suas companheiras. E, convenhamos: foi vencido pelo cansaço. Podia não tomar a medicação. Há todo um conjunto de "ses" nesta história. Tal como há um jogo de aparências que ganha uma dimensão gigante quando nos sentimos ameaçados.
É um livro que nos dá a sensação de claustrofobia. Além do mistério: quem matou Don?

O exemplar que li é da Biblioteca Municipal de Sintra, e foi editado pela Dom Quixote.

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