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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Lido: A Noiva do Tradutor, de João Reis

Há uns meses, o João Reis cedeu-me o seu último livro, A Avó e a Neve Russa, por coincidência,
pouco antes do meu aniversário... um livrinho maravilhoso que trazia nele todo um conjunto de sentimentos. Ri-me com ele, chorei com ele e emocionei-me. Na altura, disse que queria ler mais de João Reis, e, no dia em que encontrei A Noiva do Tradutor, não mais o larguei.

É um livro pequenino - 128 páginas - que se lê num sopro, no momento em que entramos dentro da mente do nosso protagonista, cujo nome não conhecemos.

Vamos encontrá-lo num elétrico, após ter deixado a noiva embarcar para outro continente. Durante a viagem que faz, o tradutor vai observando tudo o que se passa à sua volta, e ao mesmo tempo, temos acesso aos seus pensamentos mordazes, pois naquele trajeto encontra várias situações que o deixam ainda mais deprimido.

Todas as pessoas com que se cruza são a personificação do egoísmo, da crueldade, e das injustiças que, essas sim, caracterizam a sociedade. Com pouco dinheiro nos bolsos, o nosso tradutor vive numa residencial, com outras pobres criaturas.

Todo o livro, é o relato deste homem, num estado puro de desalento, que, tenta, por todas as vias, vir à tona respirar e encontrar uma solução. Mas o abandono que acaba de sofrer é o grande motor para os revezes.

Se em A Avó e a Neve Russa, temos um protagonista sem nome, aqui passa-se o mesmo, mas com a diferença abismal que, se no 1.º, tínhamos uma criança como narrador, aqui temos um homem, com cerca de 30 anos, com pensamentos mais concretos e menos ingénuos. A crueza dos pensamentos dele (do protagonista), muitas vezes, entram em confronto com o que realmente diz - fazendo dele, também, parte do problema.

A escrita é, substancialmente, diferente do A Avó e a Neve Russa, como é óbvio, e detetei, no estilo, uns laivozinhos de José Saramago: o humor sarcástico e algo subtil, a análise à sociedade, a escrita seguida, sem grandes pausas e parágrafos...

A A Noiva do Tradutor foi, de resto, o seu 1.º livro, em nome próprio. Gostei bastante, e pretendo, sem dúvida, continuar a ler mais João Reis, que merece ser muito mais conhecido e que lançou agora mais um livro: Quando Servi Gil Vicente.

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