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quinta-feira, 25 de abril de 2019

Lido: Se Isto É Um Homem, de Primo Levi

Primo Levi não romanceou a sua passagem por Auschwitz. Aquilo que li foi a descrição de alguém profundamente marcado e amargurado com esta experiência de quase vida vs. quase morte.

Primo Levi foi capturado em dezembro de 1943 e deportado para Auschwitz no início de 1944. Teve a "sorte" de apanhar escarlatina e, por isso, não ter integrado a Marcha da Morte a meio de janeiro de 1945, poucos dias antes da libertação daquele campo.

Tudo o que lemos neste livro, é a visão deste homem sobre o momento em que foi capturado, até à data da libertação - viu chegar os russos quando, já em tremendo esforço, largava o corpo, já sem vida, de um prisioneiro que morrera durante a noite.

Este livro é muito cruel. Não está cá com paninhos quentes, para tentar "poupar" o leitor que, coitadinho, não pode ler sobre o Holocausto, nem ficar chocado. Este livro é visceral e cru. Não sei muito bem o que escrever sobre este documento. Porque "Se Isto É Um Homem" não é simplesmente um livro sobre o Holocausto. Não é um romance. Não é baseado na história de.

Soube que Primo Levi morreu aos 67 anos, numa queda que ainda se encontra por explicar. Alguns defendem que se tratou de suicídio, e não de um acidente. Que a alma de Primo Levi havia morrido muitos anos antes, em Auschwitz. E é por causa de Levi e de outros que é importante continuar a falar deste assunto. É importante que os erros do passado não se repitam. É importante que as pessoas continuem a ler sobre o assunto, a escrever sobre o assunto, a sentirem-se envergonhadas, doentes, nauseadas, culpadas... porque, infelizmente, os sobreviventes, aos poucos vão morrendo. Nesta altura, já passaram 74 anos. São muito poucos aqueles que estiveram lá e sobreviveram naquelas condições.

A comparação vai ser ridícula, mas, no filme da Disney "Coco", falou-se muito sobre a preservação da memória de quem já partiu. E quando morrer a última pessoa que ali esteve, a memória perde-se. E é por isso que se reveste de uma importância ainda maior que estes livros continuem a ser re-editados. Que continuem a chegar a mais e mais pessoas.

Terminei um livro sobre a privação de liberdade, sobre sacrifício, sobre dor e perda, no dia em que Portugal celebra os 45 anos do 25 de abril. Portugal que teve Peniche, Caxias e Tarrafal. Portugal que também está a passar por uma terrível perda de memória...

Citação escolhida: 
"Temos, portanto, sem dúvida de lavar a cara sem sabão, na água suja, e limparmo-nos ao casaco. Temos de engraxar os sapatos, não porque a tal obriga o regulamento, mas por dignidade e por propriedade."   

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