Este livro foi publicado nos idos de 2005, e devo tê-lo lido por volta dessa mesma altura. Quase 15 anos, portanto. A memória que guardava dele é que era engraçado. Que falava do tema "morte", mas com sentido de humor. No início do mês, devolveram-mo. Julgava eu que o meu querido Saramago estaria, algures, encaixotado. Estava emprestado. Há mais anos do que aqueles suficientes para me lembrar.
Quando o voltei a pôr nas prateleiras, foi como se revisse um velho amigo, depois de anos de separação. E inspirada por um booktuber do Brasil, decidi que, este ano, iria relê-lo.
Calhou a Patrícia Rodrigues - do blogue (e canal) O Prazer das Coisas - ter desenvolvido o projeto Lusiteratura, que pretende promover os autores nacionais. E, em abril, uma das categorias era "Autor com mais de 35 anos". O senhor faleceu com 88 anos, portanto, creio que se encaixa. Ao mesmo tempo, com a maratona da Volta ao Mundo, dá para "inserir" no desafio Portugal. Esta releitura é, então, um 3 em 1 mais do que apropriado.
Do que se trata As Intermitências da Morte? Um dia, num país nunca identificado, no 1.º de janeiro, ninguém morreu. Várias pessoas ficaram no limbo entre a morte e não morte, e simplesmente, com o passar dos dias, ninguém morria... simplesmente.
Toda esta anormalidade criou um caos enorme neste país: as indústrias ligadas à morte, como os agente funerários estavam à beira do colapso, os hospitais e lares tinham mais doentes e utentes do que a capacidade real, as famílias desesperavam, porque os seus entes ficavam em sofrimento perpétuo.
Tratava-se de uma pequena amostra da morte (assim mesmo: com letra minúscula) de como seria se ninguém morresse. Passados alguns meses, a morte retomou a sua atividade com ligeiras alterações ao seu modus operandi, mas deparou-se com um contratempo que a obrigou a fazer algo inesperado.
As Intermitências da Morte foi o 2.º livro que li de Saramago, e ficou-me sempre na memória as trocas e baldrocas desta narrativa escrita de forma tão fantasiosa... sim, porque este livro quase pode ser considerado do género fantástico, se formos rigorosos.
Este livro fala de amor, de esperança, de caos, de tristeza... mas à boa maneira de Saramago. Não se assustem com José Saramago, por favor. Este livro é minúsculo - tem 214 páginas - e é um pedaço de literatura portuguesa tão bem construído, que toda a gente devia ter um exemplar em casa.
Citação selecionada:
"A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu."
Goodreads Reading Challenge: 31/45
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