No ano passado, li o livro Mil Sóis Resplandecentes, o 2.º romance deste autor afegão-americano. E fiquei com imensa vontade de ler o seu best-seller O Menino de Cabul. Trouxe, contudo, da biblioteca, a edição brasileira, com o título O Caçador de Pipas.
Estou desfeita por dentro. Que livro fabuloso. Começamos com um jovem, em 2001, a receber uma chamada telefónica e a informar a esposa que tem de viajar para o Paquistão. A partir daí, seguimos Amir a contar a sua história. E recuamos a Cabul, nos anos 70, quando tudo ainda era tranquilo e normal.
Amir é uma criança privilegiada. Tem 12 anos, vive com o pai (a mãe faleceu após o parto) numa casa enorme, e tem os empregados Ali, e o seu filho Hassan. Ficamos mais tarde a saber que Ali havia sido acolhido, em criança, pelo avô de Amir, e criado quase como um irmão do pai de Amir, apesar de ser de uma etnia considerada menor.
Amir e Hassan crescem juntos, mas o 1.º não compreende os cuidados que o seu próprio pai tem para com o filho do empregado. Juntos, os dois rapazes entram, habitualmente, em competições de lançamento de papagaios de papel (as pipas), e no dia em que Amir vence uma competição, vê o seu amigo a ser abusado sexualmente por outro rapaz. Amir, cobardemente, não interfere, foge, e, incomodado com o facto de não ter sido capaz de defender o amigo, egoistamente, arranja uma forma de Ali e Hassan saírem lá de casa.
Entretanto, a situação política do Afeganistão altera-se radicalmente, e Amir e o pai conseguem fugir para os Estados Unidos, onde seguem com a sua vida. Amir forma-se, casa-se e torna-se um autor com alguma fama. Contudo, o passado volta a bater-lhe à porta e Amir é obrigado a fazer o que nunca fez: tomar uma decisão, que vai ser transformadora e redentora pela traição que protagonizou em criança.
Adorei. Além da história estar profundamente bem escrita, Hosseini escreve sobre as transformações no Afeganistão de uma maneira tão descomplicada que, qualquer pessoa, entenderá as repercussões que teve junto das pessoas. Algumas descrições são brutais. Há uma parte em que o vilão conta como entrou numa casa e simplesmente disparou sobre todas as pessoas que lá viviam; incluiu a descrição de como "cortou" ao meio uma criança, com as balas. A maldade dos talibã. A dor que provocaram. Sentimos isso. E ficamos incomodados.
Ainda não vi o filme, porque queria ler primeiro o livro. Entretanto, já vi o trailer. E voltei a chorar.
Este livro conta para a maratona literária Volta ao Mundo em 15 Citações, desafio 13 "Países árabes", e é 33.º livro concluído em 2019.
Citações escolhidas - e há muitas neste livro:
"Sabia que Hassan e você mamaram do mesmo leite? Sabia disso, Amir agha? Ela se chamava Sakina. Era uma linda hazara de olhos azuis, nascida em Bamiyan, e cantava para vocês velhas cantigas de casamento. Dizem que as pessoas que mamam do mesmo leite são como irmãs. Sabia disso?"
* * *
"Senti uma onda de tristeza. Estar de volta a Cabul era como ir ao encontro de um velho amigo que tínhamos esquecido, e ver que a vida não tinha sido boa para com ele; que se tinha tornado um indigente, um sem-teto."
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