Este espacinho, às vezes, fica dias sem uma palavra; estranho, num blogue que tem nos livros... nas palavras... a sua essência! Estamos em julho, e, em julho, estou mais cansada de um ano anormal. Houve umas semanas muito ativas, muito pródigas em textos dia sim-dia sim... mas agora sinto, no corpo, o cansaço acumulado...
Terminei ontem - já era hoje, na verdade - O Ministério da Felicidade Suprema, de Arundhati Roy, o 2.º romance (em 20 anos) desta autora, depois de O Deus das Pequenas Coisas.
Ao contrário de O Deus das Pequenas Coisas, este novo livro é mais retorcido. Tem muitas idas e vindas ao passado de muitas personagens que nem se chegam a cruzar. A protagonista primeira de O Ministério da Felicidade Suprema é Anjum, uma Hijra (um terceiro género no Paquistão, Bangladesh e Índia) que, no momento da ação, vive num cemitério. Havemos de conhecer várias pessoas ligadas a ela: Saddam, Zainab, outras Hijras, outros miseráveis de um território devastado pelas sucessivas guerras indo-paquistanesas.
Apesar da escrita doce e de artifícios de beleza usados por Roy, O Ministério da Felicidade Suprema é um livro muito cruel. Retrata uma sociedade que não se vê nos panfletos turísticos, uma sociedade dos despojados, dos pobres, dos exilados, das vítimas...
Nenhuma personagem é, essencialmente, feliz. Todas têm cicatrizes profundas, e acho que é nisso que reside a essência do livro: apesar de tudo, todas têm momentos felizes e nunca se sentiram tão bem como então. Quando Anjum encontra Zainab pela primeira vez, quando Saddam encontra em Anjum a figura maternal que não teve, o casamento de Zainab e Saddam, quando Tilo e Musa se reencontram depois de muitos desencontros, quando a Menina Jebeen é acolhida... até que no fim, suspiramos de alívio.
Não esperem facilidades a ler O Ministério da Felicidade Suprema. Não é simples, não é linear e não pode ser, de todo, encarado como um romance "comum". Não sei se este livro vai ficar no meu coração como O Deus das Pequenas Coisas, mas é um livro especial.
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