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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Lido: O Deus das Moscas, de William Golding

Desde o ano passado que andava de olho neste livro. Tive a possibilidade de assistir ao ensaio de imprensa da peça O Deus das Moscas, adaptado e produzido por uma companhia de teatro sintrense, no magnífico cenário da Quinta da Ribafria, também em Sintra.

Desde o instante em que as atrizes - sim, o encenador trocou, e em vez de ser um elenco masculino, eram só raparigas - começaram a representar, senti que tinha de ler este livro.

Não é um livro minimamente fácil de ler. Creio, aliás, que, se não fosse pela peça, ter-me-ia escapado um ou outro momentos da ação. Apesar de conhecer a história, e saber precisamente do que se tratava, não deixei de me sentir enjoada e emocionada com alguns momentos.

A ação começa com um acidente de avião. Ralph surge. É um adolescente, sobrevivente da queda do avião. Mas logo surge outro rapaz, que começará a ser chamado de Piggy. Aos poucos e poucos vão aparecendo vários adolescentes, e crianças. Após terem-se juntado todos, decidem que devem organizar-se para criar abrigos, acender uma fogueira para chamar a atenção e procurar comida. Um outro rapaz, Jack, nomeia o seu grupo do coro, como os caçadores, mas logo percebemos que ele tem uma postura que antagoniza Ralph e Piggy, este último visto como o elo mais fraco.

Há medida que o tempo vai avançando, vemos que o suposto grupo organizado é tudo menos isso. Os rapazes preferem estar na praia do que criar abrigos, e deixam apagar o fogo, precisamente na altura em que um navio passa ao largo da ilha onde eles estão perdidos.

Mas não é só isso. Os mais pequenos garantem ter visto uma besta, uma criatura e isto é o suficiente para que as coisas se tornem ainda mais complicadas.

O Deus das Moscas é um livro que nos faz pensar sobre a verdadeira natureza do Homem. Em tempos idos, nas aulas de Filosofia... lembro fragmentos esta discussão: Jean-Jacques Rousseau disse-nos que o Homem é bom por natureza e que é a sociedade que o corrompe; enquanto que, para Hobbes, o Homem é, naturalmente, mau. E este livro mostra-nos o bom e o mau que cada rapaz, deixado à sua sorte, seria capaz de fazer.

Não vou entrar em pormenores da narrativa, por motivos óbvios: prefiro que seja cada um de vocês a descobrir. Mas posso dizer que tudo descamba, como seria de prever. Apesar de alguma boa vontade, os rapazes falham redondamente. E, no final, um oficial da Marinha britânica parece ficar desiludido quanto ao falhanço de rapazes ingleses em se auto-governar.

Trata-se de uma obra que coloca, preto-no-branco, o progressivo processo de decadência: estar bem, no alto, e, aos poucos, cair até não restar sequer uma centelha de Humanidade.

Mas tem de ser lido, pessoas. A sério. Sei que escrevo isso muitas vezes, mas quando o escrevo, não é ao desbarato. Tenho-me esforçado em escolher bons livros, e no meio desses "bons livros", existem aqueles que são de uma qualidade superior, por esta ou aquela razão. E este é um desses. Mas, ao embarcarem nesta leitura, foquem-se. Que seja o único livro que lêem. Como disse no início: não é um livro simples, mas é tremendo.

Este livro foi escolhido para o projeto Estações Literárias, da Ana "Phoenix Flight" e da Andreia "Croma dos Livros", e para o meu projeto pessoal de ler mais Nobel da Literatura.


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