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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Lido: Demência, de Célia Correia Loureiro

Algures no ano passado, a Cristina do blogue e canal Linked Books e a Silvéria do canal The Fond Reader lançaram as bases do "Demência on the road" - um sistema de empréstimo, em rede, do livro Demência da jovem autora Célia Correia Loureiro.

Já havia bastantes pessoas que tinham esta obra e diziam maravilhas. De repente, toda a gente queria lê-lo. A Cristina tinha um exemplar extra e assim nasceu esta rede de empréstimo.

Na semana passada, chegou até mim. E resumindo, li-o em três noites. Chorei baba e ranho, e, no fim, pespeguei-lhe com 5 estrelas. Que livro tão bom.

Temos a história de Olímpia, uma mulher na casa dos 60, que começa a dar sinais de que algo não está bem. Vive numa aldeia pequena, e num fósforo, tudo se sabe. Uma vizinha telefona para Letícia, a nora, na esperança que esta possa fazer alguma coisa para ajudar a sogra. Mas, e é aqui que... como se diz: a porca torce o rabo. Letícia matou o marido, Fernando, único filho de Olímpia.
Fernando era violento, e num dia de especial violência, Letícia atingiu-o com a arma que ele próprio havia empunhado para acabar com a vida da mulher.
Sem emprego, e sem grandes alternativas, até porque tem duas filhas do casamento com Fernando, Letícia vai para casa da sogra, conhecendo de antemão todas as dificuldades que iria enfrentar: lidar com o ódio de Olímpia e da comunidade da aldeia que a vê como uma mera assassina.

Mas, nem tudo é mau e duas personagens masculinas vêm ajudar a limpar o passado e a esclarecer muitos pontos cinzentos de tempos idos: Sebastião, um septuagenário, amigo de sempre de Olímpia, e Gabriel, grande amigo de Fernando, mas que sempre amou Letícia.

Violência doméstica e doenças do foro mental... uma mulher, que quase era morta, ousou enfrentar o seu agressor que era filho da mulher que agora vai amparar. Uma aldeia acusadora.
Uma mulher que perde o seu único filho. Uma mulher doente que não tem mais família que a ajude. São muitos os dilemas e os traumas que são colocados em "apenas" 464 páginas, porque quando se termina esta leitura, parecem muito menos do que na realidade.

A Célia escreve muito bem. E o mais incrível é saber que a primeira edição de Demência tem quase 10 anos - quando a Célia tinha pouco mais de 20 anos.
É um livro brutal, que anda para trás, para o passado de Letícia, e ainda para a meninice e juventude de Olímpia... é contado, portanto, em vários períodos temporais, perfeitamente identificados e necessários para que o leitor consiga entender todas as perspetivas dos nossos intervenientes.

"Demência" foi relançado, no ano passado, pela Coolbooks e, na minha singela opinião, é um livro que deve ser lido e relido. Um daqueles livros que podemos comprar sem hesitações e ostentar na estante de casa.

Foi a minha 15.ª leitura de 2020.

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