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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Lido: Essa Gente, de Chico Buarque

Este livro foi prenda de Natal da minha sogra. Bastante recente nas minhas estantes, portanto, e nem teve tempo de aquecer lugar na fila de espera. Era uma leitura que eu queria realmente fazer desde que o livro saiu, já que nunca tinha lido nada de Chico Buarque, e só o conheço pela música.

Seguimos Manuel Duarte, um escritor que atravessa uma fase bastante negra da sua carreira: não ter nada para apresentar ao seu editor. Aliás, o primeiro texto que temos acesso, é uma carta que ele escreve, a pedir um adiantamento, à editora.

O que se segue é um conjunto de textos que, numa primeira vista, parecem completamente desconexos entre si, até que começamos a juntar as peças deste puzzle que Buarque nos serve, e começamos a ver a imagem geral.

Divorciado, com dívidas, duas ex-mulheres, um filho, e uma tendência inenarrável para se meter em confusões, Duarte tenta arrancar, pelas ruas, a inspiração necessária, para escrever. O que ele vê, e analisa, com uma lupa de escritor decadente, é uma sociedade que se vai desfazendo, aos poucos, e se deixa diluir nas aparências - como iremos ver ser o caso de ambas as ex-mulheres.

Li, algures, que este livro é classificado como uma tragicomédia, e não poderia concordar mais. Diz-nos a Infopédia, o que é uma tragicomédia:
"Subgénero dramático, cultivado principalmente do século XVI ao século XVIII, que se caracteriza pela união de características dos subgéneros da tragédia (assunto e personagens), com as da comédia (linguagem, incidentes e desfecho)".

Temos Duarte, por exemplo, que se vê obrigado a fazer pequenos favores a uma das ex-mulheres, como passear o cão, porque está prestes a ser despejado do apartamento onde reside, e precisa reatar uma relação com ela.
Mas, por outro lado, ela sempre foi a sua revisora, e uma peça fundamental nos seus sucessos editoriais passados, e é a própria editora que lhe implora que ela reveja as primeiras páginas do novo livro.

O final é inesperado, confesso. Não estava à espera daquele desfecho, o que tornou esta minha 1.ª experiência com Buarque muito interessante. Dizem que o número 13 dá azar, mas não posso concordar... 13.ª leitura do ano, que contou para a maratona Estações Literárias, e para o #24Horas1Livro. A edição é excelente: letra decente para quem está, perigosamente, perto dos 40 anos e usa óculos desde a faculdade, espaçamento e paginação muito "clean".
O próprio estilo do livro é muito atraente: textos curtinhos, como se fossem cartas, páginas de diário, recados... o que torna a leitura muito fluída e nada cansativa.

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