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sábado, 22 de fevereiro de 2020

Lido: Sou Um Crime: Nascer e crescer no apartheid, de Trevor Noah

É uma tarefa muito ingrata, esta: escrever a minha opinião sobre um livro sobre a vida de uma pessoa que passou por coisas que, eu, nem nos meus pesadelos, alguma vez, imaginei.

Ficção é ficção. Um romance, mesmo que, por vezes, possa ser inspirado em casos reais, em pessoas de carne e osso, não é a mesma coisa que um livro escrito em voz própria. "Sou um Crime" não é, ao contrário do livro da Malala, para crianças.

Há uns anos, quando o Trevor Noah substituiu o Jon Stewart no "The Daily Show", pensei quem seria aquele miúdo com a mania que era engraçado. Não perdi muito mais do meu precioso tempo a pensar nele, vou ser sincera.

Neste intervalo, entre 2015 e anteontem, data em que terminei de ler o "Sou um Crime", vi os espetáculos da Netflix: Afraid of the Dark e Son of Patricia e já tinha mais umas luzes sobre quem era o Trevor, mas ainda assim não estava preparada para aquilo que li.

Não conhecia um tusto do apartheid. Chego a essa triste conclusão. Até me tenho por uma pessoa que percebe umas coisitas sobre o nosso mundo, mas senti-me perfeitamente ignorante sobre aquilo que desconhecia (e ainda desconheço) sobre este regime segregativo.

Mesmo com o fim do apartheid, as coisas não foram fáceis. Trevor nasceu em 1984, dez anos antes da eleição de Mandela como presidente de África do Sul, evento esse que marcou o fim de uma era. Com um pai branco (um suíço-alemão) e uma mãe negra, Trevor nasceu mestiço. Mulato. Não era carne nem peixe. E, acima de tudo, a sua mera existência era ilegal: estava, literalmente, escrito - legislado - que brancos e negros não se podiam misturar. Essa miscigenação era crime.

Mas a mãe, Patricia, era daquelas tramadas e que nunca se resignava. E acho que foi essa a chave para que Trevor Noah hoje - de acordo com alguma pesquisa que fiz - valesse 13 milhões de dólares. A mãe, contra tudo e todos, tentou pô-lo a estudar em boas escolas, aconselhava-o... em várias descrições, Trevor conta que a mãe lhe batia, mas, ele escreve que foi "por amor". Que preferia ser ela a discipliná-lo, do que a polícia. Porque os mulatos, os mestiços, os "de cor" eram os renegados da sociedade. A admiração que este homem tem pela mãe e pela sua resiliência, a sua coragem... é quase palpável.

E este livro fala um pouco sobre tudo: a sua incapacidade de se sentir confortável com brancos, e com negros, a fome, a pobreza, a miséria, a discriminação, a violência doméstica, mas sempre com um humor latente.

Pessoalmente, acho que "Sou um Crime" deve ser lido. Especialmente, agora... mais do que nunca. Po
r favor.




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