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sábado, 9 de maio de 2020

Lido: O Labirinto dos Espíritos, de Carlos Ruiz Zafón

Vamos, todos juntos, fazer um minutinho de silêncio por respeito ao meu sentimento de orfandade, agora que terminei a saga do Cemitérios dos Livros Esquecidos. Comecei esta caminhada em dezembro de 2018, com A Sombra do Vento. Em junho de 2019, li O Jogo do Anjo, e um mês depois, O Prisioneiro do Céu. E agora, terminei. E sinto-me quase triste por abrir mão de personagens que me acompanharam durante cerca de 17 meses.

O que ficou provado foi que deixei passar demasiado tempo entre o 3.º e o 4.º volume... havia coisas que já não me lembrava com exactidão, e Zafón, como quem não quer a coisa, ainda foi atar pontas do 2.º livro que - aparentemente - não parecia estar tão relacionado com a ação principal.

O meu segundo calhamaço - 845 páginas - e que comecei a ler no dia 28 de abril. Li-o em cinco dias. (uma nota comparativa: li as 840 páginas de Dispara, eu já estou morto, em 10 dias). Simplesmente não queria parar de ler.

Daniel e Béa são pais de um menino, mas Daniel continua a ter pesadelos com a mãe e os mistérios que rodeiam a sua morte. Numa dessas noites mal-dormidas, Julián, o filho, vem ter ao quarto dos pais por também ter tido um pesadelo, com um livro "Ariadna e o Príncipe Escarlate", de Víctor Mataix.

E será este o nome que iremos seguir no derradeiro final da saga. Mauricio Valls, um dos grandes antagonistas do volume anterior, desaparece sem deixar rasto e Alicia Gris, uma mulher das trevase cujo passado já se cruzou com o Fermín, é chamada para resolver este desaparecimento. E é claro que o enredo se adensa e traz de volta outros mistérios por resolver, como será a morte de Isabella, ou a de David Martín, e de que forma é que Víctor Mataix poderá estar envolvido, ou não, e como é que o desaparecimento de Valls está relacionado, e quem é Alicia Gris?...

Numa altura em que tanto se fala do empoderamento feminino, a personagem Alicia Gris é tudo aquilo que as mulheres querem: a igualdade. Alicia não aceita desaforos, Alicia, apesar das suas condicionantes, é mais forte do que muitos homens juntos, Alicia luta, Alicia não se conforma, Alicia quer a sua independência plenamente... isto tudo na Espanha de Franco, não esqueceis!

Este livro também aborda uma situação que, nas última década e meia, tem ganho relevo: as crianças raptadas do franquismo. Sabe-se, desde 2008, que durante regime de Franco, milhares de crianças foram afastadas das suas famílias, algumas logo após o parto, e entregues como filhos biológicos a outras famílias. Após a Guerra Civil, era uma forma de repressão política, já que as crianças "alienadas" pertenciam a opositores do General, e eram entregues aos seus simpatizantes. Mas rapidamente se converteu num negócio organizado por médicos, padres e freiras.

"Segundo a Associação de Afectados por Adopções Irregulares (ANADIR), podem ter sido roubadas cerca de 300 mil crianças, em Espanha, entre as décadas de 50 e 90, e muitas delas nunca suspeitarão da sua verdadeira identidade biológica", in revista Visão - 06/06/2011

Apenas em 2018, começou o primeiro julgamento de um médico obstetra, acusado de falsificação de certidão de nascimento. Fim da parte informativa. 

Zafón atou todas as pontas soltas. Zafón deu a Julián, o filho de Daniel, a honra de fechar a história dos Sempere, de uma maneira que fiquei de lágrimas nos olhos. É que parecendo que não, esta gente já era família.

Adorei esta leitura. Adorei a escrita de Zafón. Não sei no que ele está a trabalhar de momento, mas se for numa coisa parecida, só lhe tenho a dizer "toma mi dinero!!!"

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