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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Lido: Democracia, de Alecos Papadatos, Abraham Kawa e Annie Di Donna

Democracia:
Alecos Papadatos (conceito, história e direção de arte e desenho);
Abraham Kawa (história e argumento) e
Annie Di Donna (colorização)

Senti necessidade de especificar os papéis de cada um dos intervenientes deste livro. Este "Democracia" está tão bem construído que se "nota" o sangue, suor e lágrimas de cada um dos artistas nesta graphic novel, editada pela Bertrand.

Nestes dias, passei do conflito israelo-árabe, passei para a luta contra as adições e acabei por "aterrar" na "casa" da Democracia, na Grécia Antiga. As minhas leituras estão cada vez mais a resvalar para um enorme cinzento sem género...

Antes de passar à descrição do livro e à minha humilde opinião, destaco a introdução assinada por Raquel Varela, historiadora, investigadora e professora universitária, sobre a sociedade grega, e sobre a introdução e evolução dos direitos políticos e económicos dos cidadãos, que como sabemos, eram os homens com mais de 21 anos, que fossem atenienses e filhos de pais atenienses - um grupo bastante selecto, portanto. Mulheres, escravos e estrangeiros não tinham qualquer poder de decisão, opinião, ou discussão, por exemplo. Bons velhos tempos (#sóquenão)!!

Somos lentamente introduzidos na narrativa por um texto que nos contextualiza em termos de tempo e espaço. Estamos em 490 a.C. e Atenas está em guerra. Dário, o rei persa quer conquistar os estados gregos e lançou, através do Egeu, uma frota poderosíssima, conduzida por Hípias, um tirano exilado de Atenas.

Os gregos estão acampados nas imediações do local de desembarque dos persas, e observam as movimentações do inimigo. Leandro e Térsipo (Maratona... diz-vos alguma coisa?) são dois dos gregos que estão de vigia e será através dos olhos de Leandro que vamos saber quais os acontecimentos que os levou até ali.

Leandro não é uma figura conhecida da época, mas irá "contracenar" com vários nomes sonantes da Grécia Antiga. Há medida que a narração de Leandro avança, outros soldados se vão chegando a ele, para ouvir uma história conhecida de todos, mas que na voz do rapaz ganha uma profundidade maior, porque envolve corrupção ao mais alto nível entre os políticos da altura.

No final do livro, somos presenteados com mais 26 páginas com um resumo dos principais "atores", explicação de expressões gregas e alguns momentos mais importantes da caminhada rumo à vitória ateniense em Maratona.

A arte do livro é de cair para o lado. O nível de pormenor é muito muito interessante... conseguimos, por exemplo, acompanhar o amadurecimento e crescimento de Leandro desde jovem adolescente até a jovem adulto, cansado de lutar e a quem a vida não sorriu particularmente.

O livro foi lançado em Portugal, em 2016, no Amadora BD.

Falta-me apenas acrescentar que comprei este livro poucas semanas antes da pandemia, e que o li para o projeto "Vamos chamar a Primavera" da Maria João Diogo e da Maria João Covas, que está a decorrer desde março.


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