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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Lido: Vasto Mar de Sargaços, de Jean Rhys

Com o início do 3.º período letivo, tenho tido menos disponibilidade para ler. Pensava eu que o confinamento social significaria mais tempo para ler... hahahaha... ai, como estava enganada.

Enfim, dizia, que o tempo para ler é substancialmente menor, porque tenho de ajudar o pequenito nas tarefas da escola, digitalizar e enviar para a professora - e com um computador algo ultrapassado, é coisa para tomar bastante tempo.

Desde o último post, ainda só li o Vasto Mar de Sargaços de Jean Rhys, uma obra escrita com a intenção de ser uma prequela do Jane Eyre.

Ainda não li Jane Eyre. Portanto, toda e qualquer personagem deste livro é, para mim, uma novidade. Conheço, vagamente, a história de Jane Eyre; sei que há uma esposa louca fechada algures e que tem um papel importante (é??), mas não sei exatamente o quê, quando, como e onde...

Antoinette, a nossa protagonista, será - no futuro - essa esposa louca, mas aqui ainda a encontramos bastante jovem, pouco mais que uma criança. Algures na Jamaica, após a libertação dos escravos, os brancos ali existentes são alvos para os habitantes da ilha. E é o que se passa com a família que seguimos. O patriarca morre, e a esposa, com os dois filhos, tem de conseguir, sozinha, tomar conta da propriedade.

Casa-se com o senhor Mason, um inglês rico, mas ainda assim as dificuldades são muitas, e os negros acabam por atacar a casa onde vivem. Nisto, Pierre, o irmão mais novo da protagonista, morre, e a mãe enlouquece de dor. Sobra Antoinette que é enviada pelo padrasto para um convento para estudar, após uma infância quase sem regras.

Antoinette é, mais tarde, desposada por um cavalheiro inglês. A segunda parte do livro é intercalada com a voz deste homem que não sabemos o nome e de Antoinette, e conta-nos as dificuldades deste casamento, dado que começam a circular boatos que geram um clima de desconfiança entre ambos. E a nossa jovem Antoinette é levada à loucura, e transportada para uma Inglaterra cinzenta e chuvosa.

Terminei este livro com o mesmo amargo de boca que senti quando li O Monte dos Vendavais: como é possível existirem personagens que me revoltam tanto, ao ponto de quase sentir a bílis a subir-me ao palato?

O livro é quase um poema de amor às ilha do Mar das Caraíbas. As descrições, o conhecimento profundo da cultura... tudo isso me deixou deslumbrada. A escrita é sublime. A emoção é quase palpável. A caracterização de Antoinette é a de quem realmente experienciou aquela vivência. A jovem era quase selvagem, mas com uma ascendência meio britânica, meio francesa, de uma beleza sensual. A jovem mulher que não é da ilha, mas também não pertence à classe alta inglesa. A jovem mulher que é desprezada pelos naturais, mas que também não é totalmente aceite pela sociedade branca. A "crioula" endinheirada.

É um livro que merece ser lido. Com calma... apesar de ser um livro pequeno.

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