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sábado, 4 de abril de 2020

Lido: O Meu Irmão, de Afonso Reis Cabral

Não vou fingir que nunca tinha ouvido falar do Afonso. Já, e muito. Demasiado para meu gosto, até! E eu sou uma daquelas pessoas que não gosta muito de alinhar em modas. Quanto mais oiço falar de um autor ou de um livro, perco o interesse.

E depois, achava que o Afonso tinha ar de puto mimado. Não sei se é, ou não, nada está relacionado com o talento do rapaz, mas embirrei com ele... shoot me!

Porém, há coisa de 3 semanas, decidi trazer, da biblioteca, o seu primeiro livro, o tal muito aclamado e vencedor do Prémio Leya: O Meu Irmão. Sabia pouco ou nada do livro, e optei por simplesmente me deixar levar.

Temos o nosso protagonista que, após a morte dos pais, quiçá por problemas de consciência, decide acolher o irmão, Miguel, de 40 anos, e portador de Trissomia 21. A ação, no presente, acontece no Tojal, uma aldeia praticamente abandonada, perto de Arouca. Os pais tinham ali uma casa, e os dois irmãos vão lá passar uma temporada para reatarem laços.

O livro tem mais de 350 páginas, e pensei que seria complicado escrever um livro, confinando-se aquele ambiente. Mas, depois, o nosso protagonista vai relembrando os tempos em que eram crianças, e da relação que os irmãos tinham, dado só terem um ano de diferença. Aos 18 anos, quando ingressa na Universidade, e vai para Lisboa, acentuando o distanciamento da família, não só físico, mas emocional.

Após a morte dos pais, ele pensa que pode, facilmente, voltar a conectar-se a Miguel, mas uma figura - Luciana - é demasiado forte na sua vida, o que deixa o protagonista-narrador exasperado e capaz de tomar as decisões mais drásticas.

O ritmo do livro é lento. Li o livro em 4 dias, mas pareceu-me uma semana, juro! Mas a história é fabulosa, crua, e sem paninhos quentes.

Aborda um conjunto de temas, que são muito presentes na nossa portugalidadezinha, mas que raramente vejo descritas em livro: a deficiência, o estigma e o preconceito a ela associados, a criminalidade, a desertificação do Interior, e a própria dinâmica familiar.

A escrita é incrível, se nos lembrarmos que é de um miúdo que tinha 24 anos, na altura da publicação.

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