Tinha este livro desde o ano passado, mas ainda não o tinha lido por uma razão simples: queria prolongar aquela sensação de ter um livro da Rosa Lobato de Faria, ainda por ler, na estante. Como um bom vinho que mantemos na boca para prolongar o sabor. Ou um chocolate que deixamos derreter na língua.
Mas, os dias que hoje vivemos "obrigam" a que tenhamos de ler o que temos em casa. Há quem encomende. E acho lindamente. Mas, não é por falta de matéria prima disponível que vou ensandecer. E aqueles livros que estão há anos (??) na estante merecem certamente a nossa atenção.
Ia a meio do livro quando me apercebi que o filme português "Pedro e Inês", é baseado nele. E as críticas são fantásticas.
Neste livro de Rosa Lobato de Faria, seguimos, em três tempos diferentes, a saga amorosa de Pedro e Inês de Castro, desde o momento em que se conhecem até à morte dela. E o engraçado deste livro, é que Rosa Lobato de Faria ensaia, ainda que ao de leve, a escrita de uma distopia.
Temos então o Infante D. Pedro que acaba por se casa com Constança, apesar de apaixonado pela aia da esposa prometida, Inês de Castro, uma nobre espanhola. A relação de ambos gera imensa polémica, dado que os nobres portugueses temiam pela soberania nacional. Inês acaba por ser morta pelos algozes do Rei D. Afonso IV.
Temos também Pedro, filho de um magnata, e artista por natureza. Trabalhando na empresa do pai, Pedro conhece a assistente de Relações Públicas, Inês, e apaixona-se por ela. Mas, Pedro é casado com Constança, e os rumores da sua relação com Inês, chegam aos ouvidos da sua família que o pressiona, resolvendo o problema...
No futuro, conhecemos Pedro e Inês, que fazem parte de uma sociedade ambientalista e em que a sociedade é dividida entre o grupo ípsilon e o grupo xis. O primeiro é constituído por aqueles que servem, enquanto que o segundo grupo tem a exclusividade da reprodução, e são "nata da sociedade". Pedro, apesar de ter nascido no grupo xis, é despromovido aos ípsilon, enquanto que a sua amada, Inês, se mantém no xis. Até que esta comete o mais grave dos crimes...
É tão bom. Tão magistralmente escrito. Tão inspirador. Tão triste.
Não sei o que se passa, mas ultimamente tenho andado a ler livros tremendamente bons, e este não fica atrás. Já havia lido outras obras de Rosa Lobato de Faria e a minha sorte é que ainda há muitas mais para continuar. A autora era dona de um talento inigualável para a escrita. Lembro-me dela das novelas, mas agora conheço-lhe o dom que tinha para as letras, e a forma maravilhosa como reinventou uma história que todos nós conhecemos das cadeiras da escola.
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