Sei, contudo, que Cem Anos de Solidão vai estar, para sempre, na minha lista mental de livros preferidos de todos os tempos.
Este não é um livro "normal", seja lá o que isso signifique. Abrir - e ler! - Cem Anos de Solidão é descobrir uma obra-prima da escrita.
Mas, vamos por partes:
a "personagem" principal deste romance é a família Buendía, nas suas várias gerações. José Arcadio Buendía e Úrsula, primos, são casados e têm três filhos: José Arcadio, Aureliano e Amaranta. Até aqui, tudo perfeito e tranquilo. A família Buendía é uma das fundadoras de Macondo, "uma aldeia de vinte casas de barro e cana".
Todos os anos, no mês de março, Macondo era visitado por um grupo de ciganos que trazia até a esta pequena aldeia, maravilhas "lá de fora". E, destas visitas cadentes, acaba por nascer uma amizade entre José Arcadio Buendía e Melquíades - que apesar de morrer algures a meio do livro, irá estar presente até à última página.
O que assistimos em Cem Anos de Solidão é à ascensão, tragédias e infortúnio de sete gerações da família Buendía, a par do crescimento e queda da própria aldeia.
Ao longo das gerações, Úrsula é das poucas personagens que vai sobrevivendo; estima-se que terá morrido com uma idade a rondar os 115 e os 122 anos. Bem como os escritos de Melquíades, que aos poucos, vão sendo traduzidos pelas gerações de Buendías.
Vemos filhos, pais, netos e avós a passarem pelos anos, a morrerem de velhice ou assassinados, e a quase nunca verem os seus desejos concretizados. Vemos relações familiares que não se descobrem e que se confundem numa era que os registos eram subvalorizados e que a memória não era algo cultivável.
No final, quando resta um único descendente de José Arcadio Buendía, apercebemo-nos que Melquíades previu todos os destinos dos muitos personagens deste romance soberbo, com cem anos de antecedência. Mesmo o da criança que nasce com rabo de porco, fruto da consanguinidade.
Esta minha "review" é tão absurdamente simples que até me envergonha, confesso. Este é um daqueles livros que não se pode ler apenas uma vez, até porque a rep
etição de nomes é tanta que teremos de ler de novo e de novo para "apanharmos" pormenores mais escorregadios.
A última frase do livro:
"No entanto, antes de chegar ao verso final, já tinha percebido que não sairia nunca desse quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no momento em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergaminhos, e que tudo o que neles estava escrito era irrepetível desde sempre e para sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a Terra."
Cem Anos de Solidão é o 17.º livro que termino em 2018.
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