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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Lido: História da Menina Perdida, de Elena Ferrante

Terminei a "série napolitana", a tetralogia de Elena Ferrante que segue Lila e Lenu ao longo de 70 anos.

No 1.º livro, sabemos que Lenu está a escrever, retrospetivamente, uma história sobre a amizade que a une a Lila. É o seu ponto de vista, após o desaparecimento da sua velha amiga. Desaparecimento esse que, apesar de a preocupar, não a deixou surpreendida. E é explicando essa falta de surpresa que começa a contar/escrever a história de ambas.

Neste último livro, Lenu volta para o bairro que a viu nascer. São muitas as partidas "pensadas" pelo destino e Lenu, apesar de se querer afastar de Lila, a incrível atração que existe entre elas desde tenra idade, não as deixa apartadas durante muito tempo. Acabam, inclusivamente, por engravidar ao mesmo tempo, reforçando ainda mais aqueles laços. Mas, um cenário que se pensava idílico não permanece assim muito tempo e as coisas más ainda agora começaram.

Durante a leitura desta saga, debati-me com uma questão: equipa Lenu ou equipa Lila? Sempre me identifiquei com a faceta estudiosa e tranquila de Lenu, mas não suportava a sua capacidade de se subvalorizar e de procurar a constante aprovação de todos aqueles que ela julgava superiores. Ela colocava num pedestal pessoas que, ao fim e ao cabo, não mereciam tanto e colocava-se em situações altamente constrangedoras para obter um sorriso ou uma palmadinha nas costas.

Lila, sem estudos sequer comparáveis aos de Lenu, era a vivacidade, a energia, a esperteza e a inteligência puras... Lila sabia-se inteligente, mas não fazia caso disso. Lina era sagaz e aproveitava-se disso. E era, em parte por isto, que também não consegui amá-la a 100%. Lila era isto tudo, mas também maliciosa. Não hesitava em aferroar alguém. Dizia maldades com o propósito de magoar e depois fingia que estava tudo bem.

Ambas sofreram dores muito diferentes. Ambas, durante toda a vida, apenas puderam contar uma com a outra. Ambas, apesar de todas as diferenças, procuravam a outra quando precisavam.

Custa-me terminar esta série. Esta criação de Elena Ferrante é um golpe de génio. Seja Elena Ferrante quem for, homem ou mulher, nova ou com alguma idade, italiana ou não... deverá sentir-se orgulhosa do que escreveu. A humanidade das personagens com todas as qualidades e defeitos, o pormenor de cada descrição são coisas de quem sabe realmente escrever e contar estórias, de uma maneira simples e complexa ao mesmo tempo.

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