Este é o 3.º capítulo da série napolitana escrita por Elena Ferrante. Há medida que vou passando as páginas e, sem surpresa, me vou aproximando do fim desta saga, aparecem-me umas pequenas câimbras no estômago.
Neste terceiro livro da tetralogia, Lenu e Lila já são adultas. Lila já passou por aquilo que os brasileiros descrevem como "o pão que o Diabo amassou", enquanto que Lenu, depois de uma infância e adolescência miseráveis, se vê chegar à adultez da vida com privilégios e sem quaisquer problemas.
Encontramos as duas já nos seus trintas, com filhos, mais maduras, mas ainda com aqueles traços que tanto as definem. Neste livro, estamos nos anos 70 e são muitas as tensões sócio-económicas a abalar o organismo vivo que é esta comunidade de personagens que temos vindo a conhecer. Porque os acontecimentos não atingem apenas Lenu ou apenas Lila. Agora há filhos, mas também há pais, há irmãos, há outros amigos, há empregos...
Quero tanto falar deste livro, mas, ao mesmo tempo, tenho de me conter, porque não sei quem desse lado já leu ou tem a intenção de o fazer.
Desde o primeiro livro que tenho vindo a tentar descobrir de qual das duas protagonistas gosto ou não gosto. E continuo sem saber. À sua maneira, ambas de agradam e desagradam. Tenho a sensação que Elena Ferrante sabe demasiado da natureza humana e que Lenu e Lila podiam ser qualquer pessoa.
Terminei este livro numa ânsia, porque, mais uma vez, a autora criou um cenário de tal verosímil que me fez sentir mal fisicamente pelo rumo que as coisas estão a tomar.
A determinado ponto, ao ler o ponto de vista da outra, pensava "pois, faz sentido" quando anteriormente a havia "julgado". Ao terminar, ia balbuciando "não, não faças isso... vai correr mal!", como se me pudessem ouvir e repensar aquele ato.
Às vezes, ler é um ato de auto-mutilação. Um ato sacrificial auto-infligido. Um momento de dor que queremos e vamos dar a nós próprios. Nem pensar que isto possa ser uma sugestão para não se ler... pelo contrário! A História de Quem Vai e de Quem Fica é de tal maneira envolvente que, mesmo sofrendo com o destino destas pessoas em papel, queremos mais e mais e vamos ficando tristes e alegres com cada derrota ou cada vitória.
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