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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Lido: A redoma de vidro, de Sylvia Plath

Nunca tanto como agora se falou de saúde mental. No dia em que escrevo este texto, saiu um estudo promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), em parceria com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental que concluiu que mais de um terço da população e quase metade dos profissionais de saúde inquiridos manifestaram sinais de sofrimento psicológico, como ansiedade, depressão ou stress pós-traumático, com especial incidência naqueles que tratam doentes Covid-19. 

Mas, os problemas da mente são mais antigos do que o coronavírus. O livro que li A redoma de vidro (PT-BR)/A campânula de vidro (PT-PT) de Sylvia Plath versa exatamente sobre esta temática. Nunca havia lido esta autora e deparei-me com ela quando procurava uma obra sobre saúde mental - um dos desafios da maratona Estações Literárias. 

Seguimos Esther, uma jovem de Boston que se encontra em Nova Iorque num estágio numa revista feminina. Assistimos ao trabalho que desenvolve, bem como à intensa vida social que mantém com as outras estagiárias, nas noites nova-iorquinas. 

Até que o Verão acaba, e Esther volta para casa. A bolsa de estudos para a qual se candidatou e Esther vê-se, de repente, sem planos e sem perspetivas. Daí até à manifestação de comportamentos depressivos vai um pulinho e Esther dá entrada numa clínica, onde, diariamente convive com outras pessoas com patologias semelhantes. 

A forma como o livro está escrito é de tal forma intimista que parece que estamos a ler o diário da autora. E a verdade é que após esta leitura, em pesquisas, descobri que é uma obra quase autobiográfica, baseada em acontecimentos do verão de 1953 quando Sylvia Plath foi, efetivamente, internada numa clínica psiquiátrica, depois de uma tentativa de suícido. 

Mas, é muito mais que isso. Este livro fala sobre a condição feminina, as escolhas que se fazem ao longo da vida e que definem a Mulher: o (não) querer ser mãe, o dar prioridade à carreira, a liberdade sexual, a abstinência, o abuso sexual, etc...

É um livro que nos apresenta a doença mental sem paninhos quentes. Fala sem "mimimis" de suícido e de choques elétricos como terapêutica. É quase cruel. Dei por mim, às vezes, a querer tapar os olhos, mas sem conseguir largar o texto. Muito interessante e recomendável a 100%. 

Sylvia Plath suicidou-se, aos 30 anos, em 1963, pouco tempo depois de se ter queixado que os seus episódios de depressão estavam a piorar. Plath debatia-se com insónias severas, excesso de medicação, pensamentos suicidas, agitação e considerável perda de peso. Nicholas Hughes, o filho mais novo de Sylvia Plath, suicidou-se, em 2009, aos 47 anos. Também sofria de depressão. 

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