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terça-feira, 24 de março de 2020

Lido: Ouro Preto, de Sérgio Luís de Carvalho

Último livro em "atraso". Tecnicamente, é o único que não tem a opinião muitoooo atrasada, comparativamente com O Monte dos Vendavais, por exemplo. Ouro Preto foi o 3.º livro do autor que leio. E, infelizmente, foi o que menos me impressionou. Gostei de o ler, dei 4 estrelas, mas mais pelos factos históricos que pude conhecer do que propriamente pelo livro em si.

A estrutura do livro era simples e repetia-se: carta de Pedro Rates Henequim, carta de Alexandre de Gusmão e terminava com alguns factos da Gazeta de Lisboa, editada por José Freire Monterroio Mascarenhas.

Aparentemente, não estando interligadas, à medida que vamos avançando no tempo, percebemos que os escritos de Henequim e de Gusmão vão acabar por se encontrar.

Pedro Rates Henequim nasceu em Lisboa, mas acabou por ir parar ao Brasil, onde permaneceu durante 20 anos. Bastante religioso, Henequim acredita que o Brasil é o Paraíso e que os brasileiros são uma das tribos perdidas de Israel. Ao regressar a Lisboa, pretende tornar-se padre e proclamar, do seu púlpito, esta sua verdade. Mas, as coisas não correm como previsto, e acaba detido pela Inquisição.

Alexandre de Gusmão é o secretário do Rei D. João V, e escreve com frequência ao seu mentor, e amigo, o embaixador português em Paris, D. Luís da Cunha. Descreve-lhe ao pormenor os problemas de saúde do Rei, as confidências que este lhe faz, bem como as jogadas de bastidores para assuntos da Corte, a relação do Rei com a Rainha, com as suas amantes, e os irmãos.

Até que os relatos de ambos se encaminham para um percurso comum.

Comecei a ler este livro numa altura em que estávamos entre visitas a casas. Em 2017, estivemos numa busca semelhante que acabou por não se concretizar, e agora, com o surto, tivemos de suspender... mas dizia, comecei a ler este livro, no momento, em que a pandemia se instalou, e apesar de tudo, andava ansiosa e demorei a entrar no livro. E a estrutura - que descrevi um bocadinho mais acima - também não me seduziu por aí além...

É um livro muito interessante, historicamente falando, mas de Sérgio Luís de Carvalho já li melhor, do pouco que me passou pelas mãos - relembrem aqui "O Rinoceronte do Rei".

Não quero dizer para não o lerem, atenção: este livro dá uma perspetiva fantástica da subida de D. João V ao trono e de como o ouro e as pedras preciosas do Brasil eram "estoiradas" no jogo das aparências da Corte portuguesa: as roupas que tinham de vir de França, as construções megalómanas, o viver acima das possibilidades... é um retrato brilhante da época, mas senti-me, muitas vezes, distraída e a perder a concentração naquilo que estava a ler. Não sei se era o formato da narrativa, se era a linguagem, até dou de barato ser a minha própria ansiedade... ou se era tudo somado. No fim, o autor faz uma nota onde nos fala sobre o que é real e o que é ficção - que achei interessante.

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