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domingo, 22 de março de 2020

Lido: Memórias de Branca Dias, de Miguel Real

Esta leitura contou para o projeto "Português é bom" das Maria Joões - o link leva ao vídeo publicado pela Maria João Covas, com data de janeiro, a apresentar o projeto. 

Depois de ter lido "Preciosa" de Nelson Nunes, "O Segredo dos Bragança" de Ricardo Correia... eis-nos chegados à letra "R". Inicialmente, previa ler Rosa Lobato Faria (tenho aqui A Trança de Inês em lista de espera), mas como tinha ido à biblioteca, "aproveitei" um dos livros trazidos.

Miguel Real é sintrense e, pelo menos, duas pessoas disseram que ele havia sido seu professor durante os tempos da secundária em Mem Martins. Nunca tinha lido nada dele. Aliás, a não ser por circunstâncias profissionais, nunca me tinha cruzado, antes, com o nome dele em nenhum escaparate de uma livraria. Assumo que ande distraída. 

Memórias de Branca Dias é um livro contado na 1.ª pessoa. Branca Dias é judia, e depois de denunciada à Inquisição, é presa no Palácio dos Estaus - no local onde é hoje o Teatro Nacional, no Rossio, em Lisboa - até que consegue embarcar para o Brasil, onde já está o marido, Diogo Fernandes. 

De Branca Dias, a História mistura-se com a Lenda, e o que se sabe é que foi a primeira mulher portuguesa - de Viana do Castelo - a manter um local de culto judaico na sua propriedade, a primeira "mestra laica de meninas" e uma das primeiras "senhoras de engenho". 

Neste livro, acompanhamos Branca desde a sua juventude, até à sua velhice em Olinda. Para escrever este texto, fui consultar um pouco mais sobre Branca Dias, e descobri que, ainda hoje, descendentes desta mulher fazem parte da nossa História Moderna, como a cantora Marisa Monte ou o político brasileiro Ciro Gomes.  

Este livro tem partes muito engraçadas, que são despertadas pelas mais variadas razões, desde a "costela" de Viana de Branca Dias, à mudança para o Brasil quando ela queria ir para a Holanda, a extensa família, incluindo uma enteada... 

Por outro lado, conta-nos as dificuldades dos primeiros colonos portugueses num território como o Brasil. Era-lhes vendida uma imagem que chegados lá, não correspondia. E por outro lado ainda, fala-nos de um tema que não é muito lido: a escravatura. Branca Dias, depois da morte do marido, tem de "tocar para a frente" o engenho de açúcar e lidar com capatazes sádicos e com os próprios escravos. 

A história de Branca Dias, pelo que entendi, é bastante conhecida no outro lado do Atlântico, e, se não fosse aguçada pela curiosidade em ler Miguel Real, nunca teria acesso a este pedacinho de História portuguesa e brasileira. O livro é pequenino e lê-se muito bem. A linguagem, apesar de tentar ser o mais fiel possível ao século XVI, é acessível. E, dá para rir um bocadinho, com certas posições que Branca assume, ou quando faz agradecimentos - às vezes, patéticos - à avó, há muito falecida. 

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