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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Lido: A Mão de Fátima

Já andava a ler A Mão de Fátima há meses. As minhas "férias" forçadas no hospital deram um "boost" às minhas leituras, por falta de melhor que fazer. Cerca de 14 horas, por dia, sem fazer nada... é significativo, convenhamos.

A Mão de Fátima é interessantíssimo. Só andava a "engonhar", porque se trata de um livro realmente muito grande (920 páginas), com muitos factos, muitas personagens, e um personagem principal que tinha bicho carpinteiro e deve ter percorrido - ora de burro, ora a cavalo, ora a pé - toda a Andaluzia.

Para o Livropólio, maratona literária que termina a meio de fevereiro, considerei A Mão de Fátima como um romance histórico.

Lembram-se quando disse, sobre As Flores de Lótus do José Rodrigues dos Santos, que era um autêntico tratado histórico?! A Mão de Fátima, nesse aspeto, é igual. Hernando é o nosso protagonista. Fruto de uma violação de um padre católico a uma adolescente muçulmana, nunca foi  querido pelo padrasto, nem pela sua própria comunidade, que o apelidava de "nazareno".
Os padres católicos de Alpujaras tomaram-no sob sua proteção, mas, ao mesmo tempo, o alfaqui (o sábio daquela comunidade) Hamid ensinava-lhe os preceitos e as tradições muçulmanos. Hernando cresceu assim, entre duas religiões.

Rebenta uma revolta muçulmana contra os opressores católicos, e Hernando está entre os revoltosos. Durante esse tempo, salva e conhece a jovem Fátima, por quem se apaixona. Contudo, os dois não terão a vida facilitada, dado que o padrasto, Brahim, também a tem debaixo de olho, mais por despeito do que qualquer outra razão.

Nas sombras, na ilegalidade, Hernando continua a professar a sua fé muçulmana, mesmo quando é forçado a apregoar a sua cristandade. Assistimos ao crescimento de um adolescente até à sua 3.ª idade, com todas as quedas e todos os conflitos, e à coleção de inimigos que foi colhendo no seu percurso.

A Mão de Fátima dá-nos imensos detalhes sobre a revolta muçulmana, e sobre a História desta religião em território espanhol. Gostei muito. Havia partes em que o autor podia ter atalhado e encurtado caminho? Sim, havia. Creio que muito foi dito, muito foi contado, muito foi descrito... atenção que é um livro fabuloso, mas li demasiadas descrições de paisagens que podia ter sido excluídas ou detalhes que podiam ser encontrados em livros de História, que seriam dispensáveis num romance.

Por outro lado, foram as descrições dos massacres que me colavam a retina às "páginas" (li no Kindle): a crueldade que, ambos os lados da barricada, empregavam quando se tratava de lidar com o outro... foi assim qualquer coisa.
Hoje, fala-se muito dos níveis extremos de violência e preconceito, mas, na minha humilde opinião, o fenómeno de "aldeia global" é que veio tornar as coisas mais conhecidas, porque nos séculos XIV, XV e XVI, os enforcamentos públicos, as imolações, decapitações, tortura gratuita - e isto já sem ir à parte da escravatura e das violações... ó senhores, sem comentários!!!

Gostei, verdadeiramente, muito deste livro. Só não dei 5 estrelas, porque é um livro que, se não estivermos verdadeiramente concentrados nele, escapa-nos sempre algo. É muito grande, e como disse antes, muitos personagens que vão entrando e saindo, outros morrem (de morte natural ou assassinados, é "indiferente), muita História, muitos factos... a história de amor está lá, presente numa parte substancial do livro, mas, houve alturas em que, sinceramente, quase me esquecia dela, com tudo o que se "passava" à minha "volta".

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