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sábado, 8 de setembro de 2018

Lido: 2666, de Roberto Bolaño

Nunca um livro me deu tanto "trabalho" como 2666. Demorei quase quatro meses a lê-lo. Foram 1000 e algumas páginas.

2666 é, definitivamente, o livro mais complicado que alguma vez me passou pelas mãos. Algumas vezes (não poucas) pensei em colocá-lo de lado, mas olhava para o tempo já "gasto" e continuava a avançar.

Algumas vezes (não poucas) pensava "onde é que ele quer chegar com isto?", mas com calma e paciência, cheguei ao fim e as pontas uniram-se.

2666 foi o último livro escrito por Bolaño, antes de falecer em 2003, o que lhe dá uma aura de "incompleto", mas sem o estar. No fim, naquela última página, não ficamos desiludidos.
De acordo com o que percebi, 2666 está estruturado como se a ideia fosse serem romances independentes, com uma linha condutora comum: o assassinato de mulheres em Santa Teresa, uma cidade mexicana, junto à fronteira com os Estados Unidos da América (a cidade é transposição ficcional de Ciudad Juárez).

No início, temos quatro académicos - uma inglesa, um italiano, um espanhol e um francês - especialistas na obra do misterioso autor alemão Benno von Archimboldi.
Archimboldi, apesar da longa obra publicada, mantém-se longe dos holofotes da fama (cada vez mais) crescente. E esse espectro de mistério que faz com que os quatro o tentem encontrar. Assim, dão por si a viajar para o México, último lugar onde supostamente Archimboldi teria sido avistado. Entre os quatro começam a nascer relações cada vez mais distantes daquilo que os tinha unido em primeira instância. Aqui, começam as primeiras notícias de mulheres assassinadas.

Depois, no capítulo seguinte, temos Amalfitano, um professor, transferido para a Universidade de Santa Teresa, que se faz acompanhar da filha, Rosa. O seu maior receio é que Rosa se torne mais uma vítima.

O capítulo seguinte fala-nos de um jornalista afro-americano, que vai ao México para cobrir um combate de boxe, apesar de "Desporto" não ser a sua área de especialidade. Lá, conhece um camarada mexicano que lhe chama a atenção para os assassinatos. Conhece também Rosa (a jovem do capítulo anterior), e o pai paga-lhe para levar a jovem para os EUA. A última vez que sabemos deste jornalista é quando ele vai a um estabelecimento prisional entrevistar o único suspeito detido dos assassinatos, Klaus Haas.

O quarto capítulo é o dos assassinatos propriamente ditos, até à prisão de Haas. São muitos assassinatos. Umas mulheres são identificadas, outras não, que acabam por ir parar a uma vala comum. 112 mulheres mortas em Santa Teresa no espaço de quatro anos, para sermos mais exatos.

No último capítulo, assistimos ao nascimento de Benno von Archimboldi, até ao momento em que as pontas soltas de todos estes capítulos se unem.

Como disse antes, 2666 tem um total superior a 1000 páginas e é dono e senhor de uma complexidade que poderá não estar ao alcance de todos. Demorei a engrenar... talvez por isso tenha demorado quatro meses (menos quatro dias) a terminá-lo. Cansava-me, e pegava noutro livro. Voltava a 2666. Cansava-me e via uns quantos episódios de uma qualquer série de seguida. Voltava a 2666. Cansava-me e dormia a sesta.

Todos estes apartes, 2666 é um livro bom. Muito bom. Percebe-se porque é considerado dos melhores livros em língua espanhola dos últimos 25 anos.

2666 é um livro publicado em 2004, já depois da morte do seu autor.

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