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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Lido: O Triunfo dos Porcos, de George Orwell

(não se vão habituando a isto de ter o blogue sempre atualizado que, se bem me conheço, mais umas
semanas e começa, de novo, a descambar)

O Triunfo dos Porcos é um daqueles livros que tem estado na lista de leituras a fazer "ad aeternum", mas como os livros, que se saiba, não têm perninhas, ali tem ficado até chegar o dia. Há meses, comprei uma edição da D. Quixote e enfiei-a numa gaveta e... esqueci-me dela. Até que, num dia de arrumações, voltei a dar com ele e coloquei-o bem à vista para não voltar a "fugir". Até que chegou aquele momento tão ansiado por todos os livros: ser, efetivamente, lido.

Os animais da Quinta Manor revoltam-se e conseguem expulsar os humanos que os escravizam há tantos anos. Aos porcos, que aprendem a ler e escrever, cabe-lhes a organização da Quinta dos Animais, mediante sete mandamentos:

1.º - Tudo quanto andar em duas pernas é um inimigo;
2.º - Tudo quanto andar em quatro patas, ou tiver asas, é amigo;
3.º - Nenhum animal usará roupas;
4.º - Nenhum animal dormirá numa cama;
5.º - Nenhum animal beberá álcool;
6.º - Nenhum animal matará qualquer outro animal e 
7.º - Todos os animais são iguais.

Simples, não? A resposta é não. Inicialmente, a vivência é tranquila e, realmente, existe um período de efetiva igualdade, mas o tempo passa, as diferenças entre os animais acentuam-se e aquela idílica comunidade acaba por, aos poucos, se ir fragmentando. Nasce uma nova hierarquia e ... "todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros". 

De certa forma, em alguns momentos, enquando lia este livro, vi passagens do "1984" na minha cabeça. Por exemplo, quando os porcos começam a "editar" os sete mandamentos, consoante lhes é mais favorável, sem qualquer oposição dos outros animais que, entretanto, se iam esquecendo da "semente" da revolução levada a cabo. E mesmo a forma como os porcos conseguem manter o controlo da população, com recurso à violência. 

Publicado durante a 2.ª Guerra Mundial, este livro chegou a ser recusado por vário editores. Nesta edição, num prefácio escrito pelo autor, este faz referência a uma carta que recebeu e que diria: "Se a fábula fosse dirigida aos ditadores de uma forma geral e às ditaduras no seu todo, nesse caso a publicação seria adequad, mas a fábula segue de tal maneira e de forma tão completa, como agora me afigura claro, o progresso dos Sovietes Russos e dos seus dois ditadores, que só pode aplicar-se à Rússia (...) Penso que a escolha dos porcos como casta dirigente ofenderá, por certo, muitas pessoas, particularmente as mais suscetíveis, caso em que indubitavelmente se incluem os russos". 

E Orwell não nega que a inspiração para esta fábula fosse a ascensão ao poder por parte de Estaline e a total subversão dos valores e dos ideais que levaram à própria Revolução. 

Não lamento não ter lido este livro antes. Mais uma vez, considero que foi lido no momento certo, especialmente, quando na Europa democrática, hoje, temos partidos de teor mais extremista a sair para a luz do dia. 

Foi um livro muito... elucidativo, para dizer o mínimo. É um livro curto - tem 127 páginas, se excluirmos a inclusão dos dois prefácios - e lê-se muito bem, mesmo num fim-de-semana de preguiça. E recomendo-o, especialmente, aos mais velhos dos mais novos; ali, aquela geração, a roçar os 17/18/19, que já não são tão impressionáveis e que apreendem, com facilidade, os conceitos (e os perigos) que Orwell quis transmitir. 

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