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sexta-feira, 28 de junho de 2019

Lido: O Cônsul Desobediente, de Sónia Louro

Já tinha este livro na mira há imenso tempo. Desde o 1.º dia em que me tornei leitora na biblioteca municipal, reparei que estava nas estantes e já o tive na mão, um par de vezes, para o trazer.

Até que chegou o dia.

O que eu sabia de Sousa Mendes era o básico: cônsul algures em França que, desobedecendo, a ordens de Portugal, passou vistos indiscriminadamente, salvando, assim, uma "catrefada" de judeus dos nazis. E era isto. Um apontamentozinho de nada era tudo o que eu sabia. Uma nota de rodapé, no fundo. A nossa disciplina de História é, realmente, muito básicazinha, benz'a Deus...!

Falando do livro. Adorei a escrita da Sónia Louro, e a quantidade de fontes que ela foi "beber" para ser o mais fiel possível aos factos. O livro tinha imensas notas de rodapé que, quando as comecei a ver, ia-me dando um achaque, mas depois percebi que, muitas delas, eram essenciais à boa compreensão do que lia.

Este livro é quase uma biografia, não fora estar romantizada, e dependente de testemunhos de terceiros, já que nenhum dos envolvidos está vivo para contar os factos tal como aconteceram.

Aristides de Sousa Mendes licenciou-se em Direito, com o seu irmão gémeo, César que - fiquei a saber - também fez carreira diplomática... aliás, tanto Aristides, como César apresentaram-se juntos, em Lisboa, no Ministérios dos Negócios Estrangeiros.

A carreira de Aristides foi evoluindo até que chegou a Cônsul de 1.ª Categoria (com "n" repreensões pelo caminho, das mais diversas naturezas), e foi colocado, em 1938, em Bordéus. Até que a invasão nazi acontece em França.

Sentindo-se assoberbado com o número de pedidos de vistos, a ver as tropas alemãs a aproximarem-se, e conhecendo a realidade, Sousa Mendes, durante vários dias, carimba passaportes e permite passagem à revelia daquela que era conhecida como a "Circular 14" que proibia os consulados de passarem vistos, a não ser que o requerente tivesse bilhete de saída de Portugal e autorização de entrada noutro país. O que claramente não acontecia, como é óbvio.

Em 1940, começa o calvário. Sousa Mendes é castigado: um ano com metade do salário e, posteriormente, aposentação. Mas, Aristides tinha 14 filhos (mais uma bastarda que só foi perfilhada depois de Sousa Mendes ter enviuvado de Angelina, e casado com a mãe da menina), e as dificuldades económicas eram mais que muitas.

Ao longos dos anos, lemos as mais variadas tentativas de Sousa Mendes e da família de tentarem reverter o castigo que acabou, indiretamente, por afetar toda a gente: os filhos não encontravam colocação para trabalhar e foram forçados a emigrar, o irmão também teve dificuldades...

E é tudo isto, e muito mais que Sónia Louro nos apresenta. Sou sincera: várias vezes, me senti de peito apertado ao ler tudo o que se passava com esta família. Só nos anos 80, com Mário Soares é que começou a ser feita justiça a este homem. O último reconhecimento, em 2016, foi a elevação, a título póstumo, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade por Marcelo Rebelo de Sousa, 

Sousa Mendes morreu, na mais completa miséria, em 1954... 

(leitura a contar para o Book Bingo Leituras ao Sol - livro, cujo título, tenha as letras S-O-L)

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