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sexta-feira, 19 de julho de 2019

Lido: Cisnes Selvagens, de Jung Chang

Mais uma vez, atrasei-me na atualização das leituras realizadas. Desde a última postagem, a 5 de julho, já terminei dois livros, entre os quais este maravilhoso Cisnes Selvagens.


"Precisava" de um livro para a categoria "China" da maratona Volta ao Mundo em 15 Citações. Comecei a ler um de ficção científica - Three Body Problem, de Liu Cixin (e descobri, agora mesmo, que há um filme chinês de 2016, baseado neste livro) - mas não estava a conseguir entrar na história e acabei por o colocar de lado. 

Ouvi algures, em alguma altura da minha vida, alguém a falar dos Cisnes Selvagens (a minha memória funciona assim, ultimamente!). Procurei no catálogo da biblioteca e tinham-no. Trouxe-o na visita seguinte e não me arrependi minimamente. 

Que livro maravilhoso. Foram 5 estrelas, de caras... seriam mais, se o Goodreads assim o permitisse. Acompanhamos a História da evolução da China dos imperadores até à China de Mao Zedong (estou a usar a forma escrita no livro). A autora conta-nos a história da avó materna, da mãe e a sua própria num tempo que vai desde 1924, quando a avó se torna concubina de um poderoso general, até meados dos anos 70, quando a própria autora ganha uma bolsa de estudos, e sai da China, após a morte de Mao. 

É um brutal murro no estômago. Se os livros sobre o Holocausto são de uma brutalidade e deixa-me fisicamente doente ler algumas descrições de como os presos eram tratados e torturados, a arbitrariedade da morte... este, não é menos mau. A forma como certos "opositores" ao regime comunista de Mao eram mortos era completamente louca. Bastava uma denúncia vaga, uma vingança pessoal entre vizinhos que não se davam particularmente bem, ou por ciúmes, por exemplo... era o suficiente para toda uma família ser brutalmente castigada!

As crianças eram, desde o berço, doutrinadas a crer que o presidente Mao era o grande e poderoso de todo o Mundo. E que o Ocidente era um terrível buraco negro de miséria, depravação, fome e pobreza. 

Os próprios pais da autora foram torturados, exilados... e mesmo assim, o nome do pai só ficou totalmente limpo de acusações, alguns anos após a sua morte. Só desta forma é que Jung Chang se pode candidatar a uma bolsa em Inglaterra. 

Aconselho vivamente esta leitura. É um retrato poderosíssimo de um regime que conhecemos tão, mas tão mal... é uma obra magistral. Lindamente escrita. Sem paninhos quentes. A autora reconhece, várias vezes, a sua ingenuidade e acompanhamos o seu crescimento e o seu "abrir" de olhos à medida que os anos iam passando. O livro, publicado no início dos anos 90, é um documento-testemunho de uma China onde ninguém gostaria de regressar. 

Cisnes Selvagenes foi uma leitura a contar para a maratona, como já havia dito, e também para a categoria "Autor que nunca leste" do Book Bingo. 

Citação escolhida: 
"Ele não precisava de ter morrido. E, no entanto, a sua morte parecera tão inevitável. Não havia lugar para ele na China de Mao, porque tentara ser um homem honesto. Fora traído por algo a que dedicara toda a sua vida, e a traição destruíra-o"

3 comentários:

  1. Olá, Cristina!
    Também tenho este anotado para trazer da biblioteca e, agora com a tua fantástica opinião, quero lê-lo ainda mais! Leio muito pouca coisa escrita por asiáticos e sobre os países de lá e quero mesmo colmatar essa falha!
    Obrigada por me relembrares de que este livro tem que ser lido ainda este ano!
    Beijinhos!

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  2. Ai, Ana.... Lê, vais adorar. Além de uma lição de História, é também a história de uma família - a tua cara, portanto!

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