Páginas

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Lidos: não ficção que me passou pelas mãos

Na categoria "não ficção", li duas excelentíssimas senhoras: a ex-primeira dama dos EUA, Michelle Obama e a vencedora do Nobel da Literatura em 2015, Svetlana Aleksievitch.

Falando, por ordem cronológica. No início de setembro, uma das minhas tias emprestou-me o livro "Becoming" de Michelle Obama. Há uns tempos, este livro foi super-badalado, mas continuava impassível na minha lista (havia tantos outros em lista de espera que, este, era mais um). 

A minha tia emprestou-mo, portanto, e fui rápida a aceitar. E, que maravilha de livro! Michelle Obama conversa com o seu leitor. Não estamos a ler. Estamos sentados numa mesa de café, ou num daqueles almoços que se prolongam até ao jantar, com a nossa amiga Michelle, a conversar. Ela fala sobre a sua infância até... spoiler alert... sair da Casa Branca, depois da eleição de Trump. Fala sobre os seus sonhos, os desafios pelos quais passou, vangloria-se (e com toda a justiça!) das suas conquistas, fala do amor e, consequente, casamento com Obama e das dificuldades sentidas, enquanto casal, quando ficou decidido que ele se iria dedicar à política. 

É um excelente livro - calhamaço, mas excelente! A linguagem usada é mais do que acessível a qualquer leitor, e, no final da leitura, é impossível não sentirmos mais do que admiração por esta mulher. 

Svetlana, por outro lado, é sempre um desatino de ler, devido ao conteúdo dos depoimentos que a autora
partilha connosco. Dela, já li "A guerra não tem rosto de mulher" e "Vozes de Chernobyl". Ambos foram um murro no estômago para as pessoas mais sensíveis. Se no primeiro, Svetlana abordou a importância da presença feminina durante e após a 2.ª Guerra Mundial, e ao mesmo tempo, o desprezo a que algumas das mulheres soviéticas foram votadas, no segundo, a atenção foi para aqueles que, de alguma forma, estiveram envolvidos no desastre nuclear em 1986. 

Neste livro, chegámos à decada de 90 do século XX, aquando do desmembramento da comunista URSS e a transformação para democrática Rússia. Todos os prós e contras contados na 1.ª pessoa, por aqueles que tudo perderam - ou por aqueles que ganharam - quando a democracia e o capitalismo ocidental atingiram com a força de um tufão a sociedade soviética fechada sobre si mesma e sobre os interesses do Partido dominante, na época. 

Mais uma vez, Svetlana Alexijevich não desiludiu. Os relatos que descreve são tão profundos, tão verdadeiros que sentimos, efetivamente, a dor daquelas pessoas. As entrevistas foram conduzidas ao longo de anos, e percebemos que além do trabalho de campo, a autora investiu muito do seu sentimento junto das pessoas que abordou. Mais um livro recomendadíssimo. 

Sem comentários:

Enviar um comentário