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terça-feira, 26 de julho de 2022

Os calhamaços desta vida: Os Luminares, de Eleanor Catton

Quase quatro meses sem vir aqui publicar. Acho que bati, oficialmente, o meu recorde. Ontem, publiquei a post que tinha pendurado desde abril, e que fui empurrando com a barriga. Calhou ter lido a sequência nestes meses, e fiz um "2 em 1". 

Ali, na viragem do 2.º trimestre do ano, andei meio parada nas leituras. Minto, peguei, praticamente, ao mesmo tempo, em dois livros de quase 900 páginas, ambos. Era muita página, eu sei, eu sei... e só lia aquilo. Um romance histórico e um não ficção. Loucura, só pode! Um deles, terminei literalmente na semana passada. 

O primeiro foi Os Luminares, de Eleanor Catton. Este é um livro que, em 2013, venceu o Man Booker Prize. Já aí, as expectativas estavam altas. São 888 páginas de uma obra, no mínimo, surpreendente. Custou-me horrores a entrar no ritmo da história, às vezes, lia várias vezes a mesma página para compreender o que lá estava, antes das 100 páginas, elaborei, mentalmente, uma dúzia de razões para fechar o livro, a história tinha umas 20 personagens diferentes e acabava por as confundir a todas... mas, a verdade, é que não conseguia, realmente, fechar o livro e colocá-lo, definitivamente, de lado. Por alguma razão, continuava a ler, até que acabei por me sentir entusiasmada. Foi uma das leituras mais complicadas que fiz nos últimos anos, mas... adorei. Mesmo. 

A história tem lugar na Nova Zelândia. Há um "boom" na corrida ao ouro e a cidade de Hokitika está a prosperar. Mas, no século XIX, a prosperidade de uma cidade também significa a existência de várias personagens um tanto ou quanto duvidosas. 

Comecemos: no dia 27 de janeiro de 1866, Walter Moody chega a Hokitika e decide hospedar-se no primeiro hotel que encontra. Depois de dar entrada, vai para uma das salas do hotel, onde se encontram outras 12 pessoas, com um comportamento algo estranho. Depois do gelo quebrado, aquelas 12 pessoas, finalmente, decidem contar, à vez, o que as fez reunir-se ali.

Pouco tempo antes, no dia 14 de janeiro, um eremita, Crosbie Wells, é encontrado morto na sua cabana, onde está uma considerável. Quem o encontra é um político local, Alistair Lauderback, que andava em campanha. No mesmo dia, uma prostituta, Anna Wetherell, é encontrada meio morta num vale a caminho da cidade, e um dos homens mais ricos da cidade que a havia contratado, Emery Staines, está misteriosamente desaparecido. Dias depois de todos estes acontecimentos, Lydia Wells aparece na cidade e anuncia ser viúva de Crosbie. Curiosamente, todos estes eventos estão relacionados uns com os outros, e também com Francis Carver, o malicioso capitão do Godspeed, navio onde viajou Walter Moody, com um nome falso. 

Pela voz - e ponto de vista - de cada uma daquelas 12 pessoas, vamos caminhando e construindo uma história que envolve prostituição, consumo e tráfico de ópio, pedras preciosas desaparecidas, tráfico de influências, corrupção e também um pouco de misticismo... e são todos estes ingredientes que fazem deste Os Luminares um dos melhores livros que li nos últimos meses. 

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