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segunda-feira, 25 de julho de 2022

Lido: Imaculada e Tundavala, de Paula Lobato de Faria

Este post é um dois em um. Comecei a escrevê-lo em abril (uuupppsss!!!!) e terminei agora de o editar, depois de ter lido a sequência. 

Imaculada é o romance de estreia de Paula Lobato de Faria (sim, é da família da apaixonante Rosa Lobato de Faria), e, uma excelente estreia, acrescento eu.

Estamos em 1956. Portugal está há 23 anos sob a batuta de António de Oliveira Salazar. Somos apresentados aos Correia, uma família da alta burguesia, que vive numa casa sumptosa e, ela própria, uma personagem do livro, Imaculada. 

Alexandrina, a mãe de família, é cristã e tem a filha, Cristiana, sob grande controlo. As aparências são tudo e nada mais importa. Cristiana tem de ser uma boa cristã, uma filha obediente, virgem até ao casamento, porque só nessas circunstâncias, será uma boa e obediente esposa, tal como as regras o exigem. João é o filho mais velho. Um homem muito bonito, mas algo... "arisco", para ser simpática. A personagem do pai, João Manuel, não é tão presente quanto as anteriores, mas terá um papel relevante nesta narrativa.

Cristiana está noiva de Miguel, um jovem militar, advogado de formação, e melhor amigo do irmão. O casamento está agendado para maio do ano seguinte, e Cristiana está resignada: aquele enlace é o que esperam dela, e não ousa desobedecer a Alexandrina. Aliás, este casamento significará a tão ansiada liberdade de Cristiana, que deixará de estar sujeita à educação ultra-conservadora da mãe. 

Estamos no Verão, e Cristiana vai, como habitualmente, passar férias com a melhor amiga, Ana Maria (namorada do irmão João). A família de Ana Maria é uma cópia dos Correia, ficando Alexandrina "descansada" quanto à virginal Cristiana. 

Porém, num casamento a que assiste, Cristiana conhece Nils, um jovem luso-norueguês, por quem cai de amores. Tudo fica em dúvida: a obediência à família, o casamento com Miguel... Cristiana fica de rastos com o peso na sua consciência, mas não consegue deixar de ansiar pelo misterioso Nils. Misterioso, Cristina Maria? Sim. Misterioso. Nils pertence a um grupo que se opõe à ordem estabelecida pelo regime e que apoia Humberto Delgado nas suas pretensões à Presidência, daí a dois anos. 

Por outro lado, temos Lourença. Uma personagem com quem simpatizei mais do que propriamente com a protagonista. Lourença é prima de Cristiana, e é o seu oposto. Alegre, livre, descomplexada e impulsiva, Lourença é orfã. Os pais morreram em África e só ficou ela e a irmã Isabel, aos cuidados de Lucrécia, a tia solteira, e da menina Rita, a governanta. 

O leitor é informado que a história é baseada em factos reais, o que nos deixa com "a pulga atrás da orelha" e é mais fácil ainda sermos atraídos para a saga de Cristiana... e todas as outras mulheres. 

Após a leitura de Imaculada, facilmente se segue para a sua continuação, Tundavala. 

Neste livro, temos uma Cristiana já casada com Miguel, e com filhos, e Lourença "desapareceu" em África. Não está propriamente desaparecida, mas voluntariou-se como enfermeira para Angola, para perto do local onde os pais terão morrido, e tem pouquíssimo contacto com a família na metrópole. 

Cristiana descobre vários podres de Miguel, e, na ânsia de tentar desvendar todos os segredos que envolvem o casamento, acaba por reencontrar Nils, que está exilado. A chama da paixão juvenil renascerá? 

O livro termina após a Revolução de Abril de 1975, mas ainda temos "tempo" para o cheirinho de um dos maiores escândalos em Portugal - Ballet Rose, um caso de prostituição e de abuso de menores por altas figuras do Estado, que António de Oliveira Salazar tentou abafar a todo o custo. 

pessoalmente, achei esta sequência uns pontos abaixo do 1.º livro. Apesar de continuar muito bem escrito, achei algumas passagens demasiado chatas e os diálogos forçados... pareceu-me, muito sinceramente, que a autora se deixou levar mais pela rigidez formal do trato dos anos 60/70 e não pela fluidez da história que pretendia contar. 




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