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quarta-feira, 19 de maio de 2021

Lido: As cinzas de Angela, de Frank McCourt

Este foi o último livro que li (à data da escrita do post) e ainda estou a remoer. Perdoem-me, portanto, se não tiver um texto bonitinho e bem construído, porque estou a escrevê-lo ainda com o peso dele em cima dos meus ombros. 

Antes de mais, este livro é uma auto-biografia de Frank McCourt e da sua família, apresentada como um romance, narrado pelo próprio autor, enquanto criança. Venceu o Pullitzer em 1997. 

Os pais, irlandeses, estão emigrados nos Estados Unidos e acabam por se apaixonar e casar. Dessa união, surgem filhos. Frank é o primeiro, seguido de Malachy, os gémeos Oliver e Eugene, e uma menina, Margaret. A família passa por muitas dificuldades (são os anos da Grande Depressão), ampliadas pelo alcoolismo do pai. Margaret morre com poucos dias de vida, e, nessa altura, decidem voltar para a Irlanda. Mas estamos em finais dos anos 30, e a pobreza é a regra e não a excepção. 

O pai não arranja trabalho e gasta todos os subsídios nos pubs locais, a família materna também não lhes pode valer, e a morte espreita em cada esquina. A fome é uma constante, bem como as doenças. Frank teve, por exemplo, febre tifóide e quase morreu, e muitos dos seus conhecidos morriam de tuberculose. A mortalidade infantil andava nos píncaros. A comunidade onde estas pessoas (sobre)viviam era de um conservadorismo católico doentio, e isso contribuiu em grande parte para o desespero que a escrita de McCourt espelha. 

Frank e a família viverão a sua pior vida nos bairros pobres de Limerick. Vamos acompanhando o crescimento de Frank desde os 4 anos até aos 19, quando embarca num barco que o traz de volta aos Estados Unidos. 

Ler este livro provoca dores e todo o género de reações físicas e emocionais: é o estômago que se encolhe, são as lágrimas que caem, são os arrepios na nuca, o suor que surge não sabemos bem de onde... não sei ao certo que estava à espera quando comecei a ler este livro, e, muitas vezes, desejava, ardentemente, que fosse tudo ficção e que nenhum ser tivesse de passar por aquilo que as crianças McCourt tiveram de suportar. Chorei, ri com a inocência de algumas passagens, mas, acima de tudo, acreditei na resiliência daquelas pessoas. 

A título de curiosidade: os Cranberries eram, por exemplo, naturais do condado de Limerick, tal como Richard Harris, o 1.º Professor Dumbledore, da saga Harry Potter. 

Este livro foi escolhido para a categoria "livro que componha a palavra F-L-O-R-E-S" (inclui nome do autor e título), para a maratona Estações Literárias. 

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