
"A Ilha das Trevas" é diferente. José Rodrigues do Santos, neste que foi o seu 1.º romance, não caiu no "erro" de romancear personagens, nem situações e contou os factos tal como eles aconteceram. Na nota final, disse ter ficcionado alguns diálogos, mas nada que choque o leitor... são diálogos que podiam ter acontecido exactamente naqueles termos; e a não ser que José Rodrigues dos Santos fosse um ser omnipresente e omnipotente é que poderia saber os diálogos "verdadeiros".
Em "A Ilha das Trevas" acompanhamos a situação timorense desde a saída de Portugal em 1975 e consequente invasão indonésia.
Acompanhamos essencialmente um personagem... Paulino Jesus da Conceição, que logo nas primeiras linhas do romance, vai confessar-se a um padre. Estamos em 2002 e Paulino pretende confessar um crime que cometeu durante a invasão - que havia começado há mais de 20 anos.
Aí recuamos até ao dia 1 da entrada indonésia, com os militares de Jacarta a chacinarem populações, jornalistas estrangeiros... passamos pelo massacre de Santa Cruz... a prisão de Xanana, entre muitos outros episódios sobejamente conhecidos por nós, portugueses.
Confesso que ler este livro foi bastante emotivo. Recordo-me das imagens do massacre do cemitério de Santa Cruz, e das manifestações que decorreram um pouco por todo o País, de forma a pressionar as autoridades a intervirem.
Este livros fez-me arrepiar algumas vezes, devido à violência das descrições de alguns momentos de matança pura, levados a cabo pelos indonésios. Momentos que sabemos terem acontecido, mas que chocam pela crueza com que foram cometidos. Foram estes momentos que ainda hoje me provocam mal-estar quando oiço a palavra Indonésia... o passado não pode ser apagado!
Já li todos os livros do José Rodrigues dos Santos e adorei todos! Já o admirava enquanto jornalista, parece-me uma pessoa excepcional e quando começou a escrever eu comecei (claro) a ler os livros dele. Já os li TODOS e adoro a forma de escrever dele e as tramas.
ResponderEliminarA Ilha das Trevas tem o final mais arrepiante que alguma vez vi em ficção... O pior é que a História de Timor não foi ficção :( ... Como o próprio JRS disse uma vez: não houve um Paulino da Conceição... Houve MUITOS Paulinos da Conceição :(
Antes demais, Boa noite!
ResponderEliminarJá li todos os livros do José Rodrigues dos Santos, mas este tocou-me como nenhum outro o fez.
Trata-se da história de um passado muito recente do nosso país. No entanto, não me lembro com detalhes desse massacre, dado que ainda era muito nova.
Lembro-me sim, do momento em que no comboio, fazendo a viagem Aveiro-Esmoriz, começo a ler a carta que Paulino da Conceição escreveu à sua mulher. Não me costumo emocionar com os livros, mas de facto esta carta marcou-me bastante, tendo eu de controlar com "força de leão" as minhas emoções.