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sexta-feira, 5 de março de 2021

Lido: A Boneca de Kokoschka, de Afonso Cruz

Ainda não li muito de Afonso Cruz, mas o que li até agora, agradou-me. A Boneca de Kokoschka é para ser lido devagar, porque corre-se o risco de perder o comboio. Afonso Cruz divaga um bocadinho - não quer dizer que sejam divagações lunáticas - mas é fácil cairmos na tentação de pensar "onde é que ele quer chegar?". 

Apesar do título, A Boneca de Kokoschka, este é só um pormenor, um link num encadeamento maior de acontecimentos que, por acaso, têm a história do pintor Oskar Kokoschka como pano de fundo. Em 1912, o pintor apaixona-se por Alma Mahler e, juntos, vivem um grande amor. Cinco anos depois, Alma declara que já não quer nada com ele, e separam-se. Em 1918, Kokoschka encomenda uma boneca igual a Alma, que acaba por destruir durante uma festa. Estes são os factos reais. 

E como irá este tétrico episódio unir as pontas de uma história que tem início em Dresden pouco antes desta cidade ser bombardeada, durante a II Guerra Mundial? Isaac é uma criança judia que vê o seu melhor amigo ser morto - evento este que irá marcar toda a sua vida. Foge e esconde-se num abrigo da loja de animais de Bonifaz Vogel. Durante muito tempo, Isaac permanece lá, sendo apenas uma voz na vida de Vogel que desconhece por completo a existência daquele esconderijo. Em fevereiro de 1945, a cidade é bombardeada pelos Aliados. Após o ataque, um surpreendido Vogel vê Isaac sair do esconderijo e fogem. Pelo caminho, encontram Tsilia, outra sobrevivente, e permanecem os três juntos. 

Anos mais tarde, Isaac já um homem, e dono de uma editora, conhece uma estranha figura que lhe propõe publicar aquele que será o seu último livro. E é aí que o mistério se adensa e que Afonso Cruz começa a desenhar uma teia de pessoas e eventos que culminam num emaranhado que não parece ter fim, como por exemplo, a da mulher que se apaixona pelo sobrinho sem saber dos laços de parentesco.  

Não é um livro simples de ler. Aliás, foi por isso que, logo no início, referi que é um livro para ler devagar. A primeira parte do livro, quando conhecemos Isaac, é quase fácil demais, mas à medida que vamos lendo, a complexidade vai aumentando. É um bom livro, que aconselho. 

Incluí este livro nas listas da maratona Estações Literárias (categoria: livro que se passe no Inverno - este tem início, talvez, semanas antes dos bombardeamentos a Dresden que ocorreram no mês de fevereiro, portanto, Inverno) e do projeto Inverno QB (letra B). 

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