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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Lido: Assim foi Auschwitz, de Primo Levi e Leonardo de Benedetti

 Após a 2.ª Guerra Mundial, o exército soviético pediu que Primo Levi e o médico Leonardo de Benedetti, que acompanhou Levi em grande parte do período passado em Auschwitz, escrevessem um relatório sobre as condições do campo. O resultado foi entregue aos soviéticos e, algum tempo depois, publicado numa revista de medicina. Acabou por cair no esquecimento até que, um dia, foi recuperado e reeditado, juntamente com outros depoimentos dos dois italianos durante os julgamentos de oficiais nazis. 

Todos esses textos acabaram compilados neste livro. E gostaria de voltar a sublinhar que são relatórios e depoimentos, textos onde o sentimentalismo não tem lugar. São textos objetivos, frios, tão analíticos como um relatório pode (e deve) ser. 

A maioria dos livros sobre Auschwitz - os tatuadores e carteiros, bailarinas e fotógrafos desta vida, ou os mágicos, ou as irmãs - ou são ficção pura e dura, ou baseados na vida de um (ou mais) sobrevivente(s). Não digo que todos são maus. Mas também não afirmo que são bons. Mas foram feitos para vender num mercado cada vez mais saturado de livros com "Auschwitz" no título. Levi e Benedetti, ambos desaparecidos nos anos 80, não podiam estar mais a borrifar-se para as vendas. O objetivo era alertar as consciências para a verdade dos campos, para o sofrimento que ali se infligia por coisa alguma. 




Não há paninhos quentes. Há factos tal e qual como foram, porque, em primeira instância, nunca houve motivações financeiras por trás destes escritos; apenas a permanência da memória. 

Vivemos tempos difíceis. Dias estranhos. Tempos e dias propícios aos arrivistas, aos Hitlerzinhos de vão de escada que, de forma democrática, vão ganhando o seu espaço nas comunidades onde se inserem. Mais do que nunca é necessário que a História seja mais do que uma disciplina e se assuma como um espaço de sensibilização para estas pessoas que se inspiram nos ditadores do passado não ganhem público junto dos mais jovens que, possivelmente, se deixem seduzir. É preciso falar das coisas certas, para que o errado seja cada vez mais uma excepção. 

Há uma frase que adoro (e já vi em várias versões, mas sempre com o mesmo sentido): "Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados".

Li "Assim foi Auschwitz" para o projeto anual, da Dora Santos Marques, #hol76, e para a maratona Estações Literárias (ainda estou indecida em colocar na categoria "Livro que se passe durante o Holocausto" ou "Não Ficção" - logo se vê!). 

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