Se fosse vivo, José Saramago faria hoje 90 anos.
Uma vénia ao meu autor português favorito.
Já li um punhado de livros de Saramago, mas, sem dúvida, o meu preferido continua a ser As Intermitências da Morte.
Um livro cheio de ironias, críticas e reflexões, mas com um humor cortante e um sarcasmo brilhante.
Muito resumidamente, o livro trata sobre a ausência da Morte. Um dia, cansada de tantas queixas sobre a sua missão, a Morte decidiu que não mais mataria num determinado País.
O caos instalou-se, como será óbvio de deduzir.
Passados alguns dias, a Morte comunica que, a partir dessa data, as pessoas que fossem morrer receberiam uma informação por escrito e que teriam 7 dias para tratar dos seus assuntos pessoais, de forma a deixarem tudo tratado antes de partirem.
Até que uma dessas cartas é devolvida...
Parágrafo final:
"Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu."
O meu livro preferido de Saramago é Memorial do Convento.
ResponderEliminarOlá Tiago. Obrigada pela visita.
ResponderEliminarTambém já li o Memoria. Aliás, foi o último livro que li dele.
É uma obra fantástica, não é?