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sábado, 6 de julho de 2024

Anna Karenina - a derradeira atualização

Terminei Anna Karenina. Comecei ler este livro no dia 21 de Fevereiro e terminei passados 4 meses exatos, a 21 de Junho. Sim, tive este post em rascunho até hoje... Mea culpa! 

Não foi, de todo, uma leitura fácil. Houve alturas em que amaldiçoei a minha triste ideia. Houve alturas em que simplesmente nem olhava para o livro. Houve outras alturas em que li 100 páginas num único dia.

Não sabia nada deste livro. Nunca vi o filme, e conhecia os mínimos olímpicos do enredo: estamos na Rússia dos príncipes e das princesas, e uma jovem nobre casada apaixona-se por um jovem oficial solteiro e existe todo um escândalo. Ponto. Tudo isto era o meu conhecimento sobre a obra.

Anna Karenina é casada há vários anos com Alexei Alexandrovich Karenin, um alto funcionário público. O esposo é muito mais velho que ela é e amor existente naquela relação é muito pouco. O casal tem um filho, Serioja, que é todo o mundo de Anna. 

Numa visita ao irmão - ironicamente, para conversar com a cunhada, sobre a recente descoberta de uma situação de adultério - Anna viaja, de comboio, com a Condessa Vronskaya, mãe de Vronsky, o jovem militar por quem irá cair de amores. 

O falatório na sociedade começa, mas convém relembrar que estamos numa  época em que o divórcio não era tão linear como nos dias de hoje, e o marido de Anna não deseja prestar-se... ou reduzir-se... não sei bem que expressão usar... ao papel de homem enganado e divorciado. Anna engravida do amante, e deixa o casamento e o filho Serioja, com a esperança que o marido lhe dê o divórcio.

Spoiler: isso não acontece. 

Sob a perspetiva do século XXI, Anna Karenina é uma mulher que precisava desesperadamente de uma consulta de psicologia. A segunda gravidez quase a mata e, notoriamente, teve uma depressão pós-partos, aliada ao exílio da alta sociedade. 

Os eventos sucedem-se rapidamente (se excluirmos todas as intensas descrições de tudo e mais um par de botas do autor) e o escalar do desespero de Anna, às vezes, é quase doloroso de ler. 

Intercalando, tínhamos também o arco do irmão de Anna, Oblonski, e a esposa Dolly, e o do abastado proprietário Liovin, loucamente apaixonado pela jovem Kitty, que inicialmente o rejeita por estar apaixonada... por Vronsky. 

Sou franca quando digo que Anna, por vezes, me irritava um pouco. Deixa o marido, não deixa o marido, quer estar com Vronsky, afasta Vronsky, ama-o, mas discute com ele para ver até onde vai o amor que ele sente por ela, tem ciúmes, mas flirta com Liovin... Tantos altos e baixos, faziam com que não me deixasse criar uma verdadeira empatia com ela. Pessoalmente, achei o desenvolvimento de Kitty mais interessante. 

É a mais nova das irmãs e é cortejada tanto por Liovin, apaixonado por ela há anos, e por Vronsky, que não quer nada sério com ela. Mortificada de humilhação quando percebe as intenções de Vronsky, adoece e vai viajar com os pais. Com este afastamento temporário, mete tudo em perspetiva, e acaba por conhecer outras pessoas e realidades. Apercebe-se do que verdadeiramente quer e quando volta a estar com Liovin, cujo pedido de casamento já tinha recusado uma vez, mostra-se mais crescida do que é realmente (18 anos). Mostra fibra quando confrontada com problemas que a poderiam fazer vacilar e sem "mimimis".

O final de Anna é, obviamente, trágico como seria de esperar.

Não dei estrelas a este livro. Fosse qual fosse  a estrela que desse, iria sentir que não estava a ser inteiramente justa comigo e com a minha experiência de leitura ou com a própria obra que é, sem dúvida, um monumento literário. 

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