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domingo, 22 de junho de 2025

Lido: O meu nome é Lucy Barton, de Elisabeth Strout

Dos quatro livrinhos que comprei na Feira do Livro no início do mês, estava mesmo em pulgas para começar a ler O meu nome é Lucy Barton, de Elisabeth Strout.

Já tinha ouvidos uns zunzuns e a capa sempre me atraiu - e nem sou capaz de explicar bem o porquê, sou franca.

Lucy Barton está no hospital. Teve umas complicações depois de uma cirurgia ao apêndice, e acabou ter de ficar internada
Estamos algures nos anos 80, e a monotonia instala-se. Pouco tem falado com o marido e as filhas, e além da rotina das visitas das enfermeiras e do médico, pouco mais faz. 

Até ao dia em que a mãe aparece. Não se  falavam há anos, e aquela presença repentina é, francamente, uma surpresa para Lucy. Mas esta visita não é tão inócua como possa parecer. 

As conversas (cautelosas) que mãe e filha mantêm dão a entender, subtilmente, toda a dinâmica familiar da infância de Lucy: a pobreza, a negligência, as humilhações, a falta de afeto... E são vários os sentimentos que vêm à tona. 

Composto por capítulos curtos, e sempre na primeira pessoa, vamos acompanhando Lucy nas suas memórias, nas descrições carregadas de sentimentos (às vezes) contraditórios e, não são raras as vezes que temos de entender subtextos no que é dito entre as duas, e especialmente, naquilo que não é dito. 

Mas é, ao mesmo tempo, uma história de superação. E de solidão. De compaixão. E de perdão. 

É um livro pequeno - 173 páginas - que nos enchem todas as medidas. 

Encontrei alguns paralelismos com o livro Uma Educação de Tara Westover, apesar deste ser uma autobiografia. 

Tanto Lucy (personagem ficciona), como Tara nasceram e cresceram em comunidades pequenas, religiosas, e tiveram infâncias socialmente solitárias, com famílias emocionalmente distantes. 
Ambas, apesar de tudo, tiveram a força e a coragem, de deixar tudo para trás e procurarem o futuro que mereciam. 

Lucy torna-se uma escritora de sucesso, e inicia aí o seu processo de cura. Tara Westover encontra o seu caminho na educação, e acaba a estudar em Universidades reconhecidas internacionalmente. 

Sei que a história de Lucy Barton não termina aqui. Sei que existem outros livros com esta personagem, e creio, que o ano não termina sem que eu conheça toda a vida dela, até à última página.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Outras leituras em curso

 

Lembram-se do famigerado dia do apagão? Pois bem, depois de ter panicado um bocadinho quando não estava a conseguir falar com o Henrique, e depois desse momento ter passado, o patrão mandou o pessoal mais cedo para casa. 

Como bem mandada que sou, vim. E como o dia estava bom, e não havia muito mais que fazer, estive na varanda a tentar ler um pouco. Decidi-me por um dos livros que comprei na Feira do Livro de Lisboa no ano passado. 

Comecei a lê-lo e passado o apagão, não lhe voltei a pegar. Erro crasso. Este é um daqueles livros que ou bem o lemos de uma vez ou estamos fritos, porque não é um livro linear, e não tem uma história com os "normais" princípio, meio e fim. Há uns dias tentei retomar a leitura e percebi que não há volta a dar: terei de o recomeçar...

Depois, tentarei dar um update dos meus intentos (porque de boas intenções está o Inferno a abarrotar!)...

domingo, 15 de junho de 2025

Feira do Livro de Lisboa

Todos os anos, ir à Feira do Livro de Lisboa é uma perdição. Uma pessoa vai, e volta com um ligeiro rombo na carteira. 

Ao contrário do ano passado que não vim particularmente entusiasmada, este ano, de entre os livros que queria, vi quais eram Livro do Dia e consegui trazer 4 que me estão a deixar em pulgas...

Em primeiro lugar, finalmente ganhei coragem para o Filho da Mãe do Hugo Gonçalves. Dos quatro, este é aquele que me orgulho mais em ter comprado. E creio que deva ser por aí que irei começar...

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Trilogia Arco de um Ceifador, de Neal Shusterman

No momento em que estou a escrever este texto, estou a cerca de 1/4 do terceiro livros da trilogia que iniciou com O Ceifador. 

Há muito que andava com estes livros debaixo de olho depois de meninas do grupo de leitura terem falado muito bem deles.

E, apesar de ainda não ter terminado, arriscam-se perfeitamente a serem dos meus preferidos do ano. Em tempos, escrevi no Instagram que, às vezes, o que precisamos mesmo é de qualquer coisa leve e diferente do nosso dia-a-dia; pode ser uma história de fantasia com um@ protagonista adolescente que domina dragões (ou outro super-poder qualquer), ou até mesmo uma história distópico-fantasiosa em que a morte natural não existe. 

Tenho lido um atrás do outro e estou, verdadeiramente, a arrepender-me dessa decisão, porque, a este ritmo, vou acabar num instante e depois vou ficar a carpir as minhas mágoas...

Mas fiquem com essa sugestão. 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Am I back?

Estarei de volta? Os últimos meses foram loucos, de várias reviravoltas que me consumiram tempo, esse bem tão precioso. 

Não deixei de ler, obviamente, mas a minha disponibilidade para publicar neste espaço tem sido, consideravelmente, menor. 

Desde fevereiro, já li: 
A Filha do Barão e Uma Mulher Respeitável, de Célia Correia Loureiro -juntei estes títulos por ser uma duologia.

Chocolate quente às quintas feiras, de Michiko Aoyama

A balada dos pássaros e das serpentes, de Suzanne Collins

O livro das ilusões, de Paul Auster

A loja coreana das segundas oportunidades, Kim Ho-yeon

Fome, de Knut Hamsun

Os que sucumbem e os que se salvam, de Primo Levi

A Raposa e o Pequeno Tanuki - Vol.1, de Mi Tagawa

Luanda, Lisboa, Paraíso, de Djaimilia Pereira de Almeida

As rosas de Atacama, de Luis Sepúlveda

Os Testamentos, de Margaret Atwood

O Homem Mais Feliz do Mundo, de Eddie Jaku

Genericamente foram livros entre o bom e o muito bom, mas infelizmente, não vou ser capaz de escrutinar cada um deles. Peço, desde já, desculpa por isso.
Obviamente, gostei mais de uns do que de outros. Houve uns que chorei horrores, e outros que, apesar de não serem maus, me esgotavam a paciência... 
Houve uns que foram 5 estrelas sem pensar e outros que ainda hoje me deixam a pensar se gostei muito, pouco ou assim-assim. 

Não vou prometer, vir a ser mais regular nas minhas presenças no blogue. Prometo que tentarei.

Ahh e comprei um Kobo. Uma prenda de aniversário de mim para mim 😁

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Silo, de Hugh Howey

Vi a primeira temporada da série da Apple TV ainda em 2024, e fiquei maravilhada. 

E, em janeiro, quando no clube de leitura "Regaleira de Livros" ficou decidido que o tema mensal era "distopia", achei que, entre as opções que tinha em cima da mesa, era o que mais me interessava.

Temos uma comunidade que vive dentro de um silo subterrâneo há mais de 140 anos. São cerca de 140 andares. No topo, estão as instituições do poder, nos pisos intermédios estão alguns serviços essenciais (por exemplo, o berçário) e nos últimos, estão as profissões, ditas, menores. 

Começamos esta saga com o xerife Holston a ser enviado para a "limpeza". Vivemos num mundo pós-apocalíptico. O mundo, fora do silo, é tóxico e altamente mortífero. Só dentro do silo existe ordem e paz. Contudo, aqueles que, de alguma forma, não cumprem as ordens são mandados "limpar": terão de sair do silo, equipados dentro de um fato especial, com equipamento para limpar as câmaras que permitem aos residentes ver o mundo lá fora. Ninguém sobrevive.

A esposa do xerife havia sido mandada limpar uns anos antes, depois de se convencer que o mundo lá fora não era exatamente como parecia e, que de alguma forma, todos os habitantes do silo estavam a ser enganados. O xerife não aguentou a solidão e pediu para sair. Nisto, entra a nossa protagonista, Juliette Nichols, uma mecânica dos pisos inferiores que, tempos antes, ajudou o xerife num caso. 

Inteligente, impulsiva e reservada, Juliette não é só agrado de todos os detentores do poder: Bernard, chefe da Informática, não esconde que o seu eleito para o lugar era outra pessoa da sua confiança. 

Nisto, a prefeita Jahns e o xerife adjunto Marnes, os únicos da "equipa Nichols" morrem, e Bernard torna-se prefeito interino, e tenta fazer da vida de Juliette um inferno.

Até que num golpe, condena Juliette a ir "limpar". Chega o dia, e Juliette sai do silo. Mas sobrevive. O que aconteceu? Como? O que vai ser do silo com este conhecimento? Afinal o que há lá fora?

Apesar de haver muitas diferenças entre série e livro, estão ambos muito bons. No livro, estou um pouquinho mais à frente em relação a série, mas estou a aproveitar cada segundo destas duas versões da mesma história.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Shuggie Bain, de Douglas Stuart

Este livro de que irei falar não foi a primeira leitura concluída em 2025, mas é um livro que já vinha de 2024, e que só agora terminei.

Trata-se do livro Shuggie Bain, vencedor do Booker Prize em 2020. 

Terminei esta leitura há poucos minutos - entenda-se, no momento em que escrevo este texto e não no momento em que está a ser publicado - e ainda estou meio sem chão. Só me apetece dar colo ao meu filho e prometer-lhe que o irei proteger enquanto as forças não me faltarem.

Shuggie Bain é um jovem adolescente de 15 anos que vive numa residencial rasca e trabalha como atendente num supermercado. Ao mesmo tempo, tenta manter-se na escola, com mais ou menos sucesso.Nota-se que tem brio na sua apresentação, mas infelizmente, algo de muito errado lhe  aconteceu na vida para estar naquela posição.

Nisto, recuamos a 1981 e vamos conhecer Agnes Bain. Uma mulher lindíssima, casada com Shug Bain, um taxista mulherengo. De momento, vivem com os pais dela, e com mais 3 crianças - Catherine e Leeks, filhos do primeiro casamento de Agnes - e o pequenino Shuggie. As traições constantes de Shug fazem com que Agnes, apesar de sentir que merecia mais e melhor, se refugie na bebida. Problema esse que vai ser um dos grandes protagonistas desta história.

Shug farta-se de Agnes e abandona-a numa comunidade de mineiros completamente arruinada. Aos poucos, os filhos de Agnes, primeiro Catherine, e depois Leeks, vão saindo de casa, destroçados com a mãe, numa tentativa de conseguirem vir a ser alguém e sobreviverem aquela existência. Fica Shuggie. O mais pequeno e o mais delicado e deslocado. Sempre desejoso de agradar à mae, sempre desejoso de se integrar, Shuggie tem uma vida que ninguém merece: violência em cima de violência, negligência, a pobreza...

Fiquei altamente aflita com a vida desta criança que foi obrigado a crescer demasiado depressa. Foi angustiante levar esta leitura até ao fim, razão pela qual demorei tanto a concluí-la.

Cada capítulo é uma dor diferente. Há um período da vida de Shuggie em que a mãe, durante um ano, fica sóbria. Mas é como ver um comboio a passar e saber que ele vai descarrilar. Não sabemos o momento exato em que isso vai acontecer, e quando acontece, só nos apetece entrar dentro destas paginas e abanar Agnes até lhe voltar a meter noção na cabeça. 

É um livro que merece, definitivamente, a vossa atenção. Se ainda não o leram, façam-no. Não se arrependerão.

domingo, 26 de janeiro de 2025

Crimes de Inverno, de Agatha Christie

Estou bastante atrasada no que toca à atualização do blogue - nada de inédito em mim, convenhamos. 
Deixa-me bastante frustrada não conseguir alimentar este espaço com regularidade, mas nem sempre tenho a energia necessária para dar conta de tudo o que tenho em mãos diariamente, e, é inevitável, que alguma coisa fique para trás.

O último livro que li, ainda em 2024, foi um livro de contos de Inverno e de Natal de Agatha Christie, "Crimes de Inverno".

No mês de dezembro, no clube de leitura "Regaleira de Livros", a que pertenço, o tema escolhido foi Natal e, entre as opções que tinha, apeteceu-me revisitar personagens que me são tão queridas e familiares. Nem todos os contos eram com Poirot ou Miss Marple. Também tínhamos os Beresford e outros detetives amadores saídos da imaginação de Christie.

Fiquei de coração quentinho, porque não sendo uma novidade, foi um livro que me deixou confortável, num mês habitualmente tão atípico como é Dezembro. 

Christie, para mim, ainda continua a ser a rainha do género. Mesmo em histórias curtinhas, consegue manter a qualidade que eu lhe é reconhecida. Não sou a maior fã de contos... Fico sempre com a impressão que falta qualquer coisa, mas agora não senti isso, e deixei-me envolver.

Crimes de Inverno. Não se esqueçam do nome para o próximo Natal!

sábado, 14 de dezembro de 2024

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan

 


Era impossível ler um livro mais bonito e imersivo do que este "Na Cabeça de Sherlock Holmes".

Este livro foi comprado no Amadora BD, no mês de outubro. Quando terminei "A Floresta Sombria" de Liu Cixin não me estava a apetecer lançar-me de cabeça em outro livro grande e complexo. Decidi que iria usar uma BD como "limpa palato".

A história  é simples: na Londres de 1890, é encontrado, na rua, um homem. Estava vestido apenas com pijama, magoado, sem memória... Com as horas a passarem, ele conseguiu dizer que era conhecido do Dr. Watson. 

Mais uma vez, encontramos um Sherlock Holmes aborrecido, sem ter nenhum mistério a que se dedicar... Nisto, batem à porta e é a polícia que traz consigo o misterioso homem, na esperança que Watson os ajude a identificá-lo. Trata-se, na verdade de Herbert Fowler, um médico que exerce no antigo consultório de Watson.

A aparência de Fowler e as circunstâncias que rodeiam este surgimento despertam Holmes do torpor em que se encontrava. 

A narrativa envolve circo, artes performativas, a guerra contra o ópio, China vs Grã Bretanha. E claro a presença dos  incontornáveis Mycroft e Lestrade.

Além da história ser uma verdadeira homenagem a Conan Doyle (a história não é um original do autor, mas !), a arte é perfeita. Os pormenores são perfeitos. A forma como o leitor é puxado a ter um papel ativo na resolução do mistério é perfeita. As cores usadas são perfeitas. 

Não posso falar muito para não estragar a surpresa que é ler este livro, mas cada página traz um elemento capaz de nos deixar boquiaberto. 

Não posso deixar de destacar a capa maravilhosa. Temos o contorno do rosto de Holmes, em recorte, e o desenho de baixo é uma representação daquilo que será o cérebro do mais afamado detetive britânico.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

A Floresta Sombria, de Liu Cixin

Consegui terminar A Floresta Sombria, o segundo volume da trilogia "O Passado do Planeta Terra", habitualmente conhecida como "O Problema dos Três Corpos". 

Já tinha lido o primeiro volume há bué bué de tempo e o entusiasmo por esta trilogia voltou com a série da Netflix. Aqui a menina, armada em Chica, achou que conseguia acompanhar o volume 2 com base na série. Erro crasso. 

Sim, meu amigos, também cometo erros. Eu sei, um choque! Acontece que reli (na diagonal!) o volume 1 antes de me lançar ao 2. No final do ano, não posso esquecer de acrescentar esta releitura, que não contabilizei no GoodReads Reading Challenge.

O planeta Terra foi ameaçado de invasão por uma raça alienígena do planeta Trisolaris, que já arrancou em força na nossa direção. Irá chegar em cerca de 400 anos. Os humanos unem esforços para elaborar um plano para conseguir eliminar a frota alienígena, preferencialmente, antes dela chegar à Terra. Quatro séculos parecem muito tempo, mas estamos em guerra.

Foi assim lançado o Projeto Clausura em que os 4 melhores pensadores/estrategas do Mundo vão trabalhar nesse plano para atingir os nossos inimigos. Luo Ji, um perfeitamente desconhecido astrónomo, é um dos escolhidos, mas são várias as dificuldades com que os Enclausurados se deparam. Luo Ji, em especial, tendo em conta que é o principal visado das várias tentativas de homicídio por parte de Trisolaris, e dos seus colaboradores.

Este livro, à semelhança do primeiro, não é simples de ler por uma razão: trata-se de ficção científica em todo o seu esplendor. Em cada página são lançados conceitos e ideias muito específicos, explicações científicas que embora tenhamos acesso à sua clarificação não ficam especialmente... claros...!

Contudo, se ultrapassarmos o facto de não sermos cientistas de topo, e nos focarmos na narrativa principal, temos aqui um livro absurdo de bom. Liu Cixin criou uma ideia que já vimos em vários filmes, mas aqui, não temos o herói que salva o dia com um lança-chamas numa mão, um cigarro no canto da boca e a outra mão na cintura da heroína bonitona. Temos protagonistas que hibernam por 200 anos (sim, de repente, avançamos 2 séculos) e acordam numa sociedade altamente avançada, onde temos frotas espaciais (3, aliás!) e um desenvolvimento tecnológico impensável. Temos protagonistas com dúvidas, que entram em missões suicidas, que enfrentam a desconfiança e o ódio da comunidade que estão a servir.

É uma trilogia para se ler. Com calma, mas sem interrupções. Levar tudo a eito, como se diz.